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Análise – The Ascent

Assim que foi anunciado, The Ascent chamou a atenção por sua bela atmosfera cyberpunk dentro de um RPG de ação, focado em um tiroteio mais tático e com diversas possibilidades de criações de estratégias, que envolvem mecânicas de cyberware, augmentações e loot. O projeto da Neon Giant sempre teve esse tom ambicioso, mesmo sendo desenvolvido por apenas 12 pessoas. Apesar de ter em sua equipe profissionais que já trabalharam em franquias como Wolfenstein e Gears of War, a responsabilidade desse escopo tão grandioso é evidente, ainda mais com toda a visibilidade de estar no Xbox Game Pass.

Com uma trama que destaca corporações e sindicatos do crime buscando controle de um mundo em colapso, The Ascent ainda permite que você experimente essa jornada sozinho ou ao lado dos amigos. Será que ele tem gás para manter o interesse do jogador do início ao fim? Confira em nossa análise.

Potencial narrativo, mas com execução desinteressante

A trama se move em torno do poderoso grupo The Ascent, que elevou e, inicialmente, controlou a metrópole corporativa conhecida como Arcologia, no planeta Veles, que dentro de um universo em colapso, passou a ser o destino das mais diversas raças da galáxia. No entanto, a The Ascent fechou seus negócios de forma misteriosa, o que acirrou a disputa pelo poder entre diversas outras corporações e também organizações do crime. No meio de toda essa disputa está você, mais um dos tantos outros que forma escravizados e transformados em operários, que agora, com o declínio da megacorporação, deve pegar nas armas para defender o que restou do seu setor, antes que o caos se instaure ainda mais.

Muitos dos jogos que seguem a linha dos ARPGs não possuem tramas lá muito elaboradas, e, infelizmente, The Ascent é um deles. O jogo traz em sua narrativa problemas sociais sempre atuais, como a divisão de classes, onde os pobres são jogados nos esgotos de Veles, enquanto os ricos vivem nos luxuosos e modernos e distritos mais altos. Trabalhadores envolvidos em tramas sombrias das corporações e bandidos altamente modificados espalhando o terror por onde passam. Apesar da base da trama ser extremamente interessante, tudo é desenvolvido de forma rasa, dificultando nosso engajamento com sua história.

Durante as doze missões de história principal, você conhece diversos personagens que ajudam a expandir a narrativa. No entanto, conforme você percebe como tudo se desenvolve de forma desinteressante, e que esses mesmos personagens estão longe de serem memoráveis, você irá usar o botão “pular diálogo” com frequência para partir logo para o tiroteio, que é onde as coisas realmente ficam interessantes.

Gameplay frenético e cheio de possibilidades

Enquanto a trama de The Ascent é desinteressante, o mesmo não se pode falar do seu gameplay, bem como as diversas opções para explorar o seu mundo. Primeiro, você cria o seu personagem com algumas opções visuais não muito vastas, mas não é algo que faça muita diferença. A aparência também pode ser modificada a qualquer momento do jogo, bastando ir em um determinado NPC que vai te colocar na mesa de cirurgia para as suas alterações. No entanto, conforme você sobe de nível e instala mais melhorias no seu personagem, ele vai alterando a aparência se tornando cada vez mais cibernético.

Quanto as habilidades, elas podem são podem ser ativas, chamadas de Aprimoramentos. Esses poderes são bastante variados e alteram completamente a jogabilidade, pois formam um combo incrível com as armas. Podemos chamar robôs para lutar ao nosso lado, evocar uma horda de aranhas robóticas para chamar a atenção dos inimigos e explodi-los para danos massivos em área. Quem sabe evocar uma chuva de mísseis teleguiados ou um feixe de laser poderoso? Ou ainda ter um campo para gerar cura ou criar escudos de proteção? As possibilidades são muito vastas, e você pode combinar sempre duas delas, a qualquer momento, de acordo com as batalhas e seu estilo de jogar. Também temos o recursos chamados de Tático, que nos ajudam com granadas, campos de cura, escudo e outros mais. Por fim, existem as habilidades passivas, que aqui são chamadas de Espaço de Módulo. Elas aumentam status como poder de cura, recarga de habilidades, oferecem mais pontos de vida, e coisas do tipo. Um pacote bem divertido, com vastas possibilidades para criar estratégias para vencer as batalhas.

Algumas dessas habilidades podem ser encontradas em baús, outras compradas através dos vendedores ou ainda caem de bosses. Ainda existem baús e portas especiais chamadas de CIE, que para serem abertas precisam de melhorias no Cyberdeck, que é o nosso sistema de hacking. Com ele você pode hackear portas, baús, barris explosivos ou até mesmo máquinas de venda e caixas eletrônicos. Os itens para melhorar o Cyberdeck ficam escondidos pelos mapas, então quanto mais explorar, mais irá se tornar uma máquina de hack.

Além das habilidades acima, para expandir os sistemas de RPG, também temos uma série de atributos como vida, acerto crítico, defesa, pontaria…. Além de melhorar diretamente o seu personagem, esses atributos são importantes para melhorar armas e habilidades, pois aumentam status relativos a esses equipamentos, maximizando a eficiência de combate. Os pontos são ganhos ao subir de nível e também podem ser encontrados escondidos pelos mapas, incentivando a exploração minusciosa. Suas escolhas não são definitivas e com um pouco de uCred, que é a principal moeda do jogo, você pode redistribuir todo os seus pontos.

Em seu núcleo, The Ascent é um shooter isométrico, bem no estilo Twin Stick Shooter, que geralmente são jogos que requerem o uso dos dois botões analógicos para executar ações de movimento e câmera. Além de atirar e andar, você também pode rolar e pegar cobertura em diversas estruturas do mapa. Essa cobertura, inclusive, traz uma atmosfera bem gostosa de Gears of War, o que é natural. visto que alguns desenvolvedores já trabalharam na franquia da Microsoft. O sistema de cover funciona bem, traz mais profundidade para o gameplay e é essencial para passar de encontros mais complicados. Para usar o cover basta se abaixar atrás de algum objeto e assim usar o botão de mira para que o personagem automaticamente atire se protegendo do fogo inimigo.

O tiroteio em si, pode parecer estranho inicialmente, mas quando pegamos o jeito dos comandos a diversão é garantida. As armas são variadas, o que deixa tudo ainda mais interessante. Temos pistolas, submetralhadoras, escopetas, lança-foguetes e muito mais. Elas possuem estilos de projéteis e modelos automáticos e semi-automáticos, para você escolher de acordo com o seu gosto.

Essas armas podem ser melhoradas em um NPC que funciona como um ferreiro, aumentando seus status a cada nível otimizado. Os materiais para realizar essas melhorias podem ser encontrados nos mapas ou caem de determinados inimigos especiais.

Para nossa armadura podemos equipar três partes: cabeça, torso e calças. Elas não podem ser melhoradas, podemos apenas alternar entre modelos melhores. Tanto armas quanto armaduras podem ser dropadas de inimigos, e também podemos comprar em alguns vendedores espalhados pelas cidades, mas também achamos em baús e locais secretos, assim como as habilidades. Essas peças de armadura também possuem proteções especiais contra fogo ou energia, por exemplo, e podem ser importantes para passar de alguns chefões mais complicados.

A variedade de inimigos é ótima. Além de agressivos, muitos deles possuem habilidades especiais e sempre estão prontos para nos deixar encurralados. Também existem alguns inimigos especiais pelos mapas, que possuem recompensas em seu nome, e caso consigamos eliminá-los podemos conseguir uCred e equipamentos.

Os chefões são desafiadores e colocam o jogo em um novo patamar de dificuldade, pois além de pontos de vida mais extensos, eles trazem ataques mais devastadores. As atividades de proteção, onde precisamos sobreviver a ondas de inimigos, também é onde o jogo possui os maiores picos de dificuldade. Caso você não tenha um bom entendimento das habilidades e como a jogabilidade funciona, terá muitas dificuldades em passar dessas partes. Os inimigos também possuem fraquezas que podem ser exploradas com as mais diferentes habilidades e armas. Por exemplo, os robôs sofrem mais dano de energia, enquanto que seres orgânicos são mais fracos contra fogo. Parece muita informação, mas conforme você acumula horas no jogo tudo isso passa a fluir de forma natural. Caso esteja travado em alguma parte, o jogo também adicionou recentemente a alteração do nível de dificuldade (fácil, normal ou difícil).

O combate, de uma forma geral, segue aquela fórmula de fácil de entender, difícil de dominar. Isso acontece, pois apesar dos comandos simples, o jogo, como vimos acima, possui muitos detalhes que podem facilitar ou dificultar a sua jornada. Conforme avançamos pelos mapas e completamos as batalhas, mais familiarizados ficamos, o que transforma cada encontro em uma diversão sem fim. Combinar tiros com as habilidades, enquanto tentamos nos proteger da agressividade dos inimigos e vemos gigantes explosões na tela é realmente uma experiência prazerosa e frenética.

Enquanto as batalhas são recheadas de ação, o caminho até elas pode ser extremamente maçante. Mesmo com os seus deslumbrantes visuais, em determinados momentos fica cansativo ter que simplesmente andar de um lado para o outro sem que nada aconteça. Existe um sistema de viagem rápida, com o qual podemos nos deslocar com o Metrô ou Táxi, mas além de estarem disponíveis apenas em áreas abertas, também estão pouco preentes no mapa. Talvez a ocorrência de mais combates pelo caminho deixasse essa caminhada mais dinâmica.

A duração de The Ascent é bem interessante, concluí a história principal em cerca de 16 horas e fiz algumas secundárias, mas ainda existe uma boa quantidade delas para completar.

Problemas no Paraíso

Apesar da impressionante apresentação gráfica, com um mundo realmente impressionante de explorar, The Ascent possui alguns problemas técnicos chatos, que tiram um pouco do brilho do trabalho realizado pela ambiciosa Neon Giant. Existem bosses que simplesmente não aparecem ou surgem multiplicados, nos obrigando a voltar para o menu, para refazer tudo após o último ponto de controle. Um lado positivo é que o jogo salva constantemente, evitando grandes perdas de progresso. Ir para o menu principal também pode ser problemático, visto que muitas vezes o jogo simplesmente não completa a ação e temos que fechar completamente o jogo para poder reiniciar. Isso nos leva para os loadings, que no Xbox Series X são bem rápidos, mas que no Xbox One X demoram uma eternidade. Existe um bom loading inicial, que poderia ser perdoado caso não houvessem mais dessas telas de carregamento durante o jogo, mas sempre que usamos elevadores ou os meios de viagem rápida, esses loadings acontecem.

A interface também passa por problemas, e o mais recorrente deles é simplesmente sumir tudo e você fica sem conseguir visualizar barra de vida, energia, habilidades e armas. Os marcadores de mapa também são inconstantes, e por diversas vezes te guiam para o lugar errado. Os tutoriais também ficam aparecendo por diversas vezes na tela, mesmo aqueles que você já aprendeu. Algumas opções de diálogo também não foram totalmente traduzidas, oferecendo uma grande mistureba de idiomas.

Grande parte dos problemas que encontrei estavam no Co-Op. O jogo pode ser inteiramente aproveitado de forma solo em com até quatro jogadores em Co-Op Local e Online, mas apesar do grande foco na experiência compartilhada, parece que ela foi a área com menos testes, principalmente o online. Primeiro que o progresso fica apenas com o host, e caso você queira fazer algo sozinho depois terá que refazer tudo de novo, pois apesar de você manter todo o seu progresso de níveis e equipamentos, a história não segue a mesma ideia. Outro problema, é que caso um jogador interaja com um NPC de história, apenas ele consegue ver as telas de diálogos e realizar as escolhas,  que faz o outro jogador perder, ainda mais, o interesse pela trama. Pelo menos as telas de cinemáticas aparecem para todos. Lembra dos loadings que falei acima? Eles são assustadores de tão grandes na geração passada, mesmo jogando em um Xbox Series X eu sou obrigada esperar todo mundo no grupo carregar, o que é bem chato. É realmente divertido adentrar em The Ascent com os amigos, mas alguns ajustes para engajar todo o grupo seriam necessários.

Felizmente, uma atualização está prevista para otimizar a versão do jogo nos consoles, e que promete melhorar bastante essa problemática experiência de lançamento. Essa atualização já saiu há quase duas semanas para PC, e devido a esse atraso gigante para o Xbox ela pode sair a qualquer momento. Se você for jogar em Co-Op eu recomendo muito que espere ela sair para continuar ou começar a jogar.

Ambientes incríveis e trilha sonora atmosférica

O ponto que a Neon Giant acertou em cheio foi na apresentação gráfica do universo de The Ascent. O seu mundo é vibrante e cheio de vida. Cada cantinho que descobrimos está transbordando detalhes e personalidade própria. Um dos mundos mais interessantes e belos que pude explorar no mundo dos games. Tudo é meticuloso nos ambientes, com um sistema impressionante de luz e sombras para resultados ainda mais deslumbrantes, além de um design vertical único, trazendo uma visão mais ampla dos seus cenários, oferecendo uma ótima sensação de grandiosidade.

Outro ponto em destaque é o fato das ruas estarem realmente recheadas de NPCs ocupados com seus afazeres e com falas sobre os acontecimentos que movem suas vidas. Nada muito profundo, mas mostra a preocupação dos desenvolvedores de mostrarem um mundo vivo.

No Xbox Series X o desempenho é bom, com poucos engasgos ou quedas mais bruscas de framerate. O jogo consegue manter bem os 4K com 60FPS e HDR, mostrando alguns problemas mais críticos quando entramos em novas áreas, mas no geral roda muito bem. Infelizmente, apesar de toda a propaganda antes do lançamento, até o momento do lançamento desta análise, o jogo não havia liberado Raytracing no Xbox.

Outro ponto forte de The Ascent é a sua trilha sonora. Os temas trazem toda a sensação da temática cyberpunk, nos teleportando direto para dentro daquele mundo caótico e brilhante. Seja durante os momentos de exploração ou intenso tiroteio, a trilha nos conduz para dentro daquele mundo. O jogo possui legendas e menus em português do Brasil.

Opinião

The Ascent traz uma das mais incríveis apresentações gráficas dos últimos tempos. Seus ambientes são cheios de detalhes e seu mundo cheio de vida, além disso toda a atmosfera cyberpunk é extremamente bem construída, colocando no chapéu muita desenvolvedora grande por aí. Sua jogabilidade diverte e traz uma grande imersão, com a boa variedade de armas e habilidades que podemos alternar. No entanto, o jogo sofre com uma história e personagens sem carisma, além de diversos problemas técnicos que tiram um pouco do brilho dessa estreia da Neon Giant. Ainda assim, de uma forma geral, o título consegue superar os problemas com suas qualidades, e ainda que sua história não tenha salvação, os problemas técnicos já começaram a ser corrigidos para deixar a experiência mais agradável.

O jogo faz parte do Xbox Game Pass, e o seu mundo cheio de personalidade merece a sua atenção. Vale lembrar que ele possui suporte para o Smart Delivery, o que significa que aqueles que o adquirirem no Xbox One, ou jogarem através do Game Pass, poderão acessar o jogo atualizado para Xbox Series X|S gratuitamente e sem complicações.

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