Mortal Shell é o mais recente jogo do gênero souls-like disponível no mercado. Mais do que apenas um outro souls-like, o jogo produzido pelo pequeno estúdio da Cold Symmetry parece uma pequena homenagem a franquia que criou um gênero. Será Mortal Shell uma obra tão boa quanto sua fonte de inspiração? Confira nossas impressões.
Dark Souls, é você?
Com um breve vídeo introdutório, o jogador assume o controle de uma criatura humanoide para realizar o tutorial. Você aprende os comandos básicos como ataque fraco, ataque forte, correr e rolar. Não há um botão de defesa aqui, mas uma habilidade de solidificar no lugar. É o primeiro ponto que mostra como Mortal Shell pretende se desvencilhar de sua inspiração. Solidificar transforma nosso personagem em rocha, tornando-o imune a qualquer dano. O interessante é que você pode usar a qualquer momento, respeitando apenas o tempo de intervalo em que a habilidade pode ser usada.
Ao final do tutorial, existe uma batalha contra um chefe para você testar os comandos aprendidos. Mesmo sendo macaco velho na franquia souls, tomei uma bela surra do meu oponente. Para minha surpresa, ele também possuía a habilidade de endurecer, o que me ajudou a ter uma ideia melhor de como mesclar a habilidade com ataques e criar combos.
Para quem é fã ou já jogou um jogo da franquia Dark Souls, certamente este início parecerá familiar. É fato que o pequeno time da Cold Symmetry (apenas 15 integrantes) teve claras inspirações na franquia da From Software ao produzir Mortal Shell. São várias similaridades – a forma como a história é contada, sua ambientação, combate – mas com um toque de originalidade, que não fica só no sistema de combate.
O começo de um sonho…
Ao começar a aventura, percebo que não há como personalizar meu personagem. Aumentar pontos de vida, ataque, defesa e vigor? Nada Disso! Um ataque de qualquer inimigo e estava tudo acabado. Como seria possível avançar em uma situação tão adversa? Não muito longe de onde iniciamos nossa jornada, há um mausoléu. Lá, encontro tumbas vazias e ao interagir com uma delas, uma visão inicia. Pelos arredores do mausoléu, existe um guerreiro caído. Com base nas lembranças da visão, procuro até achar a localização do guerreiro. Quando encontro-o, a opção de habitar a carcaça aparece, e nosso personagem toma o controle daquele guerreiro desconhecido.
Automaticamente, a barra de vida aumenta, juntamente com o vigor. Meu personagem tinha adquirido as características daquele guerreiro, daquela carcaça desconhecida. Mas suas habilidades estavam bloqueadas. Era preciso descobrir a identidade daquele corpo que nosso personagem habitava.
É dentro do mausoléu que você vai encontrar um importante NPC, a irmã Genessa. Essa figura é equivalente a Firekeeper de Dark Souls, tanto na aparência quanto na função. É ela quem guiará o jogador nessa jornada, fazendo (vagas) revelações sobre nosso personagem e o mundo em que nos encontramos, e utilizando os pontos de experiência, aqui chamado de Tar, para ajudar a relembrar quem são os guerreiros caídos que nossos personagens poderão habitar. A cada nova habilidade desbloqueada, um novo vislumbre sobre o passado de nossa carcaça também é revelado.
Essa interessante mecânica de relembrar fatos também funciona para itens. Você encontra vários objetos pelo caminho, mas sem lembrança do que cada um serve. Para saber sua finalidade, é preciso usá-los um certo número de vezes. Imagine o seguinte cenário: você está perdido na floresta e morto de fome. Você encontra dois cogumelos de aparência diferentes, e não conhece nenhum dos dois. Um pode te alimentar e o outro envenenar. Como você fará para descobrir? A única forma é comendo.
Assim funciona em Mortal Shell. Você vai ter que contar com um pouco de sorte na hora de descobrir seus itens. Alguns vão curar. Outros vão envenenar. Alguns ainda vão tirá-lo de sua carcaça. Assim como descobrir a utilidade de cada item, você também recebe alguns pedaços da lore do jogo.
Confesso, os primeiros momentos da minha aventura por Mortal Shell foram mágicos. Tudo parecia incrível. Uma ambientação perfeita de um mundo sombrio de fantasia. Perigos em todos os lugares. Era preciso avançar com toda cautela para não cair em armadilhas ou emboscada de inimigos. A intrigante mecânica de descobrir itens. Mas…
Deu tudo errado…
Via de regra, todo souls-like é insanamente difícil. Seja por conta de um chefe extremamente desafiador, seja por um estilo de combate mais ágil, que exija muita perícia do jogador. Mortal Shell não foge a regra. Aqui, os combates também são bem táticos e exigem paciência do jogador, mas algumas problema técnicos e escolhas duvidosas acabam tornando-o mais difícil do que deveria.
Começando pelo sistema de combate em si. Robótico. Pouco responsivo. Cansei de atacar o vácuo por conta do alcance da arma ser menor do que aparenta. Tentar esquivar ou solidificar, mas acabar levando golpe por que o comando não foi respondido. É algo que você consegue se adaptar com alguma prática, principalmente por que você terá uma horda de inimigos pela frente para treinar.
As batalhas contra chefes, em si, são entediantes. Uma pena, pois são todos bem trabalhados visualmente, dando aquele ar de um grande desafio a frente. Mas não deve demorar até você perceber que cada inimigo possui uma variação de 3 a 4 ataques, no máximo. Uma vez que você os memoriza, basta calmamente esperar uma janela para atacar, e você pode até sair ileso de algumas batalhas.
Agora, a Cold Symmetry não foi muito feliz ao escolher o método de cura do jogo. Existem duas formas de você se curar em Mortal Shell: alimentando-se e ripostando golpes. O problema da comida: é escassa. Você não encontra de bandeja por aí e curam uma pequena, mínima, porção da sua vida. Já ripostar, exige que você tenha um timing perfeito para rebater ataques inimigos e recuperar uma pequena porção da sua vida. Além de exigir treino, o jogador vai ter que estar atento ao seu redor, pois na maioria das vezes, serão de 3 a 4 inimigos te atacando de todos os lados.
Fechando aqui a zona da decepção, o jogo é bem curto. As áreas do jogo, quatro, até onde achei, parecem enormes labirintos, mas uma vez que você decora os caminhos, perceberá o quão pequenas são. Você até consegue ir de um chefe a outro, ignorando os inimigos pelo caminho, se souber o caminho, é claro.
Ou quase…
Apesar de Mortal Shell possuir algumas más escolhas, o jogo não é de todo ruim. Apesar de seu mundo não ser do maiores, possui um visual impressionante. Os personagens e criaturas do jogo também são bem detalhados. A parte sonora é bem trabalhada, com um ótimo trabalho dos dubladores. Jogando de fone, você consegue ouvir a respiração de inimigos, prontos para realizar uma emboscada.
A lore do jogo, apesar de ambígua, intriga e cria aquela vontade de sempre querer saber um pouco mais. Felizmente, o jogo conta com legendas em pt-br, facilitando seu entendimento.
Opinião
Mortal Shell pode ser uma interessante opção para quem quer conhecer o gênero souls-like. Quem ousar se aventurar pelo jogo, testemunhará um belo e misterioso mundo para ser desbravado. Infelizmente, este encanto pode sumir devido aos problemas técnicos que envolvem o título.
A bem da verdade, Mortal Shell não é um jogo ruim. Porém, as inúmeras referências com Dark Souls acabaram tornando quase impossível não fazer uma comparação direta, o que acabou elevando as expectativas sobre o jogo. O jogo também é bem curtinho. A jogatina durou por volta de cinco horas e meia para terminá-lo. Vale lembrar que o mesmo conta com múltiplos finais, reforçando o fator replay.