Resident Evil 4 é um dos jogos que entram na seleta lista de melhores de todos tempos, com uma tremenda importância para os jogos que vieram depois. Digamos que a aventura de Leon está para a câmera em terceira pessoa por trás do ombro, como a mecânica de cover está para Gears of War.
Após esse jogo, a Capcom mudou toda a história da franquia, que seguiu até se perder no exagero da ação mirabolante. Depois, se lançou na tendência do terror psicológico com Resident Evil VII, que dividiu os fãs em puristas e os que anseiam por uma experiência nova. Para trazer a mudança necessária para Resident Evil VII, a Capcom criou sua própria engine, chamada de RE Engine, que posteriormente seria usada em todos os seus jogos e no seu mais novo projeto, os remakes.
A gigante começou por Resident Evil 2 Remake, no qual fez um trabalho majestoso, com uma reinvenção, saindo da câmera clássica e partindo para algo mais moderno e próximo de Resident Evil 4. Depois, construiu o remake de Resident Evil 3, que pareceu algo mais corrido e linear, e inclusive cortando bastante conteúdo, algo que colocou essa estratégia dos remakes em dúvida.
Confesso que não julgava ser necessário o remake de Resident Evil 4, visto que o jogo ainda é muito atual. Ainda assim, a Capcom o fez. Será que foi uma decisão correta e, mais uma vez, ela acertou em cheio? Descubra em nossa análise a seguir.
UM FORASTEIRO
Meus primeiros momentos em Resident Evil 4, são de muita nostalgia, e também admiração com a evolução da engine, que melhorou bastante em relação aos remakes anteriores da Capcom. Temos uma introdução, com um breve CG, algo bem característico da franquia, mas que facilmente se mistura com os gráficos em tempo real.
A história introdutória também é muito boa, explicando tudo o que está acontecendo, desde o treinamento de Leon, até a captura de Ashley, a filha do presidente.
Inicio meus passos dentro da vila, e começo a lembrar das minhas aventuras lá na versão clássica, com todos os elementos presentes, desde o Ganado com a serra elétrica, até mesmo o sino, que toca do nada e nos salva.
A grande mudança para mim, na parte da vila, em relação ao clássico, são os elementos de maior terror, algo que não acontecia tanto nessa parte no clássico, visto que o filtro na imagem era mais claro e agora, optaram por algo mais escuro. Além disso, por conta da mudança estrutural de alguns ambientes, temos sempre o cuidado de avançar em áreas que lembram a versão clássica.
Os cenários ficaram ainda maiores, e por consequência o tempo de jogo, que aumentou consideravelmente. Existe também uma quantidade absurda de inimigos e ainda são uns diferentes dos outros, algo que acaba com aquela sensação de estar lutando sempre contra o mesmo inimigo.
MAIOR E MELHOR
Uma das coisas que mais me impressionaram nesse remake, foi a capacidade da Capcom cortar coisas desnecessárias e acrescentar o que realmente importa. Sempre tive minhas partes favoritas, que eram a vila, o lago e o castelo. E não gostava muito das minas e da ilha industrial, agora tudo ficou ainda maior e melhor.
A parte da vila, em conjunto com o lago, praticamente pode se incluir um jogo ali dentro sozinho, isso claro sem fazer uma speedrun. Lembro que tinha uma ideia bem resumida do castelo, com alguns trechos de muita ação. Agora, percebi algo muito mais elaborado, que realmente se encaixa no contexto do jogo.
O castelo possui uma boa mistura de ação e também terror, com locais misteriosos e cheios de perigo. Além de trazer um ambiente diferente dos outros jogos da franquia. Já a ilha industrial, acabou virando uma das minhas partes prediletas, visto que tudo que era ruim foi realmente melhorado, com inimigos ainda mais desafiadores e um cenário de pura ameaça para Leon.
A dinâmica da parte final é bem interessante, pois você usará tudo que aprendeu durante a sua jornada e se sentirá um soldado poderoso ou não, depende da sua habilidade, é claro.
SALVE A GAROTA
A história de Resident Evil 4 sempre se tratou de salvar Ashley e, por consequência, o mundo, afinal o buraco é sempre mais embaixo com a Umbrella. A conexão de Leon e Ashley é muito mais bem feita, com expressões faciais que revelam a admiração da garota, pelo agente protetor.
Ashley também parou de ser aquela menina chata e indefesa, dando mais trabalho para os inimigos a pegarem. Ela é uma personagem muito mais útil, e isso se mostra presente na sua parte jogável, que traz elementos dos jogos mais modernos de survival horror.
Toda nossa jornada é construída em cima dessa missão, que ganha contornos dramáticos conforme chegamos nas partes finais. Leon e Ashley agora realmente funcionam da maneira que deveriam, então ela acabou se tornando uma parte indispensável no jogo.
O MAL ESTÁ A ESPREITA
Os vilões de Resident Evil 4 continuam tão mortais quanto no clássico e posso afirmar que o balanceamento das armas e a evolução da história, segue a evolução dos inimigos, que aumentam a dificuldade conforme avançamos para as partes finais.
Os chefes continuam com a mesma essência, mas sinto que poderiam ter ousado mais em inimigos como Bitores Mendez, o grandalhão de capa preta, que continua muito mal aproveitado, pois quando você acha que teremos embates e perseguições, acaba com uma luta igual a original.
A batalha final também me frustrou um pouco, por conta da baixa dificuldade, pois poderia ser muito mais trabalhada. Não é que essas batalhas sejam ruins, só que a chance para se tornarem perfeitas ficou só na vontade.
Já alguns inimigos, como o regenerator, ficam ainda mais mortais, trazendo os momentos de maior tensão, algo que ficou incrível. A Capcom soube aproveitar esses inimigos, para que o jogador tenha uma maior desafio.
A EVOLUÇÃO DO SURVIVAL HORROR
Um dos maiores triunfos de Resident Evil 4, seja no clássico ou no remake é a sua jogabilidade fluida e prazerosa. Desde essa nova pegada dos remakes, os jogos vão evoluindo e o quarto jogo é o seu ápice, pois acompanha a evolução de Leon como soldado.
Primeiramente podemos usar nossa faca de uma maneira mais habilidosa, seja de frente, por furtividade ou mesmo se defendendo. Esse tipo de combate, mostra que o treinamento do soldado com o Major Krauser valeu a pena. Por falar nesse personagem a luta com ele é incrível, algo que não achava no jogo clássico.
O combate armado também está extremamente prazeroso, com diferenças reais de cada arma. Não se trata de usar somente uma arma, na verdade, devemos combinar as diferentes armas do nosso arsenal, pois os inimigos possuem fraquezas que devem ser exploradas.
Cada cenário possui diferentes abordagens e isso sempre foi uma qualidade do jogo, que ainda foi mantida. Existe inúmeras coisas para se fazer durante o combate e várias formas de eliminar os inimigos.
Os puzzles poderiam ser melhor apresentados, não achei desafiadores, sendo totalmente resolvíveis sem um pingo de ajuda, algo que poderia ser melhorado, afinal, tivemos vários anos para melhorar esse aspecto.
PERSONAGENS MARCANTES
Outro ponto importante da nossa aventura em Resident Evil 4, são os personagens marcantes que encontramos por nossa jornada. Por mais que não tenham muitos personagens, o elenco reduzido agora consegue dar ainda mais tempo para cada um, ainda mais por conta dos diálogos modernizados.
Personagens como Luis ou mesmo Ada, agora possuem diálogos mais coerentes. Uma pena que a parte jogável de Ada ainda não está disponível, mas segundo alguns vazamentos chegará posteriormente por um DLC.
O armeiro continua com o seu suporte, no qual o jogador pode fazer seus upgrades, além da compra e venda de novas armas e equipamentos. Voltando a falar das armas, temos algumas novas, que trazem mais poder de fogo para Leon. No armeiro também existe o minigame do estande tiro, onde, quando o completamos, podemos desbloquear melhorias para a nossa maleta. Leon também pode completar desafios para o armeiro, que podem ser trocados por itens valiosos, como armas exclusivas e tesouros.
Nossa maleta também é algo que faz parte da jogabilidade, pois faz o jogador administrar seu espaço apenas com o que realmente vai usar.
SOM E GRÁFICOS
O que seria de uma obra prima sem sua parte técnica exemplar. Resident Evil 4 é o ápice da RE Engine, com gráficos lindos e ótimos efeitos de iluminação. Outra questão que chama bastante atenção, são as expressões faciais, que nos jogos anteriores tinham uma certa limitação na construção dos cabelos e dentes, mas agora parece que foi resolvido.
Nem tudo são flores, e em alguns momentos, as texturas passam por alguns bugs, mas foi algo que aconteceu em poucos momentos, não se tornando uma constante. Eu fiz minha análise no Xbox Series S, então alguns bugs, como citei acima, podem não ocorrer no Xbox Series X. Mas parece que é algo de otimização mesmo, visto que em outros locais não aconteceram o mesmo problema.
O som está perfeito, com uma trilha inesquecível. Agora vem a cereja do bolo, pois o jogo é totalmente localizado e dublado em nosso idioma. A dublagem está perfeita, com destaque para o Leon, que possui falas bem estereotipadas e cheias de piadinhas, um ótimo trabalho do dublador, Felipe Grinnan.
OPINIÃO
Resident Evil 4 é a prova de que tudo que é perfeito, pode e deve melhorar. Que nenhuma obra é intocável, ou que um dia não merece ganhar um remake. Eu mesmo tive que mudar minha opinião, assim que comecei a jogá-lo.
A RE Engine é uma das melhores ferramentas do mercado, e coloca a Capcom em uma posição muito boa, visto que ela pode usar e abusar da sua ferramenta, que ela domina com perfeição. Com isso, temos um belo trabalho de level design e modelagem de personagens, inclusive com melhorias para os cabelos e dentes, que era algo que eu julgava bem esquisito em alguns jogos da empresa.
A jogabilidade evoluiu bastante desde os primeiros remakes, algo bem necessário, visto que os Ganados são mais rápidos e inteligentes do que os zumbis tradicionais. A Capcom optou por manter muitos aspectos do jogo clássico, mas introduziu novidades bem relevantes e que fazem toda a diferença.
Resident Evil 4 foi mais um passo dado para a Capcom se consagrar como a melhor empresa para fazer remakes. Já posso me imaginar jogando outros clássicos do passado, como o próprio Resident Evil: Code Veronica ou o tão sonhado Dino Crisis.
Plataformas: Xbox Series X|S
Publicado por: CAPCOM CO., LTD.
Desenvolvido por: CAPCOM CO., LTD.
Data de lançamento: 24/03/2023
Opções de compra: Microsoft Store
* O jogo foi cedido gentilmente pela Capcom para a realização desta análise.