O ocidente sempre teve ótimas ideias para construir mundos imersivos de RPG, principalmente quando falamos do tema fantasia. Mas carece de algo mais próximo da realidade do tema medieval. Eis que a franquia Kingdom Come: Deliverance surgiu, mas sem furar a bolha de popularidade, se tornando algo mais para entusiastas do gênero.

Quando tivemos os primeiros trailers de Kingdom Come: Deliverance IIpercebi o quão interessante essa aventura poderia ser. Ai surgiram as primeiras impressões extremamente positivas, que se refletem em números, com 2 milhões de cópias vendidas em um jogo de nicho, que conseguiu estourar a sua bolha. Será que o jogo é tudo isso mesmo? Descubra em nossa análise a seguir.

Guerra e Vingança

Minha experiência com a história de Kingdom Come: Deliverance II foi bem especial, pois tinha certo receio de começar pela sequência e não entender muito sobre o enredo, mas desde as primeiras horas de aventura somos apresentados aos personagens principais, além das motivações dos protagonistas e até mesmo os antagonistas.

Logicamente se você jogou o primeiro, a sua experiência será melhor, mas a Warhorse Studios criou ótimos artifícios para introduzir os principais elementos da história. Começando pelas motivações de Henry, que ao longo da sequência reviverá pontos marcantes da sua história, através de flashbacks e pesadelos, que podem colocar dúvidas ao que estamos fazendo.

Hans Capon é outro personagem mega importante para o desenrolar da história, além, é claro, de funcionar muito bem com Henry, garantindo viradas na história e pontos de partida para outros sub enredos. Mais personagens são apresentados como a misteriosa Katherine, que fica sempre se espreitando pelas sombras, além de também interagir bastante com Henry, nos causando sempre uma dúvida do que ela está por trás.

Existem outros personagens principais, que não vou entrar em muitos detalhes, mas que roubam a cena em muitas missões, então prepare o seu coração e não se apegue, pois existem consequências pesadas para muitas das nossas ações, sendo um enredo bem adulto.

Além dos dramas interpessoais dos protagonistas, temos a trama central que é a desavença entre os reis Venceslau e Sigismund, que compartilham de ideais diferentes e lutam por território. Em meio a esses problemas, o Rei Sigismund tenta convencer os lordes do reino a se juntarem a sua causa que é contra o Rei Venceslau. Henry busca por vingança contra Sigismund, que possui um passado contra o nosso protagonista.

Os vilões são tão incríveis quanto os protagonistas, pois te fazem odiar, além de apresentar suas verdades, que podem te colocar dúvidas se tudo que estamos fazendo está certo.

A história possui muito de alianças, espionagem, politica, aventuras e muito para nos prender em jogos de histórias quase infinitas como The Witcher 3. Separe boa parte do seu tempo, pois você irá se prender por dias ao invés de horas, algo que vale a pena cada centavo a se investir.

RPG em sua mais pura essência

Kingdom Come: Deliverance II é um uma experiência forte no que é ser um RPG medieval mais hardcore, pois não é uma obra tão fácil de se jogar, algo que necessita de treinamento, empenho e até mesmo estudo das suas principais funcionalidades.

Começando pela nossa incrível arvore de habilidades e atributos, que é o mais próximo do que teríamos na vida real. Henry possui uma quantidade insana de habilidades passivas e atributos que evoluem dinamicamente. Sim, conforme usamos uma determinada arma ou executamos ações, ganhamos experiência e pontos para serem distribuídos. Então se você passar horas, dias, mas não treinar determinados pontos, continuará com fraquezas.

O combate do jogo precisa ser dominado com o tempo, e para isso você deverá treinar com mestres da espada, lutar bastante e tomar cuidado para não morrer sem dignidade. Falo com propriedade, que nem mesmo os souls me faziam sentir tanta dificuldade, mas depois que você domina a arte da espada, você sentirá prazer em duelar com qualquer inimigo. Além do combate franco, podemos atirar com flechas, balistas e até mesmo um parente da arma de mão, que coloca pólvora e uma bola de chumbo para atirar em nossos inimigos.

Henry não é somente um guerreiro, ele pode roubar outros NPCS ou mesmo baús podem ser desbloqueados através da arte do lockpick, que pode ser aprendido com dedicação ou livros. Na hora de destravar baús ou roubar as pessoas, surge um minigame para cada ação que conforme passamos o tempo e desbloqueamos novas habilidades passivas, fica ainda mais tranquilo de concluir.

Existem elementos de sobrevivência na jogabilidade, então devemos nos atentar nos medidores de fome, sono, além dos efeitos tanto positivos quanto negativos, que são vários, como uma intoxicação alimentar, que deve ser tratada com poções.

A alquimia é uma arte incrível e aqui é levada a um outro patamar, com um gameplay incrível que envolve leitura de livros de receitas, separação de ingredientes, tempo de cozimento e muita diversão para criar poções cada vez mais poderosas.

Henry pode equipar uma quantidade incrível de espadas, maças, escudos, armas de longa distância e espaços de vestimentas bem complexas. Aqui você tem que pensar em tudo, então não adianta equipar uma armadura leve que não aguenta dano nenhum ou mesmo sair todo equipado para fazer uma missão na surdina e fazer muito barulho, então escolha bem os seus equipamentos.

Além de resolver as coisas na violência, na maior parte do tempo podemos partir para a conversa, algo que vai exigir tempo e insistência para que você consiga resolver na paz. Assim como devemos melhorar nossos atributos físicos, a eloquência e persuasão devem ser melhoradas, então conversar bastante e ler ajuda na hora de ser uma pessoa mais desenrolada.

A era medieval é um lugar sujo, então assim como a fome e o sono devem ser controlados, não podemos deixar de tomar banho, para que outras pessoas não fiquem com nojo. Esse estado também interfere na hora das pessoas te notarem, então caso for agir na surdina, não poderá estar fedendo, para que ninguém sinta a sua presença através do odor.

O salvamento de progresso é algo mais hardcore, então procure uma bebida especial ou durma para salvar o seu progresso.

Uma vida na era medieval

A vida nunca foi fácil na era medieval, e para Henry conseguir dinheiro para comer, lugar para dormir, se vestir e curtir os simples prazeres da vida, ele pode trabalhar como ferreiro, pode carregar sacos de mantimentos para a taverna e muitos outros ofícios.

Henry possui raízes em uma forja, pois seu pai o ensinou sobre o oficio, e pode ser explorado para consertar armas e armaduras, além de criar projetos únicos, que podem ser desbloqueados em missões secundárias.

Kingdom Come: Deliverance II respira a era medieval, então todos os elementos famosos estão presentes para criar uma grande imersão para o jogador. Henry participará de duelos, bailes, torneios e tudo o que seu olho pode enxergar no mapa gigante.

Além das missões principais, existem missões secundárias e atividades que irão te fazer esquecer da sua missão principal, pois trazem arcos próprios de história, que além de serem recompensadores, podem expandir o nosso conhecimento desse mundo.

Lembra que citei o trabalho de ferreiro e os projetos, então, explorar o mundo é essencial. Durante nossas aventuras encontramos projetos e materiais únicos, que servem para criar as melhores builds.

Cavalgar faz parte da nossa jogabilidade, afinal, como o mapa é enorme, podemos ir a cavalo para encurtar distâncias e fugir de possíveis encontros indesejados com bandidos nas estradas. Henry também possui um cachorro, que pode ser desbloqueado em uma missão secundária. O animal consegue nos ajudar com comandos para procurar coisas ou mesmo atacar inimigos. Ambos os animais fazem parte da evolução do personagem, então caso use bastante essas funções, são desbloqueadas novas skills.

Nosso cavalo pode ainda ser equipado com selas, ferraduras e ainda trocado por outros cavalos, que podem ser adquiridos ou roubados.

Excelência técnica

Kingdom Come: Deliverance II é um grande exemplo para a indústria de jogos, pois segundo algumas informações teve um custo baixo de produção, se comparado a outros jogos do mercado. Mas mesmo com um custo baixo, elevou o patamar para algo grandioso.

Os gráficos são incríveis, pois trazem aquele sentimento de que estamos jogando uma obra dessa geração ou pelo menos do que deveria ter na maioria dos jogos. A Cry Engine é o motor gráfico usado para dar vida a esse mundo, e realmente faz toda a diferença, tanto nas texturas das paisagens, algo que a engine sempre foi muito boa, quanto na modelagem dos personagens que são incríveis.

Ainda que o mundo seja enorme, a distancia dos objetos não compromete, então dificilmente você verá muitas falhas de carregamento, mesmo em objetos mais distantes. Outro ponto que chama a atenção é a performance, que não deixa a desejar em nenhum momento, mesmo no modo com a resolução mais alta. Em minhas muitas horas jogadas não tive quedas de frames, algo louvável para um jogo recém lançado.

O som também é algo majestoso, com uma trilha que nos faz sentir dentro da era medieval, e em muitas vezes torna alguns momentos ainda mais épicos. As legendas cumprem seu papel com maestria, pois nos fazem entender todo o desenrolar dos acontecimentos.

Infelizmente, não existe dublagem, mas isso é compensado com um ótimo trabalho de localização de textos, tanto para livros quanto para os menus que são bem complexos.

Opinião

Kingdom Come: Deliverance II é um dos melhores RPGs ocidentais dos últimos anos, pois resgata as raízes do que o gênero sempre foi, que é nos fazer mergulhar em um mundo vívido e cheio de tantas coisas boas para se fazer, que acabamos nos perdendo e fica até difícil voltar para as missões principais.

A história é incrível e cheia de viradas rápidas no enredo, que nos prende e vicia nas melhores das intenções. A quantidade de personagens interessantes é insana, pois são cheios de complexidade, além de serem muito bem escritos, pois possuem suas convicções, além é claro de jogarem muito bem a parte politica. As missões secundárias e atividades fazem sentido, pois integram aquele mundo que é vivo ao extremo. Quem jogou The Witcher 3 saberá do que estou falando. Você pode caminhar pela mapa extenso, e do nada coisas acontecem, então sempre é interessante explorar.

A jogabilidade também é um dos pontos altos, pois por mais que seja complexa nas primeiras muitas horas, a medida que nos alimentamos com mais treinamento e conhecimento, tudo fica ainda mais prazeroso, seja lutando com espadas, atirando com flechas ou mesmo roubar e arrombar fechaduras.

Kingdom Come: Deliverance II entra para o seleto hall de melhores jogos da geração, no qual são um marco para que outros jogos tentem repetir o que a obra deixou de legado.

Nossa nota para Kingdom Come: Deliverance II

Plataformas: Xbox Series X|S, Cloud
Publicado por: Deep Silver
Desenvolvido por: Warhorse Studios
Data de lançamento: 03/02/2025
Opções de compra: Microsoft Store

*O jogo foi cedido gentilmente pela Deep Silver para a realização desta análise.

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About Author

Desenvolvedor Web e Analista de TI, gamer assíduo desde a época do Atari, fã de Metal Gear(menos o Phantom Pain) e Gears of War. Ter a oportunidade de trabalhar um pouco com games é um sonho realizado. Falta só ir para E3!!!

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