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Análise – Assassin’s Creed Valhalla: O Cerco de Paris

Em Assassin’s Creed Valhalla a Ubisoft pegou carona no sucesso do tema Viking, que continua em alta nas mais diversas mídias. Continuando sua saga para mostrar as origens de Assassinos e Templários, o estúdio segue se afastando, cada vez mais, a cada jogo, de falar sobre a história de sua franquia, que parece figurar apenas no nome para chamar a atenção. Valhalla é um jogo realmente muito bom, não me entendam errado, mas ele fez a narrativa da série avançar a passos de formiga, mesmo que tenha trazido boas revelações, principalmente sobre os tempos modernos, mas que de uma forma geral são acontecimentos sempre tocados de forma superficial. Acredito que isso não deveria acontecer, afinal de contas ainda estamos falando de Assassin’s Creed, ou não?

A primeira expansão, A Ira dos Druidas (Confira a análise), nos levou para a Irlanda e se apresentou apenas como mais uma aventura para Eivor, sem trazer nenhum desdobramento da história do jogo base ou novas informações sobre os Ocultos. Agora, chegou a vez de O Cerco de Paris, que mergulha em personagens históricos e traz aquele potencial de desenvolver uma possível presença dos Ocultos e da Ordem dos Anciões na França. Será que isso acontece ou recebemos mais do mesmo? Vamos conversar sobre a expansão e o também um pouco do futuro de Assassin’s Creed nessa análise.

Mergulho na história com bons personagens

A trama de O Cerco de Paris leva Eivor para a Frância onde a promessa era de que iriamos mergulhar na batalha mais ambiciosa da história dos Vikings. O Rei Carlos, o Gordo, está avançando de forma impiedosa contra os nórdicos, que ele considera que devem ser expurgados de suas terras. Eivor busca forjar alianças afim de evitar que a sede de sangue de Carlos chegue até a Inglaterra, colocando em risco o seu clã. Mais uma vez estamos no meio de líderes cheios de orgulho, cegos pelo desejo de vingança e sem nenhuma vontade de realizar acordos. Até mesmo Eivor parece cansada de reviver sempre o mesmo ciclo em suas histórias, onde os líderes vivem reclamando e matando uns aos outros.

A história é interessante de acompanhar, e ver novamente uma figura histórica sendo desenvolvida com outro ponto de vista é realmente muito bom, já que essa sempre foi uma das forças narrativas da saga. O Rei Carlos se mostrou como um bom antagonista, cheio de nuances de personalidade que agregaram um ar de tensão constante no ar. Os demais personagens, sejam os aliados de Eivor ou seus inimigos, foram muito bem desenvolvidos, sempre sendo figuras interessantes em tela.

Já a narrativa em si, ela não consegue manter o nível de seus personagens. Tudo passa muito rápido, sem trazer um peso para essa nova aventura de Eivor. Se tratando da tão falada batalha mais importante da história dos Vikings, tudo parece uma grande oportunidade perdida. Era o momento de trazer personagens de volta, criar um cerco realmente impactante e com grandes batalhas, mas tudo passa num piscar de olhos e sem momentos memoráveis. O aguardado Cerco de Paris, foi nada mais do que uma das muitas missões de invasões que fizemos no jogo base, e isso foi uma grande pena.

Sei que muitos jogadores não gostam quando o “final verdadeiro” acaba sendo disponibilizado apenas em um conteúdo extra, e apesar de não ver problema nisso, também entendo essa insatisfação quando acontece. Ainda assim, acredito que o medo de colocar acontecimentos importantes nas expansões esvaziou os conteúdos adicionais de Valhalla, os tornando totalmente dispensáveis. Ambos não trazem desenvolvimento para Eivor, pois nada do que aconteceu no final do jogo base é citado ou parece ter impacto na protagonista, e justamente para não trazer essa importância de pós-jogo eles podem ser encaixados em qualquer momento antes do final do jogo principal. A realidade é que os conteúdos mais parecem ter sido retirados do jogo base, para serem comercializados a parte, do que algo pensado em trazer uma jornada adicional, pois não trazem nenhum desenvolvimento para Eivor, na verdade jogar isso após fechar o jogo, traz mais a sensação de desconexão total da personagem com sua jornada.

Se você esperava ver algum desenvolvimento ou novas informações sobre os Ocultos ou a Ordem dos Anciões, aí é que a decepção pode ser maior. Mesmo que os desenvolvedores não queiram avançar a história através de um DLC, existem diversas maneiras de adicionar informações sobre essas origens de Assassinos e Templários, afinal de contas ainda estamos em uma saga de origens, não? A franquia parece congelada no tempo e com Assassin’s Creed em destaque apenas no nome dos jogos. Valhala deu bons passos na trama dos tempos modernos, mas ficou apenas nisso.

O Cerco de Paris foi um final decepcionante para o Ano 1 de conteúdo, com dois DLCs que não adicionaram grandes novidades e não trouxeram praticamente nenhum desenvolvimento narrativo para Eivor e, principalmente, para o universo de Assassin’s Creed.

Poucas novidades e muita repetição das mesmas atividades de sempre

O Cerco de Paris traz poucas novidades para Assassin’s Creed Valhalla, e você encontrará muitas pedras para empilhar, papéis para correr atrás, locais amaldiçoados, incursões, altares e um animal lendário para lutar. Continuar fazendo as mesmas atividades, depois de mais de 100 horas de jogo, é complicado. Nas atividades de mapa a única grande novidade são os duelos contra os nobres francos, que nada mais é do que uma versão das lutas contra dos Drengrs do jogo base, mas agora com um tipo de inimigo diferente.

Fora das atividades que encontramos no mundo, a expansão traz as Missões Rebeldes, que lembram muito, mas muito mesmo, a estrutura dos Contratos Comerciais que foram introduzidos em A Ira dos Druidas. Precisamos ir em um local para encontrar algum item ou eliminar alguém. A diferença aqui é que podemos ter ao nosso lado rebeldes que são controlados por IA. Ao completar as missões, dependendo do nosso desempenho, ganhamos uma nova moeda que serve para desbloquear itens como um novo set de equipamentos e melhorias para utilizar nessas atividades. Depois de chegar no nível 2, eu simplesmente perdi o interesse, seja por causa das recompensas que não me chamaram a atenção ou pelas próprias missões, que se tornam repetitivas rapidamente. A não ser que você esteja buscando Conquistas, esse sistema pode ser facilmente dispensado da sua jornada.

Por outro lado, tivemos a volta das missões Black Box, ou missões de infiltração, nas quais o jogador possui liberdade para eliminar seu alvo como quiser. Quando vamos eliminar nossos principais alvos em O Cerco de Paris, conforme analisamos e exploramos bem os ambientes, podemos encontrar dicas de situações que podemos criar para ativar um assassinato especial, que nos recompensa com interessantes cenas adicionais. As opções são limitadas e não requerem tanto esforço para que encontremos as pistas, mas mesmo que falte muito da profundidade desse sistema, como ocorre nos jogos mais antigos, foi uma boa adição, que tirou as missões de assassinato da mesmice.

Aproveitando todo o contexto histórico da praga e das famigeradas hordas de ratos muito citadas dentro deste período, a Ubisoft adicionou os ratos como uma nova mecânica. Em alguns lugares, geralmente nos mais profundos da cidade, existem pequenos grupos de ratos no nosso caminho, como eles não podem ser mortos precisamos tirá-los do nosso caminho. Podemos simplesmente usar nossa arma para empurrá-los para dentro de buracos, que eles ficam lá por algum tempo antes de sair de novamente, nos dando tempo para seguir adiante. Também é possível tampar esses buracos para que eles não saiam mais. A ideia foi boa, mas como você pode simplesmente usar sua arma para afastá-los, se tornou algo sem peso algum, seja para fins de combate ou puzzle. A Plague Tale: Innocence, por exemplo, usou essa mecânica de forma muito densa e inteligente recentemente, e em Valhalla parece que só foi colocado para dizer que teve, pois não traz impacto algum.

Existem dois conjuntos de armaduras para coletar e a adição das Foices, que trazem uma boa opção para o combate. A arma é bem interessante contra os Cavaleiros Francos, que lutam conosco de cima de seus cavalos, adicionando uma variação de batalha interessante. Novas Aptidões também foram adicionadas, como uma flecha que funciona como isca de ratos que avançam para atacar os inimigos próximos.

Quanto a duração, se você explorar bastante e buscar 100% do mapa, pode chegar em cerca de 10 horas, mas essa duração pode cair pela metade caso explore superficialmente seguindo a trama e completando apenas atividades principais.

Ambientação interessante, mas o jogo ainda tem muitos bugs

Ao contrário de A Ira dos Druidas, que parecia um recorte do mapa da Inglaterra, o reino da Frância traz uma personalidade mais própria. Sejam os campos com flores coloridas, locais destruídos pela guerra, com corpos pendurados e carbonizados, ou ainda ver que a cidade está brutalmente atingida pela peste, com casas marcadas de vermelho, e ratos em alguns lugares, reforçando a presença da praga. Mesmo que os ratos tenham sido mal utilizados como mecânica de gameplay, sua presença deixa claro o estado deprimente das profundezas de Paris. Um pacote que traz personalidade para o conteúdo, de forma que realmente nos sentimos explorando outra região.

Algo que me chamou a atenção, dessa vez de forma negativa, é que, mesmo após tantos meses do lançamento, Assassin’s Creed Valhalla ainda sofre com muitos dos mesmos problemas. Salvamentos que dão erro, te obrigando a voltar para o menu inicial, perdendo parte do seu progresso. E agora tem a novidade de alguma incompatibilidade com o Quick Resume, que toda vez que eu voltei usando o recurso de Xbox Series X|S ocorreriam problemas de salvamento, ou o jogo não reconhecia complementos e até mesmo mudou o idioma de fala. Para evitar problemas, parei de usar a funcionalidade, e sempre salvei antes de sair, fechando o jogo completamente. Isso é algo novo, já que até então tudo funcionava perfeitamente.

A parte sonora é boa, com temas que embalam bem a jornada, mas nada muito diferente do que já havia em Valhalla desde então, mas é tudo bem sólido e bem feito. As vozes originais combinam bem com os novos personagens e valorizam as falas e cenas. A dublagem brasileira é boa, mas ainda está aquém do trabalho original, que é realmente muito bom. O conteúdo também segue todo com legendas e menus PT-BR.

Opinião

O Cerco de Paris adiciona uma interessante história adicional para Assassin’s Creed Valhalla, que ganha força com personagens carismáticos. No entanto, não leva o desenvolvimento de Eivor adiante, apenas nos apresentando mais uma jornada que se encaixaria perfeitamente em qualquer momento do jogo base. Se você esperava por alguma novidade sobre os Assassinos (lembra deles?) irá se decepcionar, pois eles são superficialmente explorados. Depois de jogar o jogo principal e a Ira dos Druidas, essa nova expansão não me empolgou, pois oferece uma exaustiva repetição de tudo o que já experimentamos até então. A adição das missões de infiltração foi um belo sopro de ar fresco, mas não foi o suficiente para não deixar a impressão de que o Ano 1 do Season Pass ficou devendo.

Caso você tenha gostado muito do jogo principal e só quer fazer mais missões com Eivor, essas expansões podem ser conteúdos agradáveis, mas ressalto que acrescentam pouca variedade para a experiência geral. Além disso, por não acrescentarem nada para o desenvolvimento de Eivor, também se tornam dispensáveis do ponto de vista narrativo. Se você busca apenas por mais algumas aventuras Vikings com Eivor, eu sugiro que espere para adquirir apenas com uma boa promoção.

Espero que para o Ano 2 do Season Pass, bem como o próximo jogo da saga, a Ubisoft desenvolva de forma mais profunda o universo de Assassin’s Creed, para que os conteúdos levem a franquia para a frente e não a deixem parada no tempo, apenas oferecendo um bom jogo com um nome forte carregando ele. Um nome que não tem recebido tanta importância dentro dos seus próprios jogos. Dizem por aí que a esperança é a última que morre, então sigo esperançosa.

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