O Xbox é o lar da diversidade e criatividade, no qual várias equipes da Xbox Game Studios conseguem usar e abusar do seu talento para criar jogos que atingem o nosso coração. A Double Fine é um desses estúdios, que trabalha para dar diversidade para a plataforma. Quem não se lembra de Brutal Legend, Grim Fandango ou Day of the Tentacle? Essas obras se tornaram épicas, e para sempre serão lembradas pelos jogadores.
Um dos jogos mais incríveis da Double Fine, que não teve o seu merecido destaque por parte do público, foi Psychonauts. Um jogo de plataforma muito criativo, com um jogabilidade bem fora da caixinha, que me encantou pela sua magia, afinal quem não gostaria de viajar na mente de várias figuras.
Essa premissa me prendeu há 16 anos atrás, e me conquistou com seus personagens carismáticos. Agora, em pleno 2021, a Double Fine conseguiu seguir com seu sonho de lançar Psychonauts 2. Após uma campanha de financiamento, e depois melhorar todo o projeto com o investimento da Microsoft, eles deixaram de ser um estúdio pequeno para fazer parte de um grande grupo, recebendo recursos para realizar os seus mais ambiciosos sonhos.
Será, que após tantos anos, o jogo conseguirá encantar os jogadores, ou ele foi lançado fora de seu tempo? Descubra em nossa análise a seguir.
OS PSICONAUTAS
Nos primeiros minutos de Psychonauts 2 temos um resumo do que aconteceu no primeiro jogo, que é situado exatamente 3 dias antes. Uma apresentação muito boa, que consegue dar informações do que aconteceu para os jogadores antigos e apresentar o jogo para os novatos.
Após essa apresentação, embarcamos em uma missão que já mostra o que podemos esperar do jogo. Uso inteligente dos poderes, viagens profundas ao subconsciente, tudo que deu muito certo no primeiro título, novamente é colocado em foco, mas com proporções ainda maiores.
Durante a missão somos reapresentados há alguns rostos conhecidos, como Sasha, Lili e também o medonho Dr. Loboto, o vilão do jogo anterior. A sequência inicial foca bastante nisso, em procurar quem estava por trás do vilão, e isso será um ponto bem positivo, que falaremos mais adiante.
O grande diferencial de Psychonauts 2 é dar importância a seus coadjuvantes, com cenas ricas de conteúdo e diálogos bem escritos. Assim como em um filme, Tim Schafer dirige cada cena perfeitamente, criando um laço com o jogador. Outro ponto interessante é seu bom humor, trazendo personagens com vários diálogos cheios de piadas e que realmente te fazem sorrir, e outros que chegam até mesmo a emocionar.
BEM VINDO AO CORTEX CENTRAL
Assim que acaba nossa primeira missão somos apresentados ao QG dos Psiconautas, um lugar que Raz sempre sonhou em conhecer, afinal ele, mais do que ninguém, conhece cada história do grupo de telepatas.
O quartel general possui instalações bem curiosas, com muitos candidatos espalhados pelos corredores, além de salas de aula, laboratórios e tudo o que Raz sempre imaginou. O Cortex Central é bem vivo, com crianças brincando com seus poderes e alguns agentes responsáveis por cada setor.
Raz agora deve treinar para ser o melhor Psiconauta, tendo que resolver outras questões bem sérias que estão acontecendo por todo o Cortex. Como todo grande cérebro, o cortex não se trata somente da instalação central, tendo várias áreas em volta da grande estrutura. Em cada lugar explorado por Raz somos apresentados a novos e antigos personagens, trazendo mais peso para a história, nada está ali por estar, tudo está interligado.
Como a área do Cortex é bem extensa, temos tuneis que são utilizados como pontos de viagem rápida, ajudando na locomoção de nosso herói.
UMA VIAGEM A NOSSA MENTE
O que seria de uma boa história para Psychonauts 2 se não fossem sua viagens aos confins do subconsciente humano? Assim como no primeiro jogo, Raz possui a habilidade de entrar na mente de alguns personagens, e explorar seus medos, segredos e, principalmente, situações não resolvidas.
A mente do personagem que entramos gera um local que muda de acordo com os pensamentos alterados por Raz. Cada aventura é uma situação a ser resolvida, que terá consequências no mundo real. Cada missão tem um aspecto diferente, nos surpreendendo a cada missão que embarcamos. Além disso, toda a trama é bem amarrada, ligando um acontecimento a outro. Logo, tudo que for explorado por Raz traz uma consequência para a história.
Cada mente tem um estilo de arte e também um esquema único de mapa, que explora bastante a verticalidade e uso dos poderes de Raz, que vou falar mais adiante nessa análise.
Outro ponto interessante dessa viagem é que existem algumas missões muito loucas, dignas da mente insana de Tim Schafer. Facilmente o jogador vai guardar em sua memória as missões preferidas. Como, por exemplo, uma fase no qual temos uma dinâmica semelhante ao jogo Overcooked, na qual o jogador deve montar os pratos escolhidos. Imagine isso com poderes psíquicos, louco não?
Dentro de cada mente existem coletáveis, com os quais podemos descobrir alguns segredos que trazem mais entendimento para a história, como por exemplo as bagagens emocionais e cofres, que muitas vezes precisam de chaves espalhadas pelo cenário para serem desbloqueados.
Nossa mente pode ser o maior inimigo, e isso se reflete no clímax das mentes que viajamos, com um chefe de fase que possui características do principal problema da pessoa. Essa batalha contra o chefe traz desafios e também bom humor, além de trazer várias interações para vencer nosso grande inimigo, como, por exemplo, usar um objeto para baixar a sua guarda.
UMA HISTÓRIA PROFUNDA
A trama de Psychonauts 2 é incrível e facilmente entrará para o hall das melhores, com momentos de explodir a sua cabeça. Confesso que me surpreendi com o amadurecimento de alguns temas que foram inseridos. Além de dar muito sentimento para o nosso protagonista, a história também é cheia de momentos de apertar o coração.
Raz questiona em vários momentos o que está acontecendo, assim como eu também fiquei pensando nas situações que enfrentamos, algo que bota a cabeça do jogador para pensar e até mesmo criar teorias.
A grande ameaça do jogo é bem construída e alimentada com informações a todo instante, nos oferecendo outros pontos de vista. Como disse, cada ponta solta é bem amarrada, inclusive com coisas que foram implantadas na cabeça do jogador sem que ele perceba.
Lembra que falei da importância das viagens a mente humana? Temos também missões secundárias que ajudam a entender mais dessa história. A resolução da trama é muito boa e pavimentada com momentos de muita emoção e descoberta. Fiquei muito feliz e esperançoso com o futuro da Double Fine.
UM PASSO A FRENTE
Além de Psychonauts 2 ter uma história incrível, a sua jogabilidade é muito boa, cheia de recursos. Pouco a pouco somos apresentados a novos poderes, que facilitam bastante na hora de se locomover pelos confins da mente humana.
Além de ir a diferentes lugares, Raz consegue acessá-los através de caminhos que utilizam os seus poderes. Seja por cordas, trampolins ou até mesmo plataformas instáveis. Assim que chegamos a uma nova mente temos um novo desafio pela frente. A precisão dos comandos também é muito boa, fazendo com que o jogador tenha prazer em jogar.
O que seria de um bom telepata sem seus poderes. Raz já era bem poderoso no primeiro jogo, mas aqui ele foi além, com poderes bem úteis.
Abaixo vou falar um pouco da minha experiência com cada um deles.
- Levitação – uma bola de energia que podemos planar e rolar para avançar mais rápido no terreno;
- Rajada Psi – um poderoso laser que pode acertar inimigos a curta e longa distância;
- Clarividência – possibilidade de entrar na mente de alguns inimigos e até mesmo amigos, mostrando alguns segredos, e também momentos hilários.
- PIrocinese – o tradicional poder de queimar as coisas, objetos e também inimigos;
- Telecinesia – podemos lançar objetos e resolver alguns quebra cabeças;
- Bolha temporal – uma bolha que pode reduzir a velocidade dos inimigos ou objetos, facilitando a nossa passagem;
- Conexão Mental – utilizado para se prender em um ponto e partir para outro, além de conectar ideias e mudar os pensamentos da pessoa;
- Projeção – um dos poderes mais legais. Raz cria uma projeção sua em um rabisco, que pode ajudar em quebra-cabeças e atrapalhar os inimigos em combate, além de ajudar com cura;
- Combate corpo a corpo – o combate é bem legal, com socos mentais, rolamento com socos e até mesmo Raz se lançando para dar um soco nos inimigos no chão.
Os poderes podem ser alocados em quatro botões, com a escolha através de uma roda de poderes, algo que já existia no original.
O sistema de evolução é bem dinâmico, com melhorias nos próprios poderes ao subir de nível. Para conseguir mais experiência, devemos coletar alguns pensamentos coloridos espalhados pela fases. Ou através de itens espalhados por todo o mundo. Algumas melhorias só estão disponíveis em níveis mais altos, então evolua primeiro os poderes que mais utiliza.
Existem alguns cartões que ao serem combinados com um item especial, podemos aumentar um nível. Esse item especial pode ser comprado em máquinas do Otto, que é um personagem do jogo. Outros itens podem ser comprados, como balas de restauração de energia ou os famosos broches que são usados para alterar as características de nossos poderes. Dentre essas melhorias estão uma dançinha, a cor da bola de levitação e um soco mais poderoso. Lembrando que só podem ser escolhidos 3 broches, então use com sabedoria.
ACESSIBILIDADE
Um ponto interessante, e também muito importante, é oferecer acessibilidade para os jogadores. Psychonauts 2 traz o modo invencível, por exemplo, que ignora totalmente o dano. Esse aspecto ajuda bastante quem possui dificuldades e deseja terminar o jogo, para fechar sua história, mesmo que ele seja fácil em vários momentos. Sinto que ele poderia ser mais difícil, com mais desafio para o jogador mais experiente.
Lógico que isso não é algo que estraga a experiência, mas pode ser um feedback para os próximos jogos da Double Fine.
SOM E GRÁFICOS
Os gráficos desenvolvidos na Unreal Engine deram um bom salto desde os primeiros anúncios do jogo. A direção de arte é incrível, algo que sempre foi um destaque desde o primeiro jogo, e que continua sendo um dos pontos que mais chamam a atenção. Nos aventuramos por fases totalmente diferentes umas das outras, surpreendendo em vários momentos.
O som é muito bom, com efeitos cheios de detalhes, além de um trilha sonora inesquecível. Algo que a Double Fine sabe fazer.
Psychonauts 2 possui legendas e menus em Português do Brasil, algo que ajuda o jogador mais novato a entender rapidamente aquele mundo louco. Alguns textos de pôsteres também foram traduzidos, mostrando que o trabalho de localização foi feito com muito carinho. A adição de uma dublagem em nosso idioma seria uma ótima opção, mas a falta dela não prejudica a experiência.
OPINIÃO
Psychonauts 2 é um dos melhores jogos que já joguei, ultrapassando o primeiro em muitos quesitos, principalmente em sua história que é muito bem escrita e dirigida. Fiquei extremamente feliz por ver que um dos meus jogos preferidos do Xbox ganhou uma sequência de respeito. A jogabilidade também evoluiu, pegando diversas inspirações em jogos modernos de plataforma, principalmente no uso dos poderes, que utilizam tudo o que o cenário pode oferecer. As diferentes mentes que podemos viajar fazem com que a direção de arte abuse de cores e formas, algo que nem todos os jogos conseguem fazer com maestria, mas aqui recebemos esse resultado incrível.
O único problema, para mim, é que confundiram acessibilidade com facilidade, e senti que o jogo se apresenta um pouco fácil demais.
No geral temos uma obra prima sólida e que vai conquistar muitos jogadores. Seja bem vinda Double Fine, o seu futuro é brilhante.
O jogo foi cedido gentilmente pela Xbox Brasil para a realização desta análise.
*Certifique que este é o preço praticado antes de efetuar a compra. Os valores podem variar.