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Análise – The Chant

The Chant possui uma proposta bastante interessante de ser um jogo ação, aventura e terror psicodélico em terceira pessoa que traz um culto da Nova Era dos anos 70 como o centro da sua narrativa. A protagonista Jess decide testar os métodos do culto para lidar com seus problemas psicológicos, mas rapidamente percebe que essa viagem foi um grande erro. O jogo traz mecânicas interessantes como a Penumbra, que é uma área interdimensional que se alimenta de energia negativa, ansiedades e medos, e ainda a necessidade de fortalecer mente, corpo e espírito para não ficar preso para sempre nessa rede de tormentos.

Será que o jogo desenvolvido pela Brass Token e publicado pela Prime Matter, consegue colocar em prática toda essa premissa interessante? Confira em nossa análise.

Festa estranha, com gente esquisita…

Começamos a experiência em The Chant sendo apresentados a protagonista Jess, que possui problemas psicológicos que a fazem ter crises intensas de ansiedade. Ela então decide aceitar o convite de sua amiga Kim, para participar de um retiro de cura espiritual que está localizado em uma ilha totalmente distante da civilização. Apesar de cética, ela decide aceitar a experiência e já na primeira reunião um ritual dá muito errado, mexendo com a cabeça dos membros do culto e abrindo brechas para a dimensão chamada de Penumbra, onde as criaturas que lá vivem se alimentam de sentimentos ruins para tomar conta da mente das pessoas explorando seus medos.

Agora que a ilha está toda de cabeça para baixo, Jess precisa colocar juízo na cabeça dos participantes do culto para que consigam desfazer o desastre desse ritual, ou podem ficar presos nessa espiral de loucura para sempre. Um ritual que já havia dado errado no passado e que novamente pode trazer consequências desastrosas para todos.

A narrativa traz um sentimento de mistério e urgência constante, mas senti falta de explorar mais as características e história do culto. Os próprios personagens são pouco explorados, e quando somos apresentados aos seus medos não existe um grande impacto, uma vez que o jogo não desenvolveu bem a relação entre eles. Mesmo lendo muitos documentos e assistindo projeções sobre as raízes desse culto, não senti que houve um bom desenvolvimento acerca daquela dimensão sobrenatural, ou como ela consegue acessar a mente das pessoas e influenciar seus comportamentos.

Mesmo que o jogo tenha seus momentos de susto e reviravoltas, faltou explorar mais as particularidades do horror cósmico que era um diferencial para a trama.

Equilíbrio para manter a sanidade

A experiência de gameplay em The Chant consiste em explorar a ilha em busca de recursos, documentos e caminhos para avançar nos objetivos. Não existe indicação para onde ir, mas como a estrutura da ilha não é muito complexa, dificilmente você chegará na situação de estar perdido.

O que impede de você de explorar tudo de uma vez só são as regiões da Penumbra, pois cada uma delas possui uma cor específica, que só pode ser acessada em posse do Colar de Cristal com a cor correspondente. Dessa forma, conforme conquistamos esses cristais, na progressão da história, poderemos expandir a exploração, trazendo uma leve inspiração metroidvania. O jogo também adiciona resolução de puzzles para abrir caminho e até mesmo para apimentar algumas lutas contra bosses.

Falando em inimigos, The Chant não é um jogo de horror apenas de pressão psicológica, mas também envolve batalhas contra criaturas. Jess pode atacar forte e leve, além de se esquivar. Para nossas armas temos uma série de artefatos rústicos dos cultistas que nos ajudam a lidar com os mais diferentes adversários, que variam entre misteriosos cultistas retorcidos que permanecem na ilha, e criaturas da Penumbra que oferecem uma boa variedade de estilos de batalha. O sistema de combate é bastante simples e não se mostra muito satisfatório, uma vez que os movimentos de Jess são muito limitados e os inimigos são bem fáceis de memorizar seus ataques. As lutas contra os chefões podem ser bem desbalanceadas, principalmente pela restrição do uso das armas simplórias dos cultistas.

Essas armas são construídas através do sistema que criação que combina diversos tipos de recursos, espalhados pelos cenários, para abastecer o arsenal de artefatos e arremessáveis, que adicionam estratégias para abordar o atrapalhado combate do jogo.

Além das mecânicas do Colar de Cristal e criação do arsenal de armas, The Chant possui três atributos principais que precisam serem administrados para não deixar Jess em apuros, e que trazem uma dose de sobrevivência para a jornada. O primeiro deles é Mente, que é drenado ao entrar na Penumbra e através de ataques de inimigos, caso o medidor fique vazio, Jess terá um ataque de pânico e ficará impossibilitada de atacar. Espírito está diretamente ligado a Mente, e você pode meditar para usar sua barra para impedir Jess de sofrer de Pânico. Espírito também é o atributo necessário para o uso dos interessantes, e úteis, poderes especiais concedidos por cada Colar de Cristal. Por fim, temos a barra de Corpo que basicamente é a barra de vida, que determina a quantidade de dano físico que podemos sofrer.

Tanto esses atributos, quanto outras melhorias, podem ser otimizadas através da árvore de progressão do jogo. Conforme você realiza as mais variadas ações e até mesmo escolhas de diálogo, os requerimentos serão atingidos nessa árvore, possibilitando realizar as melhorias, que podem ser desbloqueadas usando um recurso chamado de Cristais Prismáticos, que podem ser encontrados explorando a ilha e também após marcos da história.

A estrutura de exploração é bem interessante e combina bem com a proposta narrativa. A Penumbra traz uma atmosfera única, e os combates que existem dentro dela colocam nosso entendimento das mecânicas e gerenciamento de recursos a prova. Uma pena que o combate se mostrou muito travado e em muitas ocasiões eu apenas corri para evitar a batalha.

Atmosfera psicodélica, visuais datados

The Chant consegue apresentar bem a ideia de existir um culto em um lugar remoto, onde as pessoas se isolaram para cuidar de seus demônios interiores em busca de paz e autoconhecimento. A ilha representa bem esse sentimento de isolamento, com cenários que parecem fazer parte de outra era. A dimensão da Penumbra traz cenários com uma atmosfera realmente única, com uma beleza estranha que carrega um sentimento latente de claustrofobia e opressão.

Apesar do estúdio mandar muito bem em trazer esse sentimento único, o jogo derrapa tecnicamente com visuais muito datados, como se também fossem de outra era. Isso faz a decisão de lançar o jogo apenas para a nova geração sem sentido, além de fazer o jogo perder a oportunidade de alcançar mais jogadores. O resultado em tela não justifica o jogo não ter sido lançado para os consoles da geração passada. O framerate é bom e estável durante todo o tempo no Xbox Series X|S.

A modelagem dos personagens é bem rústica, mas não compromete a imersão. O que atrapalha bastante é a animação deles, que é muito rígida e estranha, deixando as expressões engessadas. Os sons que envolvem o jogador são muito imersivos e trazem um sentimento de tensão constante. A trilha sonora é pontual, mas faz um bom trabalho para intensificar os acontecimentos.

O jogo possui legendas e interface em Português do Brasil, então não existem barreiras para o entendimento de história e mecânicas.

Opinião

Após minha jornada com cerca de 06 horas, eu posso dizer que gostei da experiência em The Chant, com uma trama intrigante e uma atmosfera de constante mistério. É uma pena que a narrativa nunca alcança um ciclo completo, pois seus temas nunca são completamente desenvolvidos e os personagens carecem de mais profundidade para deixar a história mais imersiva e envolvente.

A aparência deixa um pouco a desejar com visuais um tanto quanto ultrapassados e animações faciais travadas, que não trazem nenhuma naturalidade para os sentimentos dos personagens. O combate é pesado e não muito recompensador, mas os inimigos funcionam bem para adicionar tensão.

Ainda assim, se tratando do trabalho de estreia de um estúdio independente, que possui recursos limitados, o resultado é bom, mas é difícil recomendar com o preço cheio. No entanto, é um jogo interessante para colocar na lista em uma futura promoção.

Plataformas: Xbox Series X|S
Publicado por: Prime Matter
Desenvolvido por: Brass Token
Data de lançamento: 03/11/2022
Opções de compra: Microsoft Store

O jogo foi cedido gentilmente pela Prime Matter para a realização desta análise.

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