Com a atual trilogia de jogos para Assassin’s Creed, a Ubisoft renovou completamente a estrutura da franquia. Com a bela desculpa de mostrar as origens da Irmandade dos Assassinos e sua eterna luta contra os Templários, o estúdio encontrou a oportunidade perfeita para reinventar os jogos. Mundo aberto, elementos cada vez mais amplos de RPG, combate mais tático, dialógos com escolhas, e por ai vai. Mesmo que pouco da história sobre Assassinos e Templários fosse explorada, era algo mais fácil de engolir, por causa de toda a questão de ser um título de origens.
E agora chegamos em Valhalla, que mantem a estrutura já estabelecida com Origins e Odyssey, e a refina em diversos aspectos. Além disso, a Ubisoft foi esperta em explorar a temática Viking, que está em alta, há algum tempo, em filmes e séries, e que possui um amplo público interessado no tema, além de ser um material rico para explorar e desenvolver, seja do lado histórico, seja do lado místico.
Mas será que Assassin’s Creed Valhalla é apenas um jogo Viking usando o poderoso nome da franquia, ou finalmente teremos mais profundidade para a trama de Assassinos e Templários? Confira minha experiência, e pensamentos, nessa análise.
Uma bela jornada Viking
Eu tenho um certo problema com essa trilogia de origem para Assassin’s Creed, pois se de um lado foram essenciais para modernizar, e dar mais fôlego para o nome da série, por outro lado eu sinto que o tema principal, da história central, que é a luta entre Templários e Assassinos, os artefatos místicos e a propria Abstergo, foram um tanto quanto deixados de lado. Os temas até foram inseridos, mas de forma muito tímida. Eu eu sempre esperava por ver mais, mas apenas os DLCs trouxeram mais peso para essa trama mais central. Apesar de amar a cultura e a mitologia nórdica, o tema me deixou com ainda mais medo de que Assassin’s Creed estivesse apenas no nome. Apesar do início do jogo me dar essa sensação os temas se desenvolvem bem, e de forma natural, ao longo da narrativa.
Mas vamos começar com o núcleo da história em si. Valhalla nos leva para a Inglaterra do século IX, cheia dos seus reis e rainhas lutando para conquistar e unificar terras. Nós estamos no papel de Eivor, que após viver muitas adversidades na Noruega, decide partir para a Inglaterra em busca de uma nova vida para seu povo. Chegando lá precisamos criar e desenvolver o nosso Assentamento, que é o local onde seu povo irá morar, e forjar alianças com aqueles que reinam em uma repartida Inglaterra. Você deve procurar aliados entre os saxões, precisando confiar naqueles estrangeiros, e ainda conquistar a confiança dos seus compatriotas, como os famigerados filhos de Ragnar Lothbrok, por exemplo. Você precisa escolher qual caminho seguir, seja diplomaticamente, ou na base na selvageria, a escolha é sua.
No meio de tudo isso, podemos perceber que algumas alianças podem ser frágeis, que existem outros dispostos a te trair na primeira oportunidade, e outros que realmente iriam aos portões de Hellheim ao seu lado. As nuances políticas se encaixam muito bem com a temática do jogo.
Mais uma vez você pode escolher o gênero do protagonista, escolhendo entre feminino e masculino, ou ainda deixando o Animus escolher para você. Mas caso tenha enjoado do seu personagem, ou se arrependido de ter escolhido ele ser homem ou mulher, pode mudar isso a qualquer momento no menu, sem a necessidade de ter que iniciar um novo jogo. A escolha é apenas estética.
Quanto a parte mística de Assassin’s Creed Valhalla ela existe, como já era de se esperar, principalmente pela fama e força dos personagens da mitologia nórdica. O jogo possui dois arcos muito bem construídos em Asgard e Jotunheim que conversam muito bem entre si, e com a jornada de Eivor. As narrativas se encontram de forma natural. Além disso, é uma delícia poder visitar esses lugares icônicos, e interagir com alguns de seus personagens mais importantes. Não irei citá-los, para que tenham a mesma surpresa que eu tive, mas posso afirmar que vale muito a pena concluir suas histórias, pois trazem uma perspectiva narrativa interessante.
Indo além desses arcos específicos, também existem alguns momentos chave da história que esses mundos colidem de alguma forma trazendo um misto delicioso de sensações para o jogador. O melhor de tudo isso, é que essa mistura ocorre de forma natural com a história que está sendo contada, e eu não senti em momento nenhum que esses temas eram forçados dentro da trama para adicionar esse misticismo.
Agora vamos falar de Assassin’s Creed, já que até agora parece que estou falando apenas de um novo jogo da Ubisoft com a temática Nórdica. Não se engane, pois o universo da franquia foi bem explorado em Valhalla, sendo o que mais evolui em questões narrativas dentre os três dessa nova fase da série. Não posso falar muito, para não atrapalhar a experiência de vocês, mas o jogo oferece mais detalhes sobre a estruturação dos Assassinos, aqui ainda são chamados de Ocultos, e os planos controversos dos Templários, aqui ainda chamados de Ordem dos Anciões. Conforme avançamos em determinadas missões, temos novas informações sobre essa rixa milenar, e como a questão dos Isu continua tendo importância para a progressão desse universo. Outro fato interessante é que como Eivor não conhece nada sobre esse mundo, os temas são introduzidos de forma a explicar também para o novo jogador como essas disputas funcionam, atraindo também os novos jogadores para o universo da saga.
Uma parte chave desse desenvolvimento está voltado para destruir os membros da Ordem dos Anciãos, trazendo o mesmo sistema dos dois jogos anteriores. Cada alvo possui uma cena mostrando um pouco da sua personalidade e do modo de pensar da Ordem. Algo muito interessante é que quando executamos esses alvos, vemos o estrago da Lâmina Oculta no interior do corpo do inimigo através de um belo efeito Raio-x. Uma adição nostálgica, e que era muito pedida pelos fãs, já que o efeito apenas foi inserido em um trailer do primeiro Assassin’s Creed.
As escolhas seguem fazendo parte da estrutura desses novos jogos, e senti que trouxeram um peso maior para os desdobramentos da história. Como o núcleo de Valhalla está em forjar alianças, a maneira como interagimos com os nossos futuros aliados, e decidimos os rumos dos acontecimentos no território deles, é muito importante para definir quem está ao nosso lado ou não. As consequências parecem mais amplas, o que enriqueceu bastante o peso das nossas decisões, inclusive com impacto direto no final, nos levando para um desfecho bom ou ruim. Ainda não se trata de algo tão complexo, como o visto em outros grandes RPGs, mas senti uma grande melhoria no sistema, com escolhas que realmente nos deixam confusos no que fazer e com medo do que pode acontecer.
Outro ponto que teve uma certa evolução foi o sistema de romance, que a Ubisoft cismou em manter nos novos jogos. Em Odyssey o protagonista catava todo mundo que podia, mas isso não possuía reflexo algum na sua relação com eles, nem mesmo os que estavam ativamente envolvidos na história. Em Valhalla, as opções trazem um pouco mais de impacto, pois os personagens pelo menos lembram do envolvimento contigo, e em certos casos possuem influência para a história. Ainda assim, está muito longe dos profundos e complexos sistemas de outros jogos, como Dragon Age e Mass Effect, por exemplo, onde esse tipo de escolha realmente muda a experiência do personagem e enriquecem a narrativa. A Ubi realmente precisa decidir se quer levar esse sistema a sério ou não.
De uma forma geral, a história se desenvolve muito bem, trazendo uma grande experiência Viking, mas não esquecendo de desenvolver Assassinos, Templários, Isu e Artefatos. Além disso, os temas mitológicos são inseridos de forma natural, enriquecendo bastante a jornada de Eivor. A Ubisoft conseguiu criar uma estrutura que agrada os fãs de longa data, já que adiciona informações importantes sobre o mundo da franquia, assim como faz um ótimo trabalho em explicar alguns acontecimentos para aqueles jogadores que estão iniciando. É claro que existem diálogos e cenas que são mais aproveitados por quem conhece mais da série, principalmente no arco moderno, mas nada que tire o peso narrativo para os novatos.
Ainda não é aquele retorno total para as origens narrativas dos velhos tempos da franquia, mas é um passo muito certo para a direção certa.
Os Tempos Modernos
E como já era de se esperar, Layla está volta para desenvolver o arco da dos tempos modernos, continuando a saga iniciada em Origins e que recebe mais avanços em Valhalla. A protagonista está recebendo ajuda do antigo time de Desmond, e temos o retorno de Rebecca e Shaun, para tentar ajudar o mundo, que mais uma vez está correndo um grande risco. A Terra está passando por grandes problemas em seu Campo magnético, que está causando a queda de satélites, deixando as redes elétricas em colapso, e o céu ainda está mostrando uma bela, mas estranha, e não natural, Aurora Boreal. Nosso passeio pelo Animus, e consequentente, pela história de Eivor promete nos mostrar uma forma de evitar esse colapso do mundo.
Como sempre, você passa a grande maioria do tempo dentro do Animus, e portanto, dentro da narrativa Viking, mas a Ubisoft inseriu mais acontecimentos para expandir as descobertas de Layla, assim como desenhar o futuro da franquia, abrindo espaço para uma interessante continuação.
Apesar de ainda ser uma breve parte, e ainda parecer que a Ubisoft luta para encontrar uma forma de deixar a narrativa moderna mais interessante com a trama histórica, em Valhalla houve mais conexão com a franquia como um todo, algo que se bem explorado pode ter um grande destaque em um próximo jogo. Algo que eu não gostei foi a mudança drástica nas aparências de Layla, Shaun e Rebecca, que parecem outros personagens.
Um combate brutal
Entrar nas batalhas de Assassin’s Creed Valhalla é uma experiência deliciosa. O combate está rápido e cheio de possibilidades, tudo pensado em te colocar dentro da sede por batalhas dos Vikings. O estilo é bem parecido com o dos jogos anteriores, e você possui ataques forte e fracos, além da esquiva, sempre usando bem cada um deles para te dar vantagem no combate, pois a estratégia é importante em cada batalha.
Quanto as armas você pode equipar quais quiser, a única arma fixa é o arco para ataques de longo alcance. Para o ataque de corpo-a-corpo você pode usar machados, martelos, lanças, escudos e por aí vai. Se a arma for de uma mão você pode equipar duas, inclusive escudos. Eu encontrei meu estilo favorito usando dois machados, e busquei maximizar ao máximo meu combate com eles. Em conjunto com minhas habilidades de arco, eu me sentia uma deusa do campo de batalha.
As animações das finalizações estão brutais. Eivor utiliza a própria arma dos inimigos para acabar com suas vidas, oferecendo um belo, e sangrento, espetáculo visual. Você realmente sente a brutalidade das batalhas, o que é importante para dar vida ao estilo dos Vikings. Uma pena que muitas vezes essas finalizações apareciam com bugs, e vi várias vezes Eivor asfixiando o ar, ou cravando uma arma em um inimigo inexistente.
Os inimigos estão mais inteligentes e oferecem mais perigo, com habilidades e estilos de combate bem diferenciados. Os chefões nos proporcionam belos desafios, onde precisamos dominar bem as habilidades e nosso equipamento.
Existem habilidades especiais para o arco e para as armas corpo-a-corpo, e elas estão espalhadas pelo mapa para você encontrar. Elas ganharam o nome de Aptidões, e expandem muito suas possibilidades de combate. Existem inimigos muito poderosos para você enfrentar, e o bom uso dessas habilidades oferece uma gigante vantagem para montar suas estratégias. As versões melhoradas de cada uma delas também estão escondidas para que você encontre nos mapas.
Ao contrário do sistema de pegar um monte de equipamentos e ir trocando o tempo todo, como nos jogos anteriores, em Valhalla você possui armaduras e armas de três tipos: Corvo, Lobo e Urso. Cada uma com seus próprios benefícios de conjunto e sua própria ramificação da árvore de habilidades, da qual falarei mais adiante. A ideia aqui não é trocar seus equipamentos a todo momento, mas melhorá-los com recursos que encontramos durante a exploração. Você encontra um item comum e vai melhorando ele até ficar mítico, além disso pode melhorar seus atributos utilizando alguns outros materiais. Quanto melhor o item, mais Runas, com efeitos passivos interessantes, você pode encaixar nele, adicionando mais poder para Eivor. Aumentar o nível do item também pode alterar a aparência dele, o deixando mais imponente.
Outro ponto importante para o combate é a Lâmina Oculta, que finalmente está de volta, assim como um maior peso para a furtividade. A Lâmina Oculta é mortal contra inimigos comuns, e contra inimigos elite ela também pode ser mortal, caso você aprimore essa habilidade e acerte o tempo de um comando que surge na tela. É muito bom não só poder usar a Lâmina novamente, como também vê-la tendo mais peso, lembrando os jogos antigos. A furtividade também está de volta de forma nostálgica, e podemos sentar em bancos e até mesmo nos misturar com os grupos que se movimentam pelos cenários para nos esconder. Basta colocar o capuz e se misturar como uma sombra. Não é o retorno do peso que o stealth tinha nos primeiros jogos da franquia, mas foi bem interessante ter mais recursos para explorar a furtividade.
Mas você é um Viking, e será que os nórdicos tinham tanta paciência de atacar através das sombras? A decisão é totalmente sua. A Ubisoft criou um mundo onde Eivor pode abordar as situações de forma furtiva, ou chegar no melhor estilo bruto. Nas incursões você pode começar de forma furtiva e depois chamar seu grupo para te ajudar na pilhagem, pois para isso você precisa de ajuda. Ou ainda pode chegar no local e já de cara tocar o berrante para começar a carnificina, com um delicioso tema nórdico de fundo te colocando totalmente imerso naquele estilo. Um conjunto que fez das incursões uma das minhas atividades favoritas de Valhalla.
Um vasto, e repaginado, sistema de progressão
Assassin’s Creed Valhalla deixou de lado o sistema de Nível dos dois jogos anteriores, e agora possui um sistema de Poder. Conforme você ganha experiência, e completa determinadas atividades, ganha pontos para utilizar em uma vasta constelação de habilidades. Foi criada uma gigantesca estrutura interligada com ramificações que exploraram as três disciplinas do jogo: Corvo, Lobo e Urso.
Cada parte dessa gigantesca constelação, oferece melhorias de atributos como vida, defesa, adrenalina, ataques, dano crítico, aumento de dano de veneno…. Elas também desbloqueiam mais possibilidades de combate e exploração, como a possibilidade de pisotear um inimigo caído ou ainda adicionar a opção de rolar após uma queda, por exemplo. Dentre essas habilidades também está aumento de atributos para itens equipados da disciplina específica, bem como a otimização do uso de determinadas armas, para aumentar o seu poder de combate.
A quantidade combinada dos pontos utilizados, nesses três grupos, nos dá o número do nosso Poder total. Esse número é importante para guiar a sua progressão, mas não tem impossibilita de fazer a sua jornada como preferir. Cada inimigo e área possuem um Poder sugerido, mas isso não significa que é impossível fazer aquele conteúdo caso você deseje. Pode ser que você não consiga derrotar os inimigos ou demorar para conseguir, mas não é totalmente impossível.
Caso tenha ido por uma ramificação e se arrependeu, não tem problema, pois é possível reposicionar os seus pontos a qualquer momento e colocá-los onde achar melhor.
Um mundo interessante de explorar
Os jogos de mundo aberto da Ubisoft são famosos pela quantidade absurda de pontos de interesse espalhados por seus mapas, mas em muitos casos, inclusive isso foi algo muito criticado em Assassin’s Creed Odyssey, muitos desses locais para descobrir não adicionavam muita coisa interessante para se fazer, e também possuíam uma excessiva repetição desses eventos. A promessa para Valhalla era continuar oferecendo um mundo aberto rico para explorar, mas com atividades mais diversas e interessantes. E é realmente isso que encontramos. Um mapa delicioso de explorar, e com os mais diversos eventos que não só divertem, como também enriquecem a jornada de Eivor e também da saga como um todo.
Essas atividades se dividem em Tesouros, Artefatos e Mistérios. Os Tesouros são recursos valiosos para você melhorar seu personagem e o seu assentamento, e também equipamentos como armaduras e armas especiais. Já os Artefatos nos levam para destruir símbolos amaldiçoados, encontrar artefatos romanos, ou ainda reviver atividades do passado, correndo pelos telhados para pegar papéis voando, que aqui desbloqueam algumas tatuagens para customizar Eivor.
Já os Mistérios são as atividades mais legais e divertidas de Assassin’s Creed Valhalla, pois são realmente variadas e nunca sabemos o que nos espera quando chegarmos nos pontinhos azuis. Existem missões chamadas de Eventos do Mundo que trazem missões curtas, mas com narrativas realmente interessantes e que enriquecem demais nossa jornada, seja com mais informações sobre a cultura daquelas pessoas, ou até mesmo temas místicos. Também existem batalhas realmente desafiadoras em alguns desses pontos, seja contra animais lendários ou as contra as chamadas Filhas de Lerion. Também podemos explorar locais subterrâneos em busca de tesouros, o que me lembrou muito as tumbas dos jogos mais antigos. Ainda existem atividades curiosas como empilhar pedras até uma determinada altura, ajustar símbolos na posição correta ou ainda comer cogumelos para vivenciar acontecimentos inesperados. Outra atividade interessante são os Drengr Perdidos, onde encontramos poderosos guerreiros que já lutaram muito, e querem uma última luta honrada para finalmente ir para a glória de Valhalla, com batalhas muito desafiadoras e com um suave toque de emoção. Tem para todos os gostos.
Uma dessas atividades de Mistérios que mais gostei foi a Anomalia do Animus, onde enquanto estamos explorando o mundo com Eivor encontramos Glitchs visuais causados por um tipo de bug no Animus. Ao interagir com o local, mudamos para Layla, que deve passar por seções de plataforma para chegar até ao artefato que está causando o problema. Essa atividade me lembrou um pouco as partes do Desmond em Revelations, mas em Valhalla os trechos já estão criados, e além de pular entre as plataformas, também precisamos resolver puzzles para progredir até o final. Ao chegar no item que está causando a Anomalia, destravamos trechos de vídeos para montar algo especial, parecido com o que acontece com Glifos de Assassin’s Creed 2. Nostalgia da melhor qualidade, e que adiciona mais conhecimento para a saga.
Para encontrar essas atividades do mundo temos a manutenção de um pássaro para nos auxiliar, que agora se trata do corvo Synin. Mas ao contrário das aves dos dois jogos anteriores, Synin não marca itens ou inimigos, mas apenas destaca o local para onde devemos ir, aumentando o desafio de exploração. O corvo te mostra o que existe em pontos de interesse, caso ele chegue bem perto do local, tipo, se ali é um tesouro, ou um artefato, por exemplo, mas você deve ir na área para encontrar o seu caminho até ele. Eu gostei muito dessa mudança, pois faz com que os jogadores se esforcem mais para conhecer os ambientes e seus segredos.
Para complementar esse novo uso para o pássaro que nos acompanha, Eivor possui o Olho de Odin, que nada mais é que uma nova versão para a Visão de Águia dos primeiros jogos, onde apertamos o botão RS e destacamos os inimigos, tesouros ou objetivos de missões dentro da área ao nosso redor. Não é necessário desbloquear essa habilidade, ela já está presente com Eivor desde o início.
Por fim, mas não menos interessante também existem mini-games mais voltados para a cultura nórdica. Tem batalha de bebida para ver quem aguenta beber mais em menos tempo, tem duelo de repente com batalhas de rimas, pescaria e ainda o jogo Orlog, que depois que entendemos todo o seu sistema, se torna uma das atividades mais viciantes de Valhalla.
O jogo possui dois mapas principais, Noruega e Inglaterra, onde a Inglaterra possui a grande maioria das atividades e missões. Além deles, existem os mapas voltados para a mitologia com Asgard e Jotunheim, além de um outro surpresa. Todos possuem um bom tamanho e seus próprios eventos, garantindo uma boa quantidade de diversão.
As batalhas de navio não fazem parte do combate dessa vez, até por motivos óbvios de veracidade histórica, já que as embarcações cheias de canhões, e usadas como armas, não fazem parte do estilo dos nórdicos. Os Drakkar dos Vikings são usados apenas para a movimentação pelos mapas.
Melhore seu assentamento e faça aliados
A parte central da jornada de Eivor é conquistar aliados na Inglaterra, e para isso precisamos escolher territórios para ajudar e tentar trazer seus líderes para o nosso lado. Esses aliados são importantes para os acontecimentos finais de Valhalla, e as escolhas que fazemos durante os arcos de cada região são muito importantes para nossa progressão.
Essas regiões também possuem locais de Incursão, que como disse anteriormente, é um dos conteúdos mais divertidos do jogo, e traz aquela sensação, que já vimos em filmes e séries, sobre as invasões dos Vikings nas aldeias e cidades para pilhar suas riquezas e deixar um rastro de sangue dos inimigos eliminados. Você precisa dos companheiros para pilhar os recursos principais, recursos esses que são muito importantes para desenvolver o seu Assentamento, e que também adiciona uma mecânica interessante para o título.
Você chegou na Inglaterra com seu povo para encontrar uma terra para sobreviver, e para isso precisa melhorar as condições de vida deles. O Assentamento possui diversas estruturas que precisam ser construídas, e algumas outras que podem ser melhoradas. Quanto maior o seu Assentamento, mais atividades você pode realizar ali mesmo, como melhorar seus equipamentos, vender itens, e até mesmo progredir com a narrativa dos Ocultos e do arco mitológico. Missões adicionais também surgem, conforme você amplia o local. Além disso, algumas estruturas concedem determinados tipos de bônus passivos, que são ativados por um período de tempo, após realizarmos um banquete para os nossos companheiros.
Uma imersiva, e bela, jornada
Assassin’s Creed Valhalla é um espetáculo visual digno da nova geração. Pude jogá-lo, quase em sua totalidade em um Xbox Series X, e o resultado realmente impressiona, segurando 4K com 60FPS e ainda tecnologia HDR. Os ambientes estão ainda mais caprichados e cheios de detalhes, seja nos vastos cenários externos, com seu misto de montanhas, florestas, praias e cidades, seja em locais internos, com uma perfeita sincronia da escuridão com pontos bem colocados de luz. Falando em luz, a Ubisoft também realizou um trabalho fenomenal com o HDR, usando bem a iluminação para enriquecer os ambientes, e também abusando das cores, deixando a imagem na tela mais viva do que nunca. O ciclo constante de dia/noite, e o clima que muda constantemente, não só destacam a beleza do jogo, como também colaboram para a imersão.
O trabalho geral de criação de cenários é realmente muito bom, explorando bem todas as nuances do título, seja com sua reprodução de locais históricos, ou como seriam aqueles ambientes naquela época, ou em seus trechos mais místicos e que também exploram a mitologia nórdica. Tudo está produzido de forma brilhante. O modo foto continua presente para gravar as partes mais importantes da sua aventura, e com diversas ferramentas para criar belas telas para compartilhar com seus amigos.
Os personagens estão muito detalhados e naturais, fazendo com que as cenas funcionem muito bem. Os rostos possuem muitos detalhes e suas expressões são suaves, o que é ótimo para a narrativa. O único ponto que incomoda é um brilho excessivo estranho que aparece nos olhos em algumas cenas.
Quanto ao desempenho no Xbox Series X ele é suave o tempo todo, sem quedas de frames, ou travamentos, além disso os loadings são muito rápidos, o que não quebra a ação.O VRR também traz um resultado incrível para o Xbox Series X, pois como a minha TV possui suporte para a tecnologia, não presenciei o screen tearing que ocorreu em outras plataformas.
Mesmo que o Xbox One X não tenha todas essas melhorias do Series X, o desempenho no console também é bom. Ainda assim, espere por longos loadings, e o framerate mais baixo, que chega apenas em 30FPS, mas de forma estável.
Mesmo com o belo trabalho da Ubisoft em Valhalla, o jogo ainda sofre com alguns problemas técnicos, alguns graves. Algumas texturas demoram a carregar, personagens ficam presos em algumas estruturas ou cenas de diálogos que travam por alguns segundos após você finalizá-las. O framerate dos pássaros que voam pelo céu está mais baixo que o do jogo, o que resulta em um visual um tanto quanto estranho. A maioria desses problemas não é grave, ou acontece com frequência, mas ocorreram durante minha experiência.
No entanto alguns deles prejuducam a experiência, e precisam de correções o quanto antes. A IA desliga por diversas vezes, sejam alguns inimigos que ficam parados sem te atacar ou até mesmo se tornam imortais e não recebem dano, ou os aliados que não respondem ao seu chamado, prejudicando as Incursões, onde você, obrigatoriamente precisa da ajuda deles. Outro caso complicado são NPCs que eu não consegui interagir, me impossibilitando de completar missões, e me fazendo ter que voltar um save bem anterior, onde perdi uma hora de progressão. O sistema de salvamento também tem passado por diversos problemas, até mesmo corrompendo arquivos em alguns momentos. Nesse caso é algum tipo de problema com o novo sistema Ubisoft Connect, que salva os dados na nuvem da empresa, mas que claramente está precisando de ajustes.
São problemas que não tiram todo o brilho da obra como um todo, mas que precisam sim de ajustes urgentes, pois podem afastar os jogadores da experiência, principalmente se ocorrerem com frequência. Ôoo Ubisoft, manda uma atualização bem rapido aí!
Já quanto ao som, o jogo oferece uma experiência praticamente perfeita, seja nas canções, ruídos ou dublagem.
Primeiro quanto a trilha sonora, ela segue soberba, e consegue trazer os cânticos Vikings com potência, realmente te transportando para aquele clima mais selvagem, além disso os temas tradicionais da série estão mantidos de forma suave, oferecendo uma mistura maravilhosa para os ouvidos. As canções que a tripulação canta em seu barco também possuem uma alta qualidade. É realmente especial ter o retorno de Jesper Kyd para a saga (Ele é o compositor da icônica “Ezio’s Family“, que é o tema da franquia até hoje), que soube aliar toda a sua experiência, com o apoio de Sarah Schachner (Unity e Origins) e Einar Selvik, que é um músico norueguês também conhecido por seu trabalho na trilha sonora da série “Vikings“.
Os temas são belíssimos e fortes, trazendo personalidade para cada momento.
Os ruídos das armas em combate, das finalizações, e dos ambientes estão muito bem produzidos e enriquecem tanto a exploração quanto os combates, os deixando ainda mais brutais.
Quanto a dublagem original, para mim, é a melhor dos três jogos, com vozes que combinam com os personagens e que carregam os sotaques de cada cultura, o que aumenta muito a nossa imersão naquele universo. As vozes raramente não combinam com os personagens, o que era comum nos dois jogos anteriores. A sincronização labial também está muito boa. A dublagem brasileira também é boa, eu apenas senti falta dos sotaques da versão original, mas ainda assim é uma boa opção para quem não curte jogar com legendas. Assassin’s Creed Valhalla possui legendas e menus em português do Brasil, como de costume dos jogos da Ubisoft.
Em alguns momentos ocorreu da dublagem se sobrepor, e sair o som de uma mesma voz ao mesmo tempo, e de um tema que mesmo após finalizar uma incursão, ele não trocar. Mas foram casos muito raros. No geral, a experiência audiovisual é belíssima e imersiva.
Opinião
Assassin’s Creed Valhalla é um passo gigante na direção certa para a franquia, sendo melhor que os dois jogos anteriores, e o que chegou mais perto de oferecer a experiência definitiva de Assassin’s Creed nessa trilogia de origem. A Ubisoft refinou o combate, adicionou mais peso para as nossas escolhas, e finalmente encontrou o equilíbrio entre um mapa vasto, mas com atividades realmente interessantes e que agregam algum valor para a experiência. A narrativa cresceu, mostrando a vida dos Vikings e o contexto histórico da sua guerra contra os reinos da Inglaterra, mas sem perder de vista a trama de Assassinos e Templários, mesmo que ainda não tenha o mesmo peso dos jogos mais antigos. Existe uma real progressão para futuro da série, dando pistas de que daqui para frente a tendência é só melhorar.
A apresentação audiovisual é soberba, com cenários belíssimos, personagens com design natural, e uma trilha sonora profundamente imersiva. Existem problemas que precisam de correção, mas que não conseguiram tirar o brilho de toda a minha experiência.
Terminei a história com 73 horas e explorando muita coisa que o jogo tem a oferecer. Mas o melhor disso tudo é que ainda existe muito mais do que isso para explorar, e eu estou realmente animada para continuar minha jornada para limpar todas as regiões, e ver quais surpresas ainda me aguardam em Valhalla.