Um dos maiores lançamentos da história enfim ganhou a luz do dia. Cyberpunk 2077, que foi anunciado em 2012 com um simples teaser de que chegaria quando estivesse pronto, foi finalmente lançado neste mês de dezembro. Foram 8 anos de uma longa espera, afinal a CD Projekt ficou ainda mais famosa após o lançamento de The Witcher 3: Wild Hunt, aumentando o hype dos jogadores, que esperavam ver a mesma qualidade usada no RPG em um mundo de temática Cyberpunk, algo que é o sonho de muitos.
Após inúmeros adiamentos, alguns jogadores já começavam a duvidar se o jogo chegaria realmente em 2020, até que ele foi lançado para os consoles base e PC, mas sem otimizações para os novos consoles, somente rodando através de uma retrocompatibilidade. Claro que os novos consoles rodam com mais folga, mas temos um base enorme de usuários, que ainda não migraram de geração, e nossa análise é baseada nessa experiência.
Será que Cyberpunk 2077 conseguiu atender aos sonhos de milhares de jogadores e se tornar uma obra inesquecível? Descubra em nossa análise a seguir.
BEM VINDOS A NIGHT CITY
A cidade fictícia de Cyberpunk 2077 é uma das grandes protagonistas do jogo, com um mapa gigantesco que aborda diferentes realidades. Seja na parte mais rica ou nos bairros mais afastados, o reflexo da cultura afeta desde as construções a até mesmo a sua população. O jogador que deseja conhecer mais do escopo do jogo terá uma grande biblioteca de dados para explorar, seja em datapads ou completando algumas missões secundárias. Cada bairro possui uma história interessante, que está ali para ser descoberta, cabe a você degustar toda a imersão que o jogo te propõe.
O aspecto cultural é bem diferenciado nesses bairros, com as grandes cabeças pensantes de cada local, controlando com uma teia invisível cada um que entra em seu domínio. Faça contatos na Polícia, ou no submundo, para receber as melhores missões, afinal quem não precisa de uns Edinhos (Moeda do jogo chamada de Euro Dólar).
Cyberpunk 2077 não se prende somente a Night City, e ao redor da cidade existe um grande deserto, que abrigam os famosos nômades, que são grupos que preferem viver fora da cidade. Eles são divididos em famílias, que lutam para sobreviver dentro desse mundo perigoso.
O centro da cidade possui mercados, boates, bordéis e muitos locais a serem descobertos, cabe a você abusar da sua curiosidade. Quem sabe o que você pode descobrir em um beco escuro?
A história da cidade é bem ampla, com eventos que ocorrem antes da linha temporal do presente. O passado daquele mundo é bem turbulento e cheio de camadas a serem descobertas.
DEFINA SEU LEGADO
No primeiro contato com a interface do jogo, temos que decidir se seremos um Nômade, Marginal ou Corporativo, mostrando que a liberdade do que queremos ser pode ser levada para um outro patamar. Essa escolha define quem você é nos primeiros minutos do jogo, levando o jogador para o tipo de cultura daquele que ele escolheu, mas com o passar do tempo vemos que esse pano de fundo é algo mais simples do que pensávamos, pois após alguns minutos já estamos em Night City no mesmo trecho onde essas três possibilidades se encontram. Esses legados definem alguns diálogos que são abordados de acordo com o seu pano de fundo.
O legado do personagem deveria ser algo mais elaborado, que realmente fizesse a diferença no percurso do jogo. Mas admito que foi uma boa ideia, que poderá ser usado em outros jogos do estúdio, ou quem sabe em um DLC.
UMA HISTÓRIA EMOCIONANTE
A história de V, protagonista do jogo, é algo que já começa de forma emocionante e vai melhorando com o passar das missões. Alguns personagens e acontecimentos deformam essa história, criando uma narrativa mais densa, e que prende o jogador a cada missão concluída.
Após algumas horas já percebemos que V não é tão simples assim, e sua jornada é algo mais complexo e que deixará uma marca no jogador. Nada é o que parece, e os seus planos e questionamentos serão afetados pela cidade, que não tem piedade de ninguém. Aos poucos o jogador vai se importando mais e mais com o seu personagem, que por mais que seja bem forte, sofre com os anseios de uma vida perigosa.
Algumas missões trazem um script bem forte, com cenas bem desenvolvidas e que parecem ser tiradas de um ótimo filme de ação. Provavelmente você ficará com algumas dessas missões na memória, algo que só acontece com um bom enredo.
Silverhand (Keanu Reeves) também é bem importante para a trama, até mais importante do que eu pensava. Pense nele como uma lenda a ser seguida, mas que carrega dramas pesados, além de uma história surpreendente, que vai ganhando mais camadas a medida que o jogo vai avançando, se tornando algo ainda maior.
A história possui vários finais, que são ligados a algumas escolhas feitas por V em um determinado ponto da história, mas caso o jogador termine a sua trama, ele pode ainda jogar tudo o que Night City tem a oferecer.
UMA ENGINE INACABADA
Um dos maiores problemas de Cyberpunk 2077 é a sua REDengine, que não parece estar em uma quarta versão, com diversos problemas básicos de física.
Ao caminhar pela cidade podemos passar por dentro dos corpos de outros pedestres, ou quando nossos inimigos são alvejados, o corpo cai com uma direção estranha, algo que não deveria acontecer, visto que é um trabalho de muitos anos.
Outros problemas encontrados estão na dirigibilidade, que apesar de estar muito boa, pude perceber que ao bater em outros veículos a física mostra um impacto bem amador, algo que os jogos de mundo aberto fazem melhor há quase 20 anos. Por mais que seja um RPG, temos sim mecânicas de mundo aberto que deveriam ser melhor trabalhadas, algo que me preocupa bastante, pois acredito que seja mais complicado de corrigir do que simples bugs que muitos vem criticando.
A IA também é algo bem constrangedor, com comportamentos que não cabem mais em 2020. Os inimigos não conseguem se proteger com eficácia, tirando aquele peso do combate.
Falando nos famosos bugs, temos um caminhão lotado deles, mas nada que acabe com a jogatina, esses problemas serão corrigidos conforme vão chegando novas atualizações. Como disse acima, esse é o menor dos problemas, e muitas vezes eles são até engraçados.
A má otimização foi um problema bem grave nos primeiros dias pós-lançamento, principalmente nos consoles base, que ficaram mais vulneráveis a travamentos e quedas de frames. Posso afirmar que no atual estado, é possível jogar sem estragar a experiência, mas caso tenha previsão de comprar um novo console, recomendo que espere mais um pouco, afinal a obra merece ser jogada em sua total glória.
UM VERDADEIRO RPG
Um dos pontos mais positivos de Cyberpunk 2077 é a sua estrutura de RPG, que diferentemente dos jogos tradicionais deixa o jogador moldar os seus atributos e habilidades a sua maneira. Seja subindo de nível, ou evoluindo com o uso das habilidades, o jogador pode melhorar o que ele precisar.
Como o jogo segue a temática Cyberpunk, existem habilidades de hackear, combate com armas brancas e de fogo, além de criação de itens e habilidades de comunicação. As possibilidades são enormes, deixando o jogador confuso no começo, mas que com algumas horas já estamos dominando a imensa árvore de habilidades.
Além das habilidades adquiridas, temos também as modificações robóticas, que podem ser compradas e equipadas em qualquer medicanico da cidade. Essas modificações permitem ao jogador fazer coisas sobre-humanas, como por exemplo, ter um braço que exerce uma força enorme para acabar com seus inimigos, ou uma mira não letal para suas armas, através de implantes na retina. Esses implantes são caros, mas recompensam com vantagens bem interessantes, que ajudam em áreas mais difíceis de Night City.
A personalização do personagem é algo para se elogiar, com muitos aspectos a serem escolhidos, não se resumindo a somente homem x mulher. Temos desde cores, tamanhos e aspectos bem exóticos.
Como um bom RPG temos um número enorme de armas para o jogador escolher, além é claro de várias opções de customização, desde pistolas, escopetas e até mesmo katanas bem afiadas. Além das armas, o vestuário é uma parte bem construída, com inúmeras variações de roupas e acessórios, que podem ser melhorados.
Os veículos são um show a parte, com um design espetacular, e um trabalho a ser aplaudido. Eu nunca tinha visto uma obra com veículos tão variados e cheios de detalhes. Uma coisa é pegar um veiculo que já existe e criar seu interior, outra é criar algo totalmente novo. Os veículos podem ser adquiridos através de algumas missões ou comprando em alguns pontos do mapa.
Tudo em Night City tem um preço, então a moeda chamada de Eds, edinhos, ou no termo mais técnico Eurodólar, é usado para comprar quase tudo no jogo. Ele pode ser conquistado em missões, atividades ou simplesmente hackeando e roubando de outras pessoas. Mas nem tudo é grana, então ao completar algumas atividades/missões ganhamos reputação, que pode desbloquear missões ainda mais complexas e armas poderosas.
UM MUNDO A EXPLORAR
Em Cyberpunk 2077, além da narrativa principal temos missões paralelas incríveis, que abordam várias coisas que acontecem ao redor do jogador. Para alguns jogadores será só um assassinato em uma televisão, mas para aqueles mais curiosos, é uma trama que mistura política e interesses dentro de outras castas da sociedade, por exemplo. Esse tipo de narrativa só se expande caso o jogador busque essas respostas.
O principal canal de missões é o mapa, que coloca um ponto de interrogação amarelo, com uma descrição caso o jogador já conheça algum detalhe e a classificação de risco, que é baseada em seu nível.
Outro canal importante de missões é o seu celular, que serve para ligar para seus contatos ou enviar mensagens que dão segmento as missões principais e secundárias, além, é claro, de servir como uma central de informações para as missões.
Alguns personagens secundários, como Panam e Judy, por exemplo, seguem uma linha de quests secundárias, que no final podem dar alguns itens bem vantajosos para o jogador, além é claro de uma história espetacular.
O mapa de Cyberpunk 2077 é recheado de atividades secundárias, seja salvando um refém, caçando um alvo para a máfia chinesa ou correndo ilegalmente, o jogador terá um leque enorme de opções que pode mantê-lo por meses em um mundo que tem muito a oferecer.
Outra coisa bem interessante no jogo é a sua quantidade absurda de Easter Eggs, com várias referências a jogos e obras primas do cinema. Algumas personalidades também são encontradas em missões paralelas e em itens espalhados pela cidade.
JOGABILIDADE
Os comandos do jogo são bem variados, mas também são facilmente dominados com uma HUD que ajuda o jogador a todo tempo. Tudo que precisamos controlar é facilitado pelos menus, que são bem desenvolvidos, desde a escolha das armas a até mesmo a criação de itens. Com o passar do tempo, o jogador sentirá a necessidade de usar elementos mais complexos, e assim explorar todas as opções disponíveis de jogabilidade.
Fiquei preocupado no começo com as várias mecânicas que o jogo possui, afinal a empresa saiu de um RPG Medieval e fantasioso para um RPG em primeira pessoa com mecânicas de shooter e dirigibilidade. Essa mecânicas ficaram muito boas, mas que em alguns momentos foram afetados pela má otimização e problemas com a engine, algo que tira um pouco do grande brilho de Cyberpunk 2077.
Além do combate franco, podemos atacar na surdina, através de um misto de hacking e ataques nas sombras. Isso traz uma importante vantagem para o jogador que gosta desse tipo de de gameplay.
Um ponto interessante são as Neurodanças, que são arquivos gravados pelos chips cerebrais de alguns indivíduos. Com essa informação, podemos investigar o crime, olhando toda a gravação feita pela pessoa, com recurso de camadas de som, calor e fazendo uma analise bem detalhada do ambiente. Esse tipo de jogabilidade investigativa que existia em The Witcher foi ampliada com esse recurso, trazendo algo diferente para esse tipo de jogabilidade investigativa, algo parecido com o que foi visto na série Batman Arkham e no recente Twin Mirror.
PERSONAGENS INTERESSANTES
Outro ponto bem explorado em Cyberpunk 2077 são seus personagens secundários, com os quais o jogador embarcará em todo tipo de situação. Além, é claro, de trazer missões que se aprofundam nas camadas mais complexas de alguns personagens. Caso você parta em uma aventura, terá algumas situações bem pitorescas, algo que já foi visto em The Witcher, mas que aqui, com uma temática diferente ficou bem legal.
Além de descobrir mais de cada personagem, podemos nos relacionar com eles. Essa relação depende do seu gênero e de alguns diálogos que podem evoluir a relação ou não.
SOM E GRÁFICOS
Os gráficos de Cyberpunk 2077 são bonitos na nova geração, mas na geração passada ficaram aceitáveis com a chegada da atualização 1.06, que melhorou bastante o que foi apresentado em seu lançamento. Os visuais estão bem longe do que poderia ter sido feito para o Xbox One, que ainda apresenta texturas inacabadas em certos locais de Night City. Sinto que alguns lugares ficaram mais caprichados do que os outros. Algumas texturas também demoram a carregar, mostrado a fragilidade dos consoles base.
Algumas paisagens são de babar, usam e abusam de efeitos de iluminação, que entram em contraste com o ambiente que vai do escuro e neon, para o claro e quente do deserto. Como disse anteriormente, o design de carros e personagens é incrível, casando com o estilo do jogo.
Já o som tenho algumas boas ressalvas. O jogo possui uma excelente trilha sonora, que dificilmente o jogador enjoará. No entanto, a sua dublagem para o Português é uma das piores que já experimentei, com frases que eram ditas em filmes bregas dos anos 80. O sotaque de alguns personagens ficou bem ruim, e muitas vezes prejudicado, pelo excesso de ditos populares, que claramente foram improvisados. Não é ruim fazer isso, mas em Cyberpunk 2077 isso consegue estragar alguns personagens, sendo algo que é bem complicado.
Além disso, algumas falas de NPCs saem com um contexto terrível, dando um ar de que não tem nada haver com o que está acontecendo naquele momento.
Voltando a falar do som, os efeitos não trazem uma boa sincronia, principalmente na colisão dos carros, que as vezes parecem ter um certo atraso ou ausência.
OPINIÃO
Cyberpunk 2077 tem muito a oferecer ao jogador, ele cumpre seu papel como um bom RPG e traz tudo o que você precisa para embarcar em Night City, com uma enorme liberdade em desejar literalmente ser o que você quiser. A quantidade de opções para customizar seu personagem é muito grande, com uma extensa árvore de habilidades, uma quantidade absurda de itens, veículos e armas a sua disposição.
A história principal é muito boa, com um enredo que não cai no marasmo, com escolhas que rendem diferentes finais. Além disso, as missões secundárias continuam a ser bem desenvolvidas pela CD Projekt RED, mostrando sua força em criar um mundo com uma grande variedade de histórias de alta qualidade.
O grande problema do jogo é ser ambicioso demais e não conseguir cumprir isso, com um lançamento cheio de tropeços, má otimização de seus recursos e decisões corporativas errôneas. Os bugs são os menores dos problemas, pois a engine mesmo estando em um estado evolutivo, parece que regrediu na sua física, e não aguentou o tranco de ter uma quantidade maior de mecânicas e estar em diferentes plataformas.
A localização também foi um problema bem grave, com falas que descaracterizam alguns personagens. Por mais que o improviso seja algo positivo, ele deve ser usado com cautela.
Cyberpunk 2077 é um ótimo jogo, mas poderia ser perfeito. Ele possui problemas que podem ser resolvidos, mas ainda possui outros que não deverão melhorar. Faltou mais maturidade para uma empresa que cresceu muito rápido e sem controle. Espero que eles consigam dar a volta por cima, pois essa é uma obra que entrou para a história, seja para o bem ou para o mal.
*Certifique que este é o preço praticado antes de efetuar a compra. Os valores podem variar.