O Cyberpunk é um dos temas mais explorados nos últimos anos, seja nos jogos ou mesmo no cinema. A realidade que muitos humanos desejam para o futuro é algo cheio de possiblidades. Acredito que poucos jogos conseguiram retratar com maestria esse gênero tão popular e que sempre está em alta.
Foreclosed é um desses jogos, que viu o tema do momento e embarcou nessa ideia. Ele aposta em um estilo de quadrinhos e uma história cheia de perigos para encantar o jogador. Será que ele consegue trazer um diferencial para o tema ou é só mais do mesmo?
HISTÓRIA BACANA
Em Foreclosed acompanhamos a história de Evan Kapnos, que acorda em um dia normal como outro qualquer, mas descobre que teve sua identidade cancelada. Além disso, foi demitido da empresa que trabalhava em circunstâncias misteriosas. Esse cancelamento faz com que o jogador tenha que ir a um tribunal, para que recupere sua vida normal. Mas não será nada fácil, pois Kapnos está sendo caçado por homens misteriosos, e deve procurar uma saída o mais rápido possível.
A cena inicial de fuga é bem desenvolvida, com uma mistura de momentos de tensão e pausa para pensar e agir. Esse começo serve como um tutorial para o jogador aprender as principais mecânicas do jogo. Após essa introdução, seguimos em frente até encontrar uma personagem que serve para conduzir a história. Tudo se parece com o que vimos em muitas obras do gênero, com grandes corporações por trás de tudo, e você sendo afetado por essas empresas.
Pouco a pouco vamos descobrindo tudo o que está por trás desse cancelamento, e o que isso pode representar para o protagonista.
O que seria de uma boa história sem um vilão? No entanto, aqui, infelizmente, ele não é bem construído. Temos poucos encontros com o mesmo, e o que parecia ser um personagem interessante, nos deixa com aquele sentimento de que faltou mais desenvolvimento. Isso vale para ele e para alguns outros personagens.
A história possui algumas surpresas, mas nada que o jogador lembrará por muitos anos. O jogo se prende aos clichês do tema e não consegue criar algo muito diferente, e acaba que não temos um apelo emocional com o protagonista, ou mesmo com os outros personagens.
Existem dois finais possíveis para Foreclosed, que definem o futuro de Kapnos. Os desfechos são interessantes, mas se resumem a uma escolha de diálogo, o que, para mim, é algo muito simplista.
UMA CIDADE QUE RESPIRA O CYBERPUNK
A direção de arte de Foreclosed é o grande ponto alto, com um belo desenvolvimento de elementos do estilo Cyberpunk. Desde as construções, que possuem aquela arquitetura semelhante a filmes como Blade Runner, até mesmo os veículos voadores, computadores, drones e muito neon em cada esquina. Esses elementos são bem explorados e dão contexto para a história, nos fazendo realmente embarcar naquele mundo cheio de tecnologia.
Assim que acordamos no quarto de Kapnos, temos o primeiro contato com aquele mundo, é uma ótima introdução aos principais elementos do estilo, que são revelados sem forçar a barra, dando tempo para analisar cada elemento na tela.
PODERIA SER MELHOR
Um dos principais atrativos de um jogo é a sua jogabilidade, que mesmo com uma estética linda e uma história interessante, se não tiver um bom gameplay pode levar toda a qualidade para baixo. Aqui temos o grande elefante branco na sala, com um jogo que poderia ser muito bom, mas fica bem abaixo disso, pois falha feio em algumas mecânicas básicas.
Foreclosed tem como a sua principal mecânica o shooter em terceira pessoa, no qual o jogador possui uma pistola e alguns poderes cibernéticos. Essa mistura até parece ser boa na teoria, mas na pratica fica tudo esquisito e estranho de se jogar. A mira não é precisa e tem uma sensibilidade horrível, tirando aquele prazer do tiroteio.
Outro ponto que é muito mal desenvolvido é o cover, que praticamente é inexistente, sendo algo totalmente arcaico, tendo que o jogador abaixar ou parar atrás de pilastras para se esconder dos tiros. O cover faz muita falta, pois além de ter inimigos difíceis de acertar, o seu posicionamento é complicado, criando uma dificuldade sem necessidade.
Os poderes até parecem ser interessantes, mas são meio frustrantes, ainda por cima em vários momentos que, por motivo nenhum, eles são resetados precisando ter que alocar todos novamente. Os upgrades de Kapnos são todos gerados através de seus implantes cibernéticos, que são divididos em poderes e melhorias para a sua pistola. Sim, o protagonista possui somente uma única arma.
Kapnos pode atribuir somente 3 poderes cibernéticos e 3 melhorias para a sua arma, então escolha sua melhor configuração na roda de implantes. Podemos comprar novos implantes quando avançamos de level através de experiência, que pode ser adquirida ao eliminar inimigos e ao encontrar um tipo de coletável.
Abaixo vou descrever minhas experiência com os principais poderes.
- Escudo cibernético – Esse é um dos poderes mais uteis, que ajuda a reduzir o dano causado pelos inimigos.
- Descarga elétrica – Aqui temos um poder que causa dano elétrico em alguns inimigos, ficando quase que inútil nas fases finais.
- Levitar inimigos – Esse poder eleva os inimigos no ar, dando mais oportunidade de acertar alguns inimigos que ficam escondidos.
- Levitar objetos – Lançar objetos é um habilidade que pode fazer com que o jogador escape de situações perigosas.
Já aqui vou descrever minhas experiências com os principais upgrades das armas.
- Balas com precisão – Uma melhoria um pouco inútil, afinal, a precisão é muito ruim, não tendo tanta diferença assim.
- Balas que penetram armadura – Caso o seu inimigo tenha armadura, podemos usar esse upgrade para ter mais poder de penetração.
- Balas cibernéticas – Esse poder desvia as balas para dar mais dano nos inimigos.
Além disso, podemos derrubar nossos inimigos silenciosamente, através de uma descarga em seu chip neural, para isso devemos nos aproximar e usar um botão de ação. Essas partes de stealth são um dos grandes acertos do jogo, que aliado ao hackeamento dão boas doses de diversão e desafio.
Falando em hackear, a ação é bem simples, pedindo somente uma combinação de botões para o feito, mas não pense que será fácil, pois em algumas partes somos desafiados em áreas monitoradas por drones. Além disso, o jogo possui um único quebra-cabeça com uma sincronia de ondas, que na terceira vez fazendo já estamos enjoados.
SOM E GRÁFICOS
A direção de arte de Foreclosed é a sua parte mais sólida, no qual temos um esquema parecido com o lendário Comix Zone, que divide a tela como se fosse uma história em quadrinhos, logicamente que nem todas as cenas são desenvolvidas nessa câmera, mas é um recurso que mescla bem cutscenes e gameplay. Os gráficos também combinam com esse estilo HQ, que roda perfeitamente, sem bugs aparentes.
O som também cumpre seu papel, com uma trilha que remete ao gênero. Todo o jogo é legendado em Português do Brasil, o que ajuda bastante no entendimento da trama. O único problema que encontrei nesse quesito foi a diagramação das legendas, que acaba comendo palavras com cedilha e til, algo que pode ser corrigido em futuras atualizações.
OPINIÃO
Foreclosed não é um jogo ruim, pelo contrário, ele possui uma história interessante, além de uma estética incrível. Mas ele falha imensamente na sua jogabilidade, algo que ofusca o trabalho maravilhoso da direção de arte.
A história é interessante, mas se prende demais aos clichês, fazendo com que o jogador não tenha tanta surpresa. A precisão da única arma é ruim, além dos poderes serem mal construídos. Foi algo bem frustrante, ver um enorme potencial sendo jogado fora, ficando claro que faltou muito polimento. Algumas mecânicas como stealth e hackeamento são sólidas e atendem a proposta do jogo, dando uma sensação boa de que pelo menos algumas coisas funcionaram.
Foreclosed poderia ser muito mais do que foi, principalmente por não termos tantos jogos com essa estética de quadrinhos. Fica claro que a pandemia atrapalhou bastante o desenvolvimento, que poderia ser adiado para trabalhar melhor a jogabilidade, algo que é de máxima importância.
*Certifique que este é o preço praticado antes de efetuar a compra. Os valores podem variar.