Visions of Mana é a mais nova entrada da franquia Mana, cujo último jogo tem mais de 15 anos. Para quem não conhece, a franquia fez sua estreia em 1991 como o spin-off Adventure da franquia Final Fantasy. São 14 jogos e nenhum deles chegou para consoles Xbox, mas isso muda com Visions of Mana, que também promete retornar a franquia às suas raízes no gênero RPG de ação.
Eu nunca havia jogado nada da franquia Mana e estava bem curiosa acerca de uma obra tão querida por muitos jogadores e me animei com a proposta voltada para a ação, com combates 3D em tempo real, um belo universo e personagens que pareciam muito carismáticos.
Será que com essa estreia da série Mana no Xbox a Square Enix consegue conquistar mais um pouco dos jogadores do console da Microsoft?
Uma história enigmática e com uma premissa bastante controversa
A história de Visions of Mana me fisgou desde o início com sua premissa bastante controversa. A cada quatro anos os espíritos escolhem pessoas que deverão sacrificar sua alma para a Árvore de Mana, de forma a rejuvenescer o fluxo de mana daquele mundo e mantê-lo vivo. Essas pessoas são chamadas de Alms e parecem aceitar com orgulho tal fardo, uma vez que seu sacrifício irá manter as pessoas que ela ama com um futuro pela frente. Por outro lado, esse sistema também gera alguns questionamentos, pois algumas, poucas, pessoas, não aceitam ter que perder as pessoas que ama para esse sacrifício. Durante toda a jornada ficava me questionando o motivo desse sistema tão injusto, e misterioso, sendo algo que me manteve imersa na história até o seu fim.
O personagem principal se chama Val, ele é um Soul Guard, que possui a responsabilidade de levar essas Alms até a Árvore de Mana, e sua jornada começa ao lado de Hinna, sua amiga, e claro interesse amoroso, que foi escolhida com Alm of Fire.
Durante essa jornada, Val precisa buscar as outras Alms para ajudá-las em sua peregrinação até a Árvore de Mana, e esses personagens enriquecem muito a narrativa. Cada um deles possui suas próprias histórias, que se misturam com as de seu povo, além de possuírem personalidades distintas. Essa caminhada, que inicialmente era apenas voltada ao dever, evolui para uma bela amizade, conforme seus destinos entrelaçados pelo destino os levam para algo cada vez maior. O melhor de tudo é que todas essas tramas se misturam de forma bem natural, deixando a história muito interessante de acompanhar. Os personagens também são muito carismáticos, o que faz com que nos importemos com seus destinos.
Apesar de uma trama bem cativante, tenho dois pontos que me incomodaram bastante. O primeiro deles é a quantidade excessiva de diálogos e cenas. Eu sei que é uma característica de muitos JRPGs, mesmo os voltados para a ação, ter uma quantidade grande de diálogos, mas eu achei isso um pouco excessivo em Visions of Mana. Em muitas sequências eu mal tinha um pouco de liberdade para explorar o mapa e já vinha mais uma longa cena com dezenas de diálogos. Muitas vezes me senti tentada em pular, mas eu queria saber mais da trama, então resisti. Isso sem falar que as vezes dava um soninho…. Essa característica do jogo pode ser um problema para aqueles que não gostam muito de ler textos, principalmente por conta da dona Square Enix não ter feito o dever de casa, mais uma vez, e o jogo não ter nem ao menos legendas em Português do Brasil.
Outro ponto é que mais para o final do jogo, ele começa a introduzir muitas informações e também acelerar, e simplificar, muito os acontecimentos, de forma que me passou um pouco o sentimento de que houve uma correria para terminar o jogo. Talvez os prazos estivessem curtos? Não sei, mas para mim não soou natural.
Ambos os problemas tiram um pouco do brilho na narrativa de Visions of Mana, mas ainda assim é uma jornada muito interessante de acompanhar até o final.
Um mundo vibrante e cheio de mecânicas interessantes
O combate de Visions of Mana é rápido e cheio de possibilidades, com mecânicas inteligentes e que dão ao jogador diversas opções de montar as mais variadas estratégias. Você pode montar um grupo com até três personagens, que podem ser alternados com apenas o toque de um botão. Isso é ótimo, pois podemos jogar com estilos de combate diferentes, algo deixa tudo sempre dinâmico. Como parte dos controles básicos, temos ataque normal, ataque especial, pular e esquivar, mas isso é apenas o feijão com arroz, pois o combate brilha com uma série de habilidades e efeitos únicos, que falarei mais adiante. Também existe um ataque especial de cada classe, que libera uma habilidade com efeito devastador e que possui até uma cena especial.
Apesar da jogabilidade voltada para a ação, existe um menu que pausa o jogo, no qual também podemos usar habilidades, mas para mim é mais útil para usar consumíveis para preencher vida e mana, curar status ou reviver aliados.
Cada um desses personagens jogáveis possui até três tipos de armas que podem equipar, cada uma delas atrelada a um tipo de classe. Esse sistema faz parte dos Elemental Vessels, principal mecânica do combate de Visions of Mana. Existem até nove desses Vessels, que podem ser equipados por qualquer personagem, mudando completamente seu estilo de jogo e sua classe. Você pode desbloquear habilidades de cada Vessel e ir acumulando até mesmo habilidades de outros, expandindo muito as possibilidades de combate, com combinações absurdamente poderosas. Ainda assim, você só pode acessar a habilidade especial do Vessel que está ativo.
Outro fator interessante é que conforme mudamos de classe, também mudamos a arma do personagem, o que também renova o combate. Val, por exemplo, equipa um espadão em determinadas classes, como um clássico guerreiro, mas se transforma em um tradicional tanque em outras, usando espada e escudo. Mudanças que deixam o combate sempre com um ar fresco.
Adicionando ainda mais camadas para o combate temos as Seeds, que adicionam habilidades passivas e até mesmo habilidades muito interessantes, que expandem ainda mais as possibilidades para montar builds únicas para cada personagem. Elas podem ser obtidas em missões, baús, batalhas e até mesmo trocando “almas” de inimigos derrotados por Seeds mais fortes.
Um conjunto de sistemas inteligentes que nos fazem pensar em cada passo nas arenas de batalha, tudo muito divertido, rápido e sem muitas complicações.
Os inimigos são bem variados e com estilos de combate bastante distintos, alguns deles bem difíceis e que irão requerer que você tenha entendido bem as mecânicas acima. Ainda assim, é nas batalhas contra os Chefões que o gameplay de Visions of Mana realmente brilha. Eles possuem bons níveis de dificuldade e mecânicas únicas, que nos deixam com os olhos vidrados na tela, pois não basta apertar os botões, mas entender como ele ataca para não ser derrotado facilmente. Os inimigos possuem fraquezas e resistências elementais, algo que irá requerer mudar classes para infligir dano eficiente. Uma pena que uma vez em combate, você não pode mais alterar os Vessels e personagens ativos no grupo. Dessa forma, só poderá mudar essa estratégia caso seja derrotado ou veja que precisa fazer a mudança no meio da luta e resolva dar Load em um save anterior.
Eu realmente gostei muito dos chefes, pois possuem mecânicas criativas e que deixam o combate sempre divertido. Caso esteja achando as batalhas muito fáceis, ou difíceis, pode alterar a dificuldade em qualquer momento que estiver fora de combate.
Visions of Mana possui um mundo cheio de segredos e belos locais, com variados cenários, para se explorar. Existem marcações no mapa que incentivam o jogador a explorar cada canto. Muitos locais só podem ser acessados mais tarde, com o desbloqueio de determinados Vessels, então você com certeza irá voltar depois em diversos mapas caso goste de fazer tudo. O jogo também possui um sistema de viagem rápida dentro desses mapas, algo que facilita a navegação.
As atividades são variadas, com arenas de batalha cronometrada, masmorras (aqui chamadas de Ruínas) com desafios mais voltados para o fim do jogo. Também existem missões secundárias, que recompensam principalmente com dinheiro e Seeds. Não achei as missões secundárias muito interessantes de fazer, pois os objetivos geralmente são muito simples, como matar determinados inimigos ou coletar algum item, com poucas variações, além disso as recompensas não são muito atrativas e depois de um tempo não me senti incentivada a completá-las mais.
Algo que me chamou a atenção é que os primeiros mapas são bem grandes e com muitas áreas para explorar, no entanto quando o jogo chega a um determinado momento da trama, não só a história parece mais corrida, como disse anteriormente, mas também os mapas se tornam muito lineares, mais uma vez me dando a impressão de que o desenvolvimento do jogo foi mais acelerado no final.
Ainda assim, Visions of Mana possui um mundo incrível de explorar, com um combate viciante e divertido, que pode facilmente te oferecer cerca de 30 horas para fechar sua história. Tempo esse que pode aumentar ou diminuir, dependendo do nível de dificuldade que escolher ou seu estilo de exploração.
Gráficos e Som
Os cenários de Visions of Mana são belíssimos, com um estilo de arte extraordinário e que confere uma atmosfera única para nossa jornada. Eu realmente me sentia explorando um universo totalmente novo e cheio de suas particularidades e isso foi muito potencializado por uma arte tão especial.
Os personagens também são muito bem desenhados e trazem suas personalidades com força em suas caracterizações. As vozes são muito boas e cativam com a interpretação de seus atores, conferindo ainda mais carisma aos personagens. O único problema para mim estava relacionado a sincronia labial, uma vez que por diversas vezes a boca deles simplesmente não mexia durante seus diálogos, ou se movimentava muito fora do tempo, atrapalhando a imersão.
O jogo possui dois modos gráficos: Priorizar performance ou priorizar qualidade de imagem. No Performance a resolução continua muito boa e o framerate estável, com problemas pontuais de performance, nada muito grave. Já no modo qualidade de imagem eu achei que não vale a pena ganhar pouca resolução, com perdas maiores de framerate. Joguei no Performance e foi uma ótima escolha.
Os loadings, apesar de rápidos, acontecem em muitas ocasiões, o que quebra bastante o ritmo da aventura, o que não foi uma escolha muito legal de desenvolvimento. O jogo também travou e fechou por algumas ocasiões o que me fez perder um pouco de progresso, então sempre que puder salve seu jogo.
A trilha sonora é muito boa e preenche bem todos os momentos da jornada.
Opinião
Apesar de ser minha primeira experiência com a franquia, Visions of Mana me recebeu de braços abertos. Ele oferece um RPG de ação clássico, com uma história envolvente, personagens carismáticos e fáceis de gostar, com uma trama interessante até o seu final. Mesmo com a quantidade excessiva de diálogos e um ritmo muito acelerado mais para o se final, ele ainda consegue manter o jogador engajado, mas ainda acredito que esse excesso de textos e diálogos, que somados com a falta de localização para o Português, pode afastar muitos jogadores.
O combate é viciante, com muitas mecânicas que colocam a ação na mão do jogador de uma forma muito inteligente e criativa. O mundo do jogo é vibrante, com uma arte belíssima que potencializa a fantasia desse mundo único.
Visions of Mana é uma ótima porta de entrada para a franquia no Xbox e é uma boa opção para os jogadores que curtem uma estrutura de JRPG de ação mais clássica.
Caso queira testar o jogo por si mesmo, existe uma Demo dele na Microsoft store para Xbox Series X/S e PC. Baixe aqui.
Plataformas: Xbox One e Xbox Series X|S
Publicado por: SQUARE ENIX
Desenvolvido por: SQUARE ENIX
Data de lançamento: 10/09/2024
Opções de compra: Microsoft Store
*O jogo foi cedido gentilmente pela Square Enix para a realização desta análise.