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Análise – Diablo II: Resurrected

Diablo 2 tem o seu lugar de destaque na história dos games como o representante de uma era de ouro do ARPG isométrico, bem como da franquia da Blizzard. Depois de deixar de lado a complexidade do segundo jogo e trazer uma arte mais colorida em Diablo 3, o estúdio viu um pedaço do mercado ser engolido por jogos como Path of Exile, que se inspirou em todos os aspectos marcantes de Diablo 2. Querendo ganhar esse público de volta, e preparar caminho para o quarto jogo da série, é que chegou ao mercado Diablo II: Resurrected.

Essa reimaginação do clássico de 2000 foi criada em parceria com a Vicarious Visions, que usou toda a sua experiência para trazer o jogo para a atualidade. O foco é manter as raízes do original, mas com melhorias que o faça ser jogável por mais jogadores. Eu não joguei o jogo original e comecei na série através de Diablo 3, dessa forma não mergulhei em Resurrected embalada pela nostalgia, mas com curiosidade em conhecer essa fase diferente de Diablo.

Será que o jogo será interessante também para um novo jogador ou essa nova versão só será realmente apreciada pelos fãs de longa data? Vamos descobrir em nossa análise a seguir.

Fique um pouco e escute

Assim como já é natural nas estruturas dos ARPGs isométricos, a história serve apenas de pano de fundo para nossa exploração incansável pelos níveis em busca de melhores itens e para aumentar o nível do personagem, ainda assim a série Diablo se esforça para trazer uma boa qualidade narrativa para o seu universo. A trama possui diversos contornos sombrios e uma atmosfera mais pesada, que perdura durante seus cinco atos, com os quatro do jogo base, mais a expansão Lord of Destruction.

Nosso objetivo é perseguir o misterioso Errante Sombrio, enquanto descobrimos mais sobre o destino dos Males Supremos Diablo, Mefisto e Baal. Devemos impedir que eles destruam a humanidade, mas para isso precisaremos passar pelos habitantes do Inferno que infestam as terras, até chegar ao grande momento de bater de frente com os Senhores do Ódio, Medo e Destruição. Outro personagem importante é o Arcanjo Tyrael, que se mostra como um interlocutor importante para cada grande acontecimento da trama.

A narrativa consegue embalar bem nossa jornada, principalmente por causa das cinemáticas que foram totalmente refeitas, aumentando a qualidade desta nova versão. Os diálogos são bem escritos e explicativos, nos ajudando a entender melhor quais as engrenagens que movem aquele mundo e seus habitantes.

Mantendo as raízes, mas faltando ajustes para abraçar um público maior

Diablo II: Resurrected se mantem como um ARPG isométrico no qual os jogadores devem explorar os mais variados ambientes, que são sempre gerados aleatoriamente, para completar missões, pegar itens melhores, ganhar experiência para subir de nível e por aí vai. Para iniciar a jornada podemos escolher uma das sete classes disponíveis, que são Amazona, Assassina, Bárbaro, Druida, Maga, Necromante e Paladino. Cada uma com seus próprios conjuntos de habilidades e estilo de gameplay únicos.

Quanto as dificuldades, você inicia no Normal, e após virar a Campanha, pode optar para refazer todos os atos no Pesadelo e depois fazer o mesmo para o Tormento. Para os mais corajosos, ou loucos, ainda existe o modo Hardcore, onde caso você morra terá que começar tudo de novo, do zero.

As mecânicas de Diablo 2 eram bastante complexas, e continuam intactas aqui. Um exemplo é o sistema de habilidades, que aqui não funciona como em Diablo 3, que você pode refazer suas escolhas a qualquer momento, aqui isso só pode acontecer uma vez por Campanha, e então você deve ter muito cuidado ao usar seus pontos nas três árvores disponíveis para cada classe. As habilidades em si são bem variadas e trazem um sentimento único para cada classe e para a criação das mais diversas builds. Os efeitos delas na tela também são incríveis. No entanto, com a limitação para o uso dos pontos, é bom focar em determinadas habilidades (Confira os mais diversos guias no site Maxroll).

Ainda na criação base do seu personagem, existem os Atributos, que aqui são Força, Destreza, Vitalidade e Energia. Enquanto Vitalidade está voltada para sua quantidade de vida, a Energia determina o uso as habilidades que custam Mana. Já Força e Destreza estão voltados para o uso de armas e armaduras, pois são atributos que determinam se você pode equipá-los ou não.

Quando você sobe de nível (o level máximo é 99) recebe 1 ponto para usar nas habilidades e 5 para os atributos, bem como algumas missões que nos concedem alguns pontos extras. Não é nada muito abundante, então use seus pontos com atenção.

A exploração e combate são deliciosos, e você se pega jogando por horas e horas para melhorar seus personagens, seja para conseguir mais pontos para deixar uma habilidade mais forte, ou para conseguir aquele item importante para a sua build. É aquele tipo de jogo que você facilmente investe centenas de horas. As melhorias fazem Resurrected soar um título novo, mas a jogabilidade e os sistemas característicos do clássico foram mantidos, oferecendo uma mistura interessante.

Mesmo com todo esse frescor, faltou melhorar a experiência para novos jogadores, não é questão de segurar na mão e ensinar tudo, mas de deixar a experiência mais amigável. A simples adição de algumas janelas de tutorias poderia ser um ajuste de qualidade de vida muito bem-vindo, que também poderia ser desativado para quem não precisasse ou prefira a experiência original. Essa urgência em agradar os veteranos torna difícil para o jogo atingir um público maior.

Como eu também aprendi muita coisa na marra, pois sou iniciante em Diablo 2, vou destacar algumas mecânicas que me chamaram a atenção, e que podem te ajudar a entender melhor como o jogo funciona.

Gerenciar o nível de resistências do seu personagem para Fogo, Gelo, Eletricidade e Veneno é muito importante, principalmente nas dificuldades mais altas. Quanto ao End Game, aqui não existe um conteúdo exclusivo para isso, e a ideia é refazer os mesmos níveis, que são gerados aleatoriamente com novos inimigos, e com o reaparecimento dos chefes, para buscar melhores itens. Cada Ato possui seu mapa característico, e muitas dessas regiões possuem pontos de viagem rápida, que quando ativos nos possibilitam retornar para o local rapidamente. Isso é bastante importante, pois como não existem marcadores nos dizendo onde precisamos ir, e devemos apenas prestar bastante atenção nas informações do seu diário de missões, esses pontos para viagem rápida são uma ajuda gigante.

Diablo 2 possui um interessante, e complexo, sistema de Runas, que podem ser usadas para criar alguns dos itens mais poderosos do jogo. Os chamados Runewords, são criados através das combinações exatas, inclusive na ordem de engaste, de determinadas Runas. Eu recomendo pesquisar bem antes de usá-las. As Gemas também possuem papel importante, pois adicionam alguns status em itens com engaste, e também são uteis para algumas receitas. Ainda existem os Patuás que nos conferem melhorias caso estejam em nosso inventário. E isso nos leva ao inventário, o maior inimigo do jogo.

Aqui é um claro exemplo de uma melhoria de qualidade de vida que poderia ter sido implementada para trazer a experiência para atualidade. Você possui um número limitado de quadrados para guardar itens, sendo que alguns itens ocupam apenas um quadrado, enquanto outros podem pegar oito desses espaços. Esse sistema traz uma necessidade sempre presente de gerenciamento de inventário acerca do que manter com você, vender ou guardar no baú da cidade, que inclusive possui abas onde nas quais você pode colocar itens para compartilhar com seus outros personagens, o que é uma novidade dessa nova versão.

Os itens raramente se acumulam, então caso tenha 10 poções de vida, você vai ocupar 10 espaços do seu inventário. Com a necessidade de ter os Patuás no inventário, a quantidade de espaço disponível se torna rapidamente um problema, nos fazendo ter que fazer viagens constantes nas cidades para vender e guardar itens, o que quebra bastante a ação, sendo um sistema cansativo. Entendo a necessidade de manter o sistema de Patuás, mas poderia haver um compartimento extra para outros itens como os equipamentos. Deixavam o inventário tradicional, que mantem o gerenciamento de Patuás e poções, mas poderiam ter pensado em um compartimento extra maior para equipamentos, o que deixaria o fluxo do gameplay mais dinâmico e menos restritivo.

Existem algumas maneiras de aumentar um pouco o seu estoque, como os cintos que podem comportar de 4 a 16 espaços de poções. Também existe o Cubo Horádrico, que é uma das ferramentas mais importantes de todo o jogo. Em sua essência, ele serve para criar, combinar e transformar itens, joias e runas, mas ele também possui um total de 12 espaços, que se colocado em seu inventário, expande mais um pouco sua capacidade de carregar as coisas.

O combate é simples e visceral, e apesar de toda a complexidade acima, os comandos são simples. O suporte para controle está excelente, com botões intuitivos e responsivos, trazendo fluidez para cada comando. A possibilidade de atribuir habilidades livremente para cada botão específico, oferece uma boa ferramenta para customizar seu gameplay da forma que se sinta mais à vontade.

Em Resurrected você pode optar por jogar online ou totalmente offline, mas diferente dos jogos mais atuais, como o próprio Diablo 3, você não pode alternar livremente entre eles. Dessa forma, você não pode pegar um personagem offline e usá-lo para jogar com os amigos, assim como não consegue continuar jogando com seu personagem online caso fique sem internet. Uma decisão totalmente estranha, principalmente por ser uma possibilidade já presente na série.

O Co-Op está presente, e você pode jogar em grupo de até oito jogadores online. A forma de entrar e sair das sessões é bem simples e funciona bem. O progresso da história também é mantido para ambos os jogadores. Apesar de não ter o crossplay entre plataformas, existe a possibilidade de jogar entre gerações, permitindo que os jogadores de Xbox One e Xbox Series X|S joguem juntos. Também é possível entrar em sessões aleatórias de outros jogadores, refinando a busca por Atos, missões, Bosses, áreas… Não existe a possibilidade de Co-Op local.

Para quem for jogar sozinho, ou quer uma ajuda extra mesmo jogando com amigos, ainda existem os Mercenários, que você pode contratar para te ajudar em combate. Eles também precisam ser equipados, senão morrem facilmente. Antes de contratar um novo Mercenário, lembre-se de retirar os itens de seu antigo aliado, pois do contrário eles serão perdidos para sempre. Caso seu companheiro morra, você pode trazê-lo de volta, mas isso lhe custará cada vez mais Gold, que é a moeda padrão do jogo.

Tentei explicar o máximo possível das mecânicas, para que vocês tenham uma boa quantidade de informação antes de mergulhar nessa jornada.

Um trabalho de recriação impressionante, mas os servidores…

O grande foco de Diablo II: Resurrected é trazer o clássico de volta, mas com gráficos e performance agradáveis, pois mesmo com todo o amor dos jogadores pelo jogo de 2000, ele está totalmente datado e não se apresenta nada bem para a atualidade. Essa nova versão traz uma completa renderização 3D baseada em física, iluminação dinâmica, animações e efeitos de feitiço renovados, resolução de até 4K, apresentando um resultado incrível, com melhorias visuais que o colocam de frente com os jogos modernos, mas mantendo toda a atmosfera do original. Tudo está mais bonito e fluido, mas o ar sombrio, e até mesmo antiquado, ainda está lá, adicionando um charme extra.

Jogando no Xbox Series X ainda pude me aproveitar de loadings super rápidos que não quebram a ação, além da possibilidade escolher entre o modos Qualidade (prioriza resolução, com 30FPS) e Desempenho (60FPS e resolução dinâmica). Eu recomendo jogar no Desempenho, pois o pequeno ganho de resolução do Qualidade não vale a pena ao custo de framerate.

O jogo também possibilita que a qualquer momento possamos alternar entre os gráficos, e som, do jogo original e os da versão Resurrected, de forma que podemos conferir como todo o trabalho de recriação foi impressionante.

Apesar de todo esse belo trabalho de recriação, o jogo sofre com muitos problemas relacionados aos seus servidores. Nos primeiros dias estava quase impossível jogar, com jogadores derrubados constantemente de suas sessões, personagens que ficavam presos sem permitir que os jogadores retornassem para seus jogos e até mesmo personagens que desapareciam. Apesar do estado do jogo ter melhorado consideravelmente, alguns problemas persistem como lags constantes, convites que não chegam para os amigos e desconexões. O lado bom é que não é mais algo recorrente, mas ainda tem espaço para muitas melhorias, principalmente se tratando de um jogo que vem da Activision-Blizzard, que já tem ampla experiência em jogos online, então esses problemas não deveriam ser tão presentes no jogo.

Especificamente para Xbox Series X|S, Diablo II: Resurrected possui suporte para Quick Resume, com o qual o jogador que estiver jogando offline, poderá retornar para sua jornada do ponto onde parou, sem precisar passar por todas as telas de loading iniciais, voltando para sua jogatina instantaneamente. Além disso, ele é um título com suporte para o Smart Delivery, o que significa que aqueles que adquirirem o jogo no Xbox One, poderão atualizá-lo gratuitamente para o Xbox Series X|S quando trocarem de console.

A trilha sonora também recebeu uma atenção especial dos desenvolvedores, com temas refeitos para suporte de som surround Dolby 7.1. Os temas musicais trazem com força a atmosfera sombria e pesada do universo de Diablo 2, e eu fiquei realmente impressionada da forma como a trilha sonora abraça com perfeição o que estamos vendo na tela.

O jogo está todo dublado em Português do Brasil com um belo trabalho de localização. Os diálogos e menus também estão legendados em PT-BR.

Opinião

O trabalho de reciação de um clássico visto em Diablo II: Resurrected é realmente impressionante. As melhorias gráficas de desempenho fazem bem para o título, que possui suas duas décadas de vidas, mas não o distancia de suas raízes, pois ele continua com seu estilo mais sombrio e pesado, além de sua jogabilidade mais antiga. Apesar da nova roupa, ele ainda é um jogo de outros tempos, e isso fica claro nas poucas melhorias de qualidade de vida que essa versão recebeu.

No início desta análise, eu indaguei se Resurrected seria interessante para um novo jogador ou se tratava de nova versão feita com veteranos em mente, e agora eu tenho certeza que o foco principal foi oferecer um título atualizado para os jogadores que ainda jogam Diablo 2, ou sentem muita saudade do jogo original. Após terminar minha campanha e estar jogando tudo de novo agora no Pesadelo, eu posso falar que apesar de gerar curiosidade do novo jogador, ele os afasta na mesma medida, com a falta de melhorias para deixar o título um pouco mais atual, sem o descaracterizar. A decisão foi optar pelo caminho mais simples, atualizando seus gráficos e mantendo praticamente todas as suas mecânicas, boas ou ruins, intactas. Para mim, faltou equilíbrio. Apesar dele ser uma viciante máquina de gameplay que te mantém vidrado nele, você vai precisar entendê-lo e aceitá-lo como é, eu optei pela adaptação, pois realmente curti toda a sua proposta.

Não é o jogo que vai acender a chama de novos jogadores pela franquia Diablo, ainda assim é uma boa mudança de ares para acostumar o público com a atmosfera mais sombria que a franquia vai assumir em seu próximo capitulo.


Entenda as nossas notas.



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