Há alguns anos atrás, quem imaginaria que um título da franquia Yakuza estaria na lineup de lançamento de um console da Microsoft? Pois é, Yakuza: Like a Dragon é um dos títulos que estão disponíveis hoje, dia 10 de Novembro, para Xbox Series X|S.
O jogo é um spin-off que traz muitas mudanças em comparação aos títulos principais. Será que a Ryu ga Gotoku, estúdio responsável pela série, acertou em trazer um título tão diferente nesta nova geração de Yakuza? Confira em nossa análise.
A busca pela ascensão
Like a Dragon coloca o jogador no papel de Kasuga Ichiban, um yakuza de ranque baixo integrante da família Arakawa, uma subsidiária do lendário Clã Tojo. Após um importante acontecimento na família Arakawa, a lealdade de Ichi para com seu clã é colocada a prova. Sem muitas explicações, nosso protagonista assume o crime de um outro membro da família e acaba indo parar na prisão.
Dezoito longos anos atrás das grades. Muitas dúvidas surgem após tanto tempo, mas Ichi acredita que tudo será esclarecido ao ganhar sua liberdade de volta. Entretanto, muita coisa também mudou fora da prisão. O clã que servia já não existe mais. Sua família yakuza o abandonou. Ichi se vê a beira da morte em uma cidade desconhecida. Sem amigos. Sem emprego. Sem um lugar onde dormir. Que grande retorno após um belo tempo na prisão, não é?!
Mas o espírito do nosso herói não se quebra tão facilmente. Afinal, quando você chega no fundo do poço, sua única opção é subir. E assim, Ichi começa sua jornada não só para dar um novo rumo a sua vida, como para buscar respostas para tudo que passou nos últimos anos.
Um verdadeiro herói
Confesso que não fui com a cara de Ichiban desde que o jogo fora anunciado. Aparência relaxada. Um tanto atrapalhado. Quase que o oposto da imagem de Kazuma Kyriu, protagonista nos outros jogos da franquia. Felizmente, não demorou para Ichi quebrar essa primeira má impressão, e para que eu descobrisse que ele talvez seja um dos melhores personagens da franquia, talvez até que o próprio Kyriu.
Destemido. Determinado. Não tem medo de defender seus ideais. Está sempre disposto a ajudar a todos, e solucionar todos os tipos de problemas. Colocar sua vida em risco, para ajudar um companheiro também não é problema para ele. É como se a Ryu ga Gotoku tivesse se inspirado no clássico herói de mangás shonen. Não é preciso se esforçar tanto para ver um pouco de Luffy, Naruto, entre outros, na personalidade de Ichi.
Essa Síndrome de Super-Herói se dá ao fato dele ter sido um grande fã de Dragon Quest quando garoto. Seu sonho sempre foi ser tornar um herói quando crescesse. Graças a este estilo de vida, Ichi consegue atrair vários companheiros em sua jornada. Afinal, um herói de RPG não consegue derrotar o vilão sem sua party.
Como um RPG…
A Ryu ga Gotoku poderia muito bem ter feito de Yakuza: Like a Dragon um simples JRPG. Batalhas em turno. Classes com habilidades específicas para cada personagem. Nada de muito excepcional. Mas o fato de Ichi ser obcecado por Dragon Quest, e ter uma imaginação bem fértil, deixa tudo mais hilário.
Nada é o que parece na visão do nosso herói. Em dado momento, seus companheiros acham um bastão de baseball fixado em uma rua. Ambos tentam remover o objeto do chão, mas sem sucesso. Só que na cabeça de Ichi, aquilo na verdade é uma lendária arma onde somente um verdadeiro herói poderá empunhá-la. E, obviamente, ele consegue remover o objeto.
O mesmo vale para aliados e inimigos. Nanba, um sábio morador de rua usa seu bastão mágico (guarda-chuva) para soltar poderosas magias, como jogar milho nos inimigos para um hilário ataque de pombos. Adachi, um forte investigador aposentado, protege seus aliados de investidas inimigas com seu grande porte. Saeko, uma bela acompanhante, possui beleza e charme para hipnotizar seus inimigos. Os adversários também costumam se transformar aos olhos de Ichi. O que os outros membros veem como yakuza, arruaceiros ou assassinos, Ichi vê como demônios, yokais e monstros. As vezes ele até vira motivo de chacota de seus companheiros por ver coisas que os outros não conseguem.
Como Ichi não possui nenhuma fonte de renda, o mesmo precisa viver de bicos que consegue na agência de empregos Hello Work. É claro que para ele não são simples empregos. São como classes que você vai se especializando e ganhando novas habilidades. Um dançarino de break consegue desferir vários golpes em combos dançantes. Um chef pode criar pratos para recuperar a vida de seus companheiros. Um músico se torna o bardo que ajuda a aumentar o ânimo da equipe. E por aí vai. Cada personagem do jogo possui um emprego único, mas é possível mudar sem problemas.
Um parque de diversões
Quem já conhece a franquia Yakuza sabe que seus jogos são repletos de minigames. Mas são muitos mesmo. Nas ruas de Kamurocho você pode treinar rebatidas de baseball. Dançar em casas noturnas. Cantar Karaoke. Jogar em fliperamas da SEGA (mindblow). E Like a Dragon eleva a outro patamar essa brincadeira. Boa parte da história se passa na cidade de Yokohama, e ali o estúdio Ryu ga Gotoku preparou uma nova leva de atividades.
Ir ao cinema. Comandar sua pequena empresa. Realizar teste vocacionais. Até catar latinhas para conseguir uns trocados. Sempre haverá algo pra se fazer em Yokohama. Mais do que só servirem de entretenimento, algumas dessas atividades ainda conseguem entregar novos arcos de histórias paralelas, aumentar o elo entre seus personagens e garantir habilidades exclusivas para Ichi.
Confesso que em diversos momentos era difícil continuar a campanha principal do jogo. Sempre aparecia um algo interessante no meio do caminho e eu acabava perdendo um bom tempo me divertindo.
A nova geração de Yakuza
Yakuza: Like a Dragon é um jogo que quebra alguns paradigmas dentro da franquia Yakuza. Ele deixa para trás o já consagrado estilo de combate de ação/brawler para dar lugar ao sistema de RPG em turnos. Kazuma Kiryu, lendário protagonista dos jogos anteriores, é substituído pelo novato Kasuga Ichiban. Essas duas mudanças já seriam o bastante para levantar a desconfiança dos fãs da franquia e, possivelmente, uma má recepção do jogo.
Todavia, a desenvolvedora Ryu ga Gotoku conseguiu não só manter a essência da franquia neste novo jogo, como melhorá-lo em muitos aspectos. A jornada de Ichiban pode ser considerada uma das melhores, quiçá, a mais divertida de todas. O fato de possuir vários personagens, com suas próprias histórias e personalidades, agrega muito a experiência do jogador. Os fãs de RPGs e obras japonesas perceberão de cara as inúmeras referencias e easter eggs do jogo. Um dispositivo chamado sujidex para analisar inimigos denominados de sujimon por um cientista. Um chapéu de palha como um raro equipamento de defesa. Esses são só alguns exemplos.
Like a Dragon é também o jogo mais bonito da franquia. Os cenários estão ainda mais vívidos, e o modelo dos personagens mais natural. Aliás, a Ryu ga Gotoku não costuma economizar neste aspecto, e sempre traz algum ator/atríz para dar vida a algum personagem. É o caso de Shinichi Tsutsumi e Kiichi Nakai, que realizam um trabalho impecável no papel de Jo Sawashiro e Masumi Arakawa, respectivamente.
A dublagem japonesa segue excelente, mas você pode optar pela americana, inédita na franquia, que não decepciona. Decepcionante mesmo é o fato do jogo não possuir legendas em português do Brasil. Assim como os demais jogos, Like a Dragon possui uma história densa e repleta de diálogos, fazendo-se necessário ao menos ter uma boa leitura do inglês.
Opinião
Yakuza: Like a Dragon tem tudo que um fã da franquia poderia querer. Uma história envolvente. Personagens marcantes. Um ótimo protagonista. É também uma ótima opção como entrada para novatos na franquia, uma vez que sua história não é ligada diretamente aos outros capítulos da série. Confesso que já quero um novo capítulo na saga de Ichiban, bem mais que uma aventura com Kiryu, protagonista do arco principal.
Poderia ser uma aventura perfeita, mas a falta de uma localização para nosso idioma torna inviável desfrutar desta excelente obra para boa parte dos brasileiros. Uma pena, SEGA.
