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Análise – Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin

Final Fantasy é uma das mais icônicas franquias no mundo dos games, sendo referência como RPG por muitos anos. São mais de 15 títulos canônicos nos quais a franquia, criada por Hironobu Sakaguchi, vem se reinventando, além de vários spin-offs que vão desde jogos musicais até Battle Royales. Esse é o caso de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin, um spin-off fruto da parceria da Team Ninja com a Square Enix. O jogo busca recontar a história do primeiro título da franquia de uma forma bem original e controversa.

Apostando em uma jogabilidade soulslike, acompanhamos a história dos quatro Warriors of Light na jornada para restaurar a luz dos cristais mágicos que foram corrompidos por monstros. Como será que esta nova abordagem se saiu? Confira em nossa análise.

Estranhos no paraíso

Em Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin, assumimos o controle de Jack Garland, um homem que compartilha o mesmo sobrenome do antagonista do jogo original. Junto de seus recém conhecidos companheiros, Ash e Jed, os três acreditam ser os Warriors of Light de uma antiga profecia. Entretanto, a profecia fala em quatro integrantes. Sem falar que nenhum dos três lembra do seu passado, apenas que precisam acabar com uma entidade que assola seu mundo, Chaos. Durante sua jornada, Jack se une a outros personagens que compartilham do mesmo objetivo e quanto mais a história avança, ficará claro que sua missão vai muito além de derrotar Chaos.

Num primeiro olhar, parece uma história típica de um clássico Final Fantasy. Mas não se engane, a forma que esta história é contada pode desagradar os fãs mais puristas da franquia.

Primeiro, poderíamos trocar o nome do jogo para Stranger of Paradise: Final Fantasy Brucutu Edition. Sim, o roteiro do jogo parece ter saído direto de filmes de ação dos anos 80/90. Jack é um verdadeiro fanfarrão. É curto e grosso nos diálogos, fala palavrões e até interrompe aquelas “palestrinhas” que os vilões fazem antes de enfrentar os heróis. Some isso a uma bizarra sede de Jack para acabar com Chaos. O cara parece o próprio meme do trapézio descendente quando tocam no assunto.

Os companheiros de Jack não ficam atrás, parecem papagaios de piratas. Seus diálogos se limitam a dar apoio moral ao jogador. “É isso aí Jack“. “Ah, só o Jack consegue lutar assim.“. Verdade seja dita, eles até tentam criar algum diálogo, mas sempre acabam sendo cortados por Jack.

Em suma, tudo que um fã nunca esperaria em um jogo Final Fantasy está presente em Stranger of Paradise. Um festival de memes no melhor estilo filme B. Jogando com a mente aberta, é uma experiência que pode garantir muitas gargalhas. Mas se você estava esperando algo mais próximo da franquia principal, certamente se decepcionará.

Um combate de respeito

Como já mencionado, a Square Enix não tem medo de sair da zona de conforto e levar sua principal franquia para gêneros inusitados. Alguns deram bastante certo, como Final Fantasy Tactics, Final Fantasy XIV e Crisis Core: Final Fantasy VII. Outros, como Dirge of Cerberus: Final Fantasy VII, é melhor deixar no esquecimento.

Dito isso, agora temos um jogo que entra na moda do Soulslike. Sabiamente, a Square Enix preferiu deixar a produção de lado e colocou outro estúdio no comando, o Team Ninja. Com jogos como Nioh e Ninja Gaiden no seu currículo, o combate em Stranger of Paradise é frenético, desafiador e viciante. Um pouco punitivo também, mas não tanto como nos jogos da FromSoftware.

O estilo segue o mesmo do gênero Souls, com ataque forte e fraco, ataques especiais, esquiva, defender e repelir. Para derrotar seus inimigos, basta acabar com seus pontos de vida, indicados por uma barra. Entretanto, a Team Ninja adicionou algumas particularidades interessantes que dão uma própria identidade ao estilo do jogo.

Abaixo da barra de vida existe a barra de postura, que lembra algo como a visto em Sekiro: Shadows Die Twice. O conceito é parecido, algumas armas e ataques afetam mais a barra de vida, outros afetam mais a barra de postura. A barra de vida ao ser esgotada significa morte. A barra de postura “também“, mas esta deixará o inimigo atordoado por alguns segundos, apto para que possa ser realizada uma finalização brutal.

Quando você opta pela finalização, o inimigo é cristalizado e vira pontos de magia para nosso personagem, assim aumentando a barra de magia e permitindo que possamos usar vários ataques especiais.

Para dar aquela pitada de dificuldade no jogo, nosso personagem também possui a barra de postura. Ao receber golpes quando estamos nos defendendo ou tentando repeli-los, é a nossa barra de postura que vai se esvaziar mais rapidamente. Uma vez que isso ocorra, nosso personagem ficará atordoado e exposto aos ataques inimigos por alguns segundos. Receber um ataque neste momento não significa necessariamente que seu personagem morrerá, mas o dano será massivo.

Lembra que falei que o jogo não era tão punitivo? Então, morrer não vai acabar com toda sua experiência ou coisa do tipo. Você retorna para o ponto de controle mais próximo, um tipo de cubo mágico, e sua barra de magia voltará para o nível inicial. Aí você poderá recuperar os pontos de magia perdidos no local onde seu personagem morreu e se morrer sem recuperar estes pontos, aí será necessário encher tudo novamente finalizando seus inimigos.

Hack’n loot

Você já deve ter ouvido falar dos gêneros hack’n slash e shoot’n loot. Stranger of Paradise parece uma inusitada mistura destes dois gêneros. Como pôde ser visto assim, o jogo tem todos os elementos de uma jogabilidade hack’n slash. O que a Team Ninja fez foi unir isto ao viciante sistema de loot, onde os jogadores precisam derrotar inimigos para obter equipamentos valiosos, sejam armas ou armaduras.

Durante minha jornada pelo mundo de Stranger of Paradise, a sensação era de estar jogando algo como Destiny. Várias missões espalhadas em um mapa mundo com recomendação de nível de equipamentos em cada uma delas. Tentar aventurar-se em missões com nível de equipamentos muito acima do seu personagem era pedir a morte certa. Para buscar itens melhores, você poderia refazer missões de histórias ou optar pelas missões secundárias, que também oferecem itens exclusivos. Derrotar inimigos significava uma chuva de equipamentos das mais diversas cores que indicassem a raridade. Itens comuns, raros, lendários etc, toda a característica de loot está presente.

Para evitar que o jogo tornar-se repetitivo, a Team Ninja preparou um interessante sistema de customização de classes. São várias classes para todo tipo de gosto. Samurai, Mago, Assassino, Paladino… cada um com seus próprios tipos de equipamento, status e ataques especiais. O melhor é que você pode trocar de classe a qualquer momento e, consequentemente, seu estilo de jogo.

Prefere confrontar seus inimigos de longe? Use um black mage com suas magias devastadoras. Ou você é daqueles que prefere um confronto mais franco? Um cavaleiro com alta defesa pode ser outra boa opção. Ainda mais impressionante é que você pode mesclar classes.

Ao final da minha jornada, eu já era um mago branco com ataques especiais de um mago negro. Partia pra cima dos inimigos e quando o bicho pegava, recuava para me curar e usar magias a distância, enquanto a IA dos meus companheiros ficavam no combate mais próximo.

Um potencial desperdiçado

Stranger of Paradise poderia ser um grande sucesso, mas o jogo sofre com uma grande quantidade de problemas que não podem passar despercebidos. Podemos começar pelos visuais de baixa qualidade. Se o roteiro parece de um filme B, os gráficos não ficam atrás.

O modelo do cenários e personagens parecem ter saído de duas gerações atrás. Você pode até argumentar que casa bem com a proposta do estúdio de entregar uma experiência mais alternativa, mas isso não justifica seus problemas de performance, quedas de frames constantes e serrilhados por toda a parte. O jogo ainda possui modos com foco em desempenho e resolução, mas não acaba se saindo bem em nenhum dos dois.

O loot, apesar de ser uma mecânica bem vinda, parece está desbalanceado. Praticamente todos os inimigos soltam itens de todos os níveis de raridade. A parada é tão absurda que ocasionalmente seu inventário ficará cheio com a quantidade de itens, e olha que ele possui espaço para até 500 itens! Aí aquele sentimento de desafio x recompensa é quase inexistente. Basta matar os inimigos mais fácies até sair aquele item lendário e partir adiante.

Opinião

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é mais uma aposta ousada da Square Enix para levar a franquia Final Fantasy a novos públicos. A parceria com a Team Ninja parecia dar certo ao entregar um combate viciante com uma alta customização de classes. O jogo ainda um paraíso de memes, com Jack oferecendo vários momentos hilários. Mas os problemas de performance, gráficos duvidosos e desbalanceamento do loot atrapalham um jogo que poderia ser destaque neste ano.

É um jogo divertido e com um final surpreendente. Entretanto, não há como esquecer seus problemas e recomendá-lo no estado em que se encontra.

Plataformas: Xbox One e Xbox Series X|S
Publicado por: SQUARE ENIX
Desenvolvido por: KOEI TECMO GAMES
Data de lançamento: 18/03/2022
Opções de compra: Microsoft Store

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