Ícone do site Xbox Power

Análise – Senua’s Saga: Hellblade II

Quando me aventurei por Hellblade: Senua’s Sacrifice em 2018 eu fiquei impactada pela experiência realmente impressionante, com belos gráficos, história visceral, combate desafiador e um trabalho de áudio impecável, nos colocando dentro da mente perturbada da protagonista. Com Senua’s Saga: Hellblade II a Ninja Theory foi além, com uma experiência ainda mais profunda e realista, entregando uma jornada grandiosa e que ficará grudada na memória em todos que mergulharem fundo nela.

Hellblade II marca um novo capítulo na jornada da conturbada Senua, dessa vez proporcionando um novo nível de exploração da trama e do seu universo. O título consegue ir além de uma visão pessoal da psicose para criar uma experiência épica, mostrando como a loucura e o sofrimento moldam mitos, deuses e religião, tudo dentro de uma profunda viagem pela mitologia nórdica, com algo ainda mais detalhado, e perturbador, do que o visto no primeiro jogo.

Foi uma jornada e tanto e venho compartilhar minha análise com vocês.

Uma trama ainda mais densa e impactante

No primeiro jogo, acompanhamos a jornada da guerreira Senua, que extrapolou todos os limites para salvar a alma de seu amado, enfrentando não apenas os perigos que surgiram em seu caminho, mas também as batalhas de sua mente, já que ela sofre de uma psicose profunda. Com Senua’s Sacrifice, a Ninja Theory, mesmo com poucos recursos, conseguiu entregar uma trama complexa e rica em detalhes diferenciados. Caso não tenha jogado o primeiro jogo, existe um belo resumo bem no início de Hellblade II para te colocar no clima da saga, o que foi uma adição perfeita.

Em Hellblade II, Senua segue lutando para controlar sua psicose, mas dessa vez sua jornada vai além de uma batalha pessoal, pois ela vai para longe em busca de destruir os traficantes de escravos que estão dizimando seu povo. Ela então se deixa capturar para destruir os nórdicos de dentro, a fim de dar um fim aos ataques. Sua promessa agora é algo maior, é proteger os seus, e isso dá ainda mais profundidade e complexidade para a protagonista. Ela vai avançar por esse território hostil e desconhecido com todas as suas forças para cumprir o que prometeu.

Além dessa característica mais ampla, a jornada de Senua não é mais tão solitária. Além das vozes das Fúrias, que seguem em sua cabeça, ela agora encontra uma série de personagens que não só adicionam mais para a trama, como mostram o amadurecimento da personagem no controle de sua psicose, pois ela precisa ser forte para ajudar seu povo e assim cumprir sua promessa. Ela também se envolve com os dramas dessas pessoas, adicionando mais camadas para a profundidade de Senua.

Tudo com muita sensibilidade, já que agora o foco não é apenas em uma personagem com um problema mental, mas alguém que mesmo que ainda tenha que lidar com sua psicose, também está mergulhando na luta pelo bem de seu povo e também daqueles que encontra em seu caminho. É impossível não ter empatia pela jornada de Senua, que cresceu muito como uma personagem ainda mais rica e profunda, nos deixando imerso nas batalhas que enfrenta.

As vozes das Fúrias seguem sendo parte importante do desenvolvimento narrativo, mas agora além de suas frases ácidas julgando Senua, elas também demonstram outros sentimentos, até mesmo torcendo por ela em diversos momentos. Isso também destaca o crescimento da protagonista em relação a ela mesma, se conhecendo mais e conseguindo se controlar mais.

O trabalho da Ninja Theory é brilhante em cada detalhe de sua trama e personagens. Aqui também o estúdio buscou excelência, trazendo uma parceria com o professor Paul Fletcher, da Universidade de Cambridge, um especialista em Neurociência, além de também ter contato com pessoas que viveram experiências de psicose. Adições que ajudam a retratar esse estado mental com mais fidelidade, deixando a narrativa mais autêntica e imersiva possível.

Uma coisa é certa, após fechar a história, você estará impactado de alguma forma, de tão impecável foi o trabalho do estúdio. Ele se trata daqueles raros jogos que entregam uma jornada realmente incrível e intensa de mergulhar.

Ainda vale adicionar que o jogo possui um fator replay bem interessante adicionando novos narradores após a sua finalização, que oferecem uma visão adicional e que enriquece ainda mais a trama e o universo criado.

Jogabilidade brutal e com significado para a jornada de Senua

A jogabilidade de Senua’s Saga: Hellblade II é praticamente a mesma do primeiro jogo, focado em ser uma experiência narrativa, na qual andamos pelos cenários, resolvemos puzzles e nos envolvemos em combates ocasionais. Tudo sem nenhum tipo de interface, para deixar a imersão no máximo, com foco total na narrativa e no mundo que rodeia Senua.

A exploração está com uma imersão sem igual, graças ao trabalho audiovisual impecável, mas falarei desse aspecto mais adiante. O que importa dizer aqui é que sentimos cada passo que Senua dá nessa terra hostil, potencializado tudo o que acontece ao nosso redor, tornando tudo ainda mais realista e nos transportando para essa aventura cheia de mistérios e conflitos. O ritmo pode até ser lento para alguns, mas basta mergulhar na proposta do jogo, que cada passo dela passa a ter significado e importância, algo que o estúdio fez com maestria. Tudo importa em Hellblade II para nos colocar na pele de Senua e ter empatia por ela.

Outro ponto importante são os puzzles, que seguem a mesma linha do primeiro jogo, sendo necessário encontrar o ponto certo para focar nos desenhos em uma visão correta para alinhá-los e assim prosseguir. Outros nos apresentam um interessante universo espelhado para alterná-lo para chegar em nosso objetivo. Nenhum deles é muito complicado ou desafiador, mas fazem parte de forma muito inteligente de toda a jornada, não nos tirando da imersão, mas enriquecendo ainda mais tudo o que está sendo proposto na tela.

Quanto ao combate, ele segue a mesma linha de Senua’s Sacrifice, sendo momentos pontuais e com um estilo todo único. Hellblade II não se trata de um jogo de lutas, mas cada batalha faz parte da criação daquele mundo e do crescimento de Senua, dessa forma, assim como o estúdio havia dito antes do lançamento, cada momento de combate é calculado e intencional, de forma a nos colocar na pele dos desafios da personagem e sentir o crescimento dela à medida que ela supera esses obstáculos. Isso traz peso e significado narrativo para cada batalha, e até nisso a Ninja Theory fez um trabalho meticuloso, entregando uma intensidade sem igual para cada batalha, criando uma atmosfera brutal, com uma sensação de perigo mais presente e com trechos de combate mais presentes. É interessante notar que conforme o jogo avança, essas batalhas também ficam mais intensas, o que faz sentido devido a ligação profunda com a narrativa.

O combate em si não é simples, mas dominar suas mecânicas é um pouco mais complexo. Você deve entender o estilo de cada inimigo para vencê-lo. Alguns requerem ataques mais rápidos, outros só serão feridos com ataques pesados, já outros irão te obrigar a aparar com precisão ou esquivar rápido para atacar na sequência. Isso torna cada batalha única e desafiadora.

Senua ainda possui seu espelho, que podemos usar para desacelerar o tempo e liquidar nossos adversários com múltiplos golpes. Ela possui chances de levantar em batalha caso seja derrotada, mas são chances limitadas. Me surpreendi por ter caído algumas vezes, o que demonstra que os inimigos estão mais agressivos no segundo jogo, mas tudo é uma questão de prestar atenção no padrão de cada inimigo para atacar na hora e da forma correta, como fomos acostumados nos jogos Souls.

O ritmo das batalhas é lento, mas brutal, e a trilha sonora deixa tudo ainda mais impactante, dando gosto de entrar em cada luta física de Senua.

De uma forma geral, Hellblade II segue o mesmo esquema do primeiro jogo, o que faz sentido, pois é um conjunto de atributos que tornaram Senua’s Sacrifice uma experiência tão marcante e especial, ainda assim, não espere que seja mais do mesmo, pois a Ninja Theory se esmerou para extrapolar seus limites em cada parte, entregando um jogo com uma jogabilidade que possui impacto na narrativa, criando uma atmosfera única para toda a jornada.

Um trabalho audiovisual impecável

Um dos pontos que mais chamaram a atenção de Hellblade II, desde a sua revelação, são os seus gráficos, e o quanto a Ninja Theory deu aula do uso do motor gráfico Unreal Engine 5 e, para mim, é o melhor jogo utilizando a nova engine até o momento. O estúdio se colocou a prova para entregar uma jornada o mais realista possível para o segundo jogo de Senua, e surpreendeu, sendo primeiro jogo que realmente me fez sentir em uma nova geração de consoles com o meu Xbox Series X.

Mas o estúdio também foi além para entregar um realismo sem igual, viajando até a Islândia com diversas equipes de arte e áudio para documentar fotografia, fotogrametria e combinando-as com dados de satélite, para recriar grandes áreas da paisagem, algo que foi essencial para entregar ambientes com o maior realismo possível. Tudo possui detalhes impressionantes, enriquecendo, ainda mais, a atmosfera, bem como a narrativa do jogo, tornando tudo ainda mais impactante e com significado.

Também existe um insano modo foto com as mais diversas e avançadas opções para capturar cada momento dessa jornada. Para fins de trazer as minhas capturas o mais fiel possível a experiência do jogo, eu não utilizei a ferramenta para capturar as imagens dessa análise.

Esse trabalho meticuloso também está presente na movimentação e expressões faciais dos personagens, que são assustadoras de tão reais, nos deixando muito imersos em toda a experiência, o que é um dos grandes trunfos de Hellblade II, já que um jogo tão focado na narrativa, e no aspecto cinematográfico, precisa trazer essa veracidade para trazer o jogador para dentro de sua proposta, e a Ninja Theory foi, mais uma vez, impecável aqui. Cada expressão possui um sentimento, que é facilmente sentido em tela.

Outro aspecto que o estúdio dá aula é na entrega dos sons e trilha sonora, oferecendo um verdadeiro espetáculo de áudio. Assim como no primeiro jogo, jogar de fone faz toda a diferença, e aqui com a tecnologia Binaural, é como se as vozes e ruídos estivessem ao meu redor, o que me deixou imersa em tudo o que acontecia na tela e com Senua, me trazendo um real sentimento do que estaria se passando com a mente da protagonista. Um trabalho excelente, do qual poucos estúdios conseguem chegar perto de tanta qualidade que a Ninja Theory domina com maestria.

O som é como se fosse um personagem sempre presente em nossa jornada. As vozes estão ainda mais realistas, como se realmente estivessem ali, interagindo conosco, assim como fazem com Senua.

A trilha sonora também está presente em quase todos os momentos, seja para nos arrebatar nos momentos brutais de combate, seja para nos emocionar com acontecimentos intensos, ou seja, para nos deixar tensos com o que pode vir a seguir. A intensa banda Heilung traz a sua marca com batidas fortes, vozes guturais e também singelas, para trazer uma identidade forte para o jogo, o enriquecendo ainda mais.

Hellblade II está todo legendado em nosso idioma, o que traz total entendimento de sua proposta.

Opinião

Se com Senua’s Sacrifice a Ninja Theory mostrou que conseguia se desafiar com um estilo bem diferente de seus projetos anteriores, com Hellblade II o estúdio comprova que dominou sua técnica e o gênero narrativo cinematográfico, entregando uma experiência que vou guardar para sempre na minha memória. Narrativa intensa, combate brutal, trilha sonora e sons impecáveis, além de gráficos que dão uma aula para a indústria. Um pacote que me trouxe uma imersão sem igual.

Fiquei imersa na mente e nas adversidades pelas quais Senua passa, e isso é resultado não apenas de um trabalho técnico perfeito, mas de uma equipe que mergulhou e pesquisou um tema tão delicado como a psicose, e o abordou como muita sensibilidade e veracidade, o que deixa toda a jornada ainda mais intensa.

Senua’s Saga: Hellblade II mostra que existe espaço para encantar os jogadores com propostas ousadas e que fogem do senso comum. Coragem e ambição que entregam uma experiência que nos envolve do começo ao fim, se tornando uma obra inesquecível.

Plataformas: PC e Xbox Series X|S
Publicado por: Xbox Games Studios
Desenvolvido por: Ninja Theory
Data de lançamento: 21/05/2024
Opções de compra: Microsoft Store

*O jogo foi acessado via Xbox Game Pass para a realização desta análise.

Sair da versão mobile