Lançado originalmente em 2018 para Playstation 4, Judgment recebeu uma versão remasterizada multiplataforma para consoles da nova geração. O jogo é um spin-off da franquia Yakuza e nos coloca no comando de um detetive particular, algo totalmente diferente da série principal.
Trazendo uma trama mais obscura e elementos de investigação, como será o desempenho do Ryu Ga Gotoku ao sair da sua zona de conforto? É o que você confere em nossa análise.
Crimes em Kamurocho
Em Judgment, acompanhamos a história de Takayuki Yagami, um jovem advogado em inicio de carreira que acabou se tornando uma celebridade após livrar um réu do crime de assassinato. Pode parecer algo banal por aqui, mas não contra a implacável justiça japonesa, que possui a exorbitante taxa de condenação de 99%. Entretanto, um mês após o julgamento, Yagami recebe a notícia de que seu cliente foi preso novamente acusado de um novo crime, desta vez do assassinato de sua namorada. A decepção de Yagami é tamanha que ele se vê incapaz de julgar a inocência de outra pessoa, e resolve largar a vida da advocacia.
Mas a vida segue e, anos depois, vemos nosso protagonista em ação em sua nova profissão: Detetive Particular. Longe de ser um Sherlock Holmes, Yagami cuida de pequenos casos na icônica Kamurocho, como investigar casos de adultério, encontrar caloteiros, chutando a bunda de alguns desordeiros. Pagando bem, nosso detetive está fazendo, tudo para poder sobreviver na cidade que nunca dorme.
Apesar de ter deixado a vida de advocacia, Yagami ainda mantém contato com a antiga firma onde atuava, que sempre tentam ajudá-lo oferecendo alguns bicos. Certo dia, a firma o convida para auxiliar na defesa de um cliente acusado de assassinato. Um yakuza que teria assinado outro de uma família rival. Um caso importante. A oportunidade perfeita para alavancar sua carreira como detetive.
No entanto, o que Yagami não esperava era que este caso envolvesse tantos elementos sinistros. A vítima foi encontrada em um beco de Kamurocho com seus olhos arrancados, sendo a terceira nas mesmas circunstancias. Estaria nosso cliente ligado as outras duas vítimas? Seria ele um assassino em série? A medida que nos aprofundamos nas investigações, fica claro que há algo mais podre envolvendo esses três assassinatos.
As peças foram dispostas. É preciso ligar os pontos e conseguir montar este complexo quebra-cabeça repleto de reviravoltas. Um prato cheio para quem gosta de uma trama policial recheada de mistérios.
Agência de Investigações Yagami
O maior diferencial de Judgment perante seus primos são as mecânicas de investigação. Afinal, Yagami é um detetive particular e tal adição é algo natural. Como já mencionado, o protagonista trata dos mais diversos tipos de casos, que exigem abordagens diferentes para que sejam concluídos.
Seguir alvos. Tirar fotos em flagrante. Arrombar portas. Uso de disfarce. Uma boa variedade de atividades em formas de minigames, algo que a o estúdio Ryu Ga Gotoku tem bastante familiaridade ao longo de sua história. Essas atividades podem ocorrer tanto em missões da campanha, como em missões secundárias.
Infelizmente, boa parte dessas atividades são extremamente lineares e acabam se tornando cansativas com o tempo devido suas previsibilidades. Quando você está seguindo um alvo e ele acaba descobrindo que está sendo perseguido, na imensa maioria das vezes vamos para a tela de game over. Em pouquíssimos casos há desdobramentos. Como uma perseguição após sermos descobertos. Uma ou outra missão que exigem disfarce, os npcs acabam abordando Yagami com questionamentos que podem comprometer nossa posição. Em geral, uma vez que estejamos disfarçados, nos tornamos invisíveis.
Em contrapartida com essa linearidade, estão as próprias missões excêntricas que acabam despertando o interesse do jogador. Perseguir uma peruca voando desenfreadamente. Investigar um apartamento supostamente amaldiçoado, no melhor estilo O Chamado. Encontrar um ladrão de calcinhas? Bizarrices nunca são demais aqui e divertem bastante.
Um combate refinado
Ao longo de mais de sete títulos da franquia Yakuza, sem contar os spin-offs, o estúdio Ryu Ga Gotoku veio aprimorando uma de suas marcas registradas: o combate. Enquanto a franquia Yakuza parece galgar novos caminhos, indo para o gênero RPG, Judgment manteve-se no estilo brawler. Porém, o estúdio não se manteve na zona de conforto e buscou trazer novos elementos muito bem vindos, por sinal.
Yagami é um dos poucos personagens que possui conhecimento de artes marciais, apesar de não admitir. Seus movimentos são acrobáticos e lembram bastante o kung fu. Com dois estilos distintos, um para combates contra grupos e outro contra oponentes individuais, Yagami possui um vasto leque de golpes. Sem a brutalidade de Yakuza, é verdade, pois nosso protagonista não é fã de brigas e prefere resolver as coisas na base do diálogo.
Mas as novidades não se limitam ao estilo de luta sofisticado. Nossos inimigos também estão mais poderosos. Chefes agora podem causar danos severos que, além de tirar bastante dano, acabam diminuindo a barra de vida. Nesses casos, é preciso ir a um médico receber tratamento para repor esta barra de vida, ou comprar kits de primeiros socorros. Essa escolha talvez tenha até demorado demais para ter sido tomada, uma vez que nas lutas tudo é permitido: tiro, porrada e bomba. Literalmente. E com tudo isso nossos personagens saíam praticamente ilesos.
O outro lado de Kamurocho
A forma como interagimos com a cidade de Kamurocho também sofreu ume leve diferença em Judgment. Ainda visitamos as casas de pachinko (da Sega, obviamente), bares, casa de hostess e outras atividades já consagradas na série Yakuza. Entretanto, nestes lugares existem NPCs com missões próprias para serem realizadas. Além de conseguir uma nova amizade, completar estas missões garantem pontos de SP e aumentam a reputação de Yagami em Kamurocho.
Os pontos de SP são equivalentes aos pontos de experiência (XP). Eles servem para você desbloquear ou melhorar as habilidades de Yagami. Um novo golpe. Aumentar seus pontos de vida. Encontrar pistas com maior facilidade. Você consegue pontos de SP em atividades corriqueiras como comer ou chutar bundas de uns arruaceiros, mas os pontos são mais abundantes completando missões.
Mais importante ainda é aumentar sua reputação em Kamurocho. Alguns casos só são liberados após você conseguir determinado nível de reputação na cidade. Conhecer novos personagens com histórias interessantes. Conseguir prêmios exclusivos ao completar algumas missões. Em alguns casos você até consegue engatar uma relação amorosa.
Enquanto na série Yakuza os personagens não tinham notoriedade no submundo de Kamurocho, em Jugment você acaba se conectando mais com o povo daquela cidade. Inclusive, é preciso ter cuidado com as brigas de rua. Caso ela se prolongue demais, a polícia aparece para prender todo mundo, inclusive o próprio Yagami.
Um primor técnico
Talvez por ter deixado de lado uma versão para Xbox One, Judgment parece ter gráficos ainda mais refinados que Yakuza: Like a Dragon, que chegou em ambas as gerações. Kamurocho parece mais viva do que nunca, com efeitos de luzes capazes de gerar reflexos realistas em poças d’água espalhadas pelas ruas. Partículas de objetos, como cinzas de um incêndio ou gotículas d’água no esgoto. Aspectos que mostram como a Ryu Ga Gotoku se preocupou com os mínimos detalhes.
Os personagens também estão bem mais realistas, principalmente aqueles que foram criados com base em atores na vida real, como Yagami, interpretado por Takuya Kimura, e Mitsuru Kuroiwa, interpretado por Shōsuke Tanihara, além de outros. Nesses casos, fica perceptível até as imperfeições nos rostos capturado dos atores, dando mais fidelidade visual.
O melhor de tudo é que o jogo roda em 60 quadros por segundo de forma constante, apesar de não estar com resolução 4K nativa. Não há opção de modo performance ou resolução, como Like a Dragon, e devo confessar que prefiro um jogo com fps mais fluído do que uma resolução mais alta.
Os elogios não ficam só na parte visual. O estúdio resolveu voltar a suas raízes e trouxe de volta as batidas de rock, que dão tom ao ritmo frenético das pancadarias. As dublagens, tanto em inglês como japonês, estão excelentes. Independente do gosto de quem estiver jogando, encontrará diálogos repletos de emoção com as vozes que dão vida aos personagens.
Infelizmente, a Sega cometeu o mesmo erro e não incluiu nem legendas em português do Brasil. É aguardar para vê se o jogo receberá uma atualização, como aconteceu com Like a Dragon.
Opinião
Judgment é uma excelente opção para quem quer conhecer o mundo da franquia Yakuza sob uma nova ótica. Um história envolvente, onde cada novo capítulo instiga ainda mais a curiosidade do jogador. Os elementos já consagrados da série Yakuza também estão aqui, como o excelente sistema de combate, missões secundárias divertidíssimas e personagens super carismáticos.
Porém, como um jogo de detetive, ele acaba deixando a desejar. Os momentos de investigação são lineares e acabam se tornando repetitivos. Mas o estúdio Ryu Ga Gotoku parece ter percebido este problema e deve aprofundar mais neste quesito na continuação, que ganhou o nome de Lost Judgment. Por último, a falta de localização em nosso idioma. Fica difícil recomendar um jogo se a pessoa não puder apreciar sua história.
*Certifique que este é o preço praticado antes de efetuar a compra. Os valores podem variar.