Anunciado na E3 2019, durante a conferência da Microsoft, Dragon Ball Z: Kakarot é o mais recente jogo baseado na obra de Akira Toriyama. Kakarot conta a história do lendário guerreiro saiyajin misturando ação, luta e RPG. Será que esta nova perspectiva fez bem a uma franquia onde, majoritariamente, é conhecida por jogos de luta? Confira o que achamos nessa análise.
Oi, eu sou Goku
Dragon Ball Z: Kakarot conta a já conhecida história dos Guerreiros Z em sua luta para salvar a terra de inúmeras ameaças. O jogo começa com a invasão dos saiyajins, e vai até a luta contra Majin Boo. Na história, assumimos o controle de Goku na maioria das vezes, mas também podemos jogar com outros Guerreiros Z.
Sim! Cá estamos nós revivendo a história de Goku pela enésima vez. O guerreiro da raça saiyajin enviado para destruir a terra, mas que acabou se tornando seu principal protetor.
-Ah, mas é a mesma história de novo?!?!?
Calma! Apesar de Dragon Ball Z: Kakarot recontar a história de Goku, garanto que você nunca viu em outro jogo a forma como neste ela foi apresentada. A CyberConnect2, desenvolvedora do jogo, contou com a tutela do próprio Akira Toriyama para ajudar na produção do jogo. Apesar de apresentar alguns deslizes, o trabalho foi minucioso e o resultado é simplesmente surpreendente.
Conhecendo o mundo de Dragon Ball
A primeira novidade de Dragon Ball Z: Kakarot perante outros jogos sobre a saga é um mundo a seu dispor para explorar. Não se trata um único mundo aberto, mas de várias sessões divididas, cada uma com tipos específicos de ambientes. Tem o arquipélago onde fica a ilha do Mestre Kame. A vila onde fica a casa de Goku. Planeta do Kaio-Sama. É sair voando por diversos cenários e interagir com várias atividades que o jogo dispõe.
E as atividades vão desde uma simples pescaria, a até achar as esferas do dragão. Ao abrir o mapa, sabiamente representado por um radar do dragão, você encontra ícones para pescar, lojas, treinamentos, missões de história e também secundárias. Não faltam opções para o jogador. O jogo praticamente nos convida para explorar seu mundo.
Isso se você levar em conta somente o que o mapa do jogo te mostra. Explorar os cenários de forma livre ainda guarda algumas surpresas, como, por exemplo, encontrar personagens secundários do universo Dragon Ball que estão espalhados por aí, onde você pode interagir com eles e ainda garantir itens raros. Ainda há espaço para aquele Fan Service esperto, onde você encontra figurinhas com momentos marcantes de vários arcos do anime.
Infelizmente, não demora para a magia acabar. Você começa a perceber as atividades se repetindo. Os cenários não tem o mesmo capricho dos personagens. Os NPCs ficam parados como postes, só aguardando uma interação com o jogador. Não se deram nem ao trabalho de criar ícones para materiais que você procura no mapa. São praticamente esferas iguais, com exceção um colecionável ou outro. Coletar as esferas do dragão não é lá tão motivador. Os desejos se resumem a ressuscitar um oponente, para que você possa enfrentá-lo novamente, ficar rico (que nem é tanto dinheiro assim) ou ganhar itens raros. A sensação é de um mundo artificial, repetitivo e feito as pressas.
Faltou RPG
Quando Dragon Ball Z: Kakarot fora anunciado com um RPG muitos torceram o nariz. Afinal, desde os primórdios, a principal forma de explorar a franquia no mundo dos games foram com jogos de luta. Sim, Dragon Ball já teve jogos de outros gêneros, como aventura, jogo de carta e até mesmo RPG, mas a maioria de qualidade duvidosa. Será que desta vez acertaram na fórmula?
A verdade é que Dragon Ball Z: Kakarot só pega emprestado algumas mecânicas de um RPG. A evolução do personagem, por exemplo. Você derrota inimigos, completa missões e realiza treinamentos para ganhar experiência e subir de nível. A cada subida de nível seu personagem tem uma melhoria nos status, como mais pontos de vida, mais ki, ou causar mais dano. O jogo pré-determina o atributo que será melhorado quando seu personagem sobe de nível. O jogador não realiza nenhuma escolha. Não há nem equipamentos para uma possível customização do status do personagem.
Ainda há uma árvore de habilidades onde você desbloqueia habilidades coletando Orbs Z pelo mapa ou como recompensa de batalhas. Cada habilidade possui um número de Orbs Z para ser liberada, e que variam nas cores. O curioso é que os orbs do mapa não somem uma vez que você as coleta. Então se você tem TOC de limpar tudo que tiver no cenário, é melhor fingir que elas não existem.
Basicamente, a parte de RPG só serve para nivelar as batalhas entre personagens. Se seus personagens estiverem com nível muito abaixo do oponente será bem mais difícil de derrotá-lo, e vice-versa. Certamente, não era algo que muitos esperavam.
Batalhas memoráveis
As coisas começam a melhorar quando Dragon Ball Z: Kakarot entra na sua principal característica: as batalhas. É, de longe, a parte mais satisfatória do jogo. O mapa de botões é um pouco difícil de se adaptar inicialmente, mas com um pouco de prática você logo estará dando conta de qualquer oponente.
As batalhas ocorrem quando você encontra minions pelo mapa, treina para adquirir novas habilidades e quando precisa avançar na história. Você pode lutar sozinho ou em grupo, dependendo do momento da história. Apesar do mapa de botões ser um pouco confuso inicialmente, os comandos são bem simples. Um botão para golpes corpo-a-corpo, que cria um combo automaticamente após ser pressionado várias vezes. Um botão para soltar esferas de energia. Um para bloqueio. Um para esquiva. Você ainda pode realizar transformações de personagens (leia-se virar super saiyajin, super nanamekuseijin, etc), usar ataques especiais (kamehameha) e combos com outros membros do grupo, caso estes estejam disponíveis.
Mas o grande destaque mesmo são as batalhas envolvendo eventos de história. A CyberConnect2 fez questão de dar um toque especial quando você enfrenta um grande vilão como Vegeta, Freeza, Cell etc. Oponentes como esses possuem ataques especiais inspirados na obra original.
Na luta contra Nappa, por exemplo, temos a Onda explosiva, aquele ataque que Nappa levanta dois dedos e destrói uma cidade inteira. Ao realizar esse ataque, a perspectiva da luta muda, você vê seu personagem do alto e precisa escapar da área de ataque para não sofrer dano massivo. Na batalha contra Cell, você pode quebrar a defesa quando o mesmo carrega um super kamehameha. O resultado é um golpe crítico, daqueles que desfigura a cara do personagem, como vemos bastante na obra original.
São mecânicas que mudam a dinâmica dos combates, tornando batalhas contra chefes mais desafiadoras e prazerosas. O mais legal é que estas batalhas são sempre as mais fiéis possíveis, como se você estivesse vendo uma cena do anime. Assunto que leva a outro destaque do jogo.
Uma enciclopédia digital
Quando disse que não há outro jogo como Dragon Ball Z: Kakarot, me referia a fidelidade a obra original. A CyberConnect2 realizou um trabalho árduo para recriar várias cenas do anime. Não foram poucos o momentos que tive a sensação de estar assistindo a um episódio de Dragon Ball Z, porém, com uma qualidade infinitamente melhor.
A quantidade de cenas não interativas é enorme. Eu simplesmente largava o controle e assistia encantado, como a criança que acompanhou o anime em uma tv de tubo. Revivi momentos marcantes, onde nenhum detalhe escapou. O sacrífico de Piccolo para salvar Gohan. O choro de Vegeta pedindo para que Goku vingasse os Saiyajins antes de luta contra Freeza. Goku ajudando Gohan a superar a luta contra Cell.
E se isso já não fosse bom o bastante, ainda há uma enciclopédia dentro do jogo com praticamente TUDO sobre Dragon Ball Z. Há uma sessão para rever cenas do jogo. Completar um álbum com figurinhas de cada personagem. Ouvir todas as trilhas sonoras. Tabela de relações dos personagens. Ainda fizeram questão de colocar comentários com curiosidades do programa na TV quando você vai na sessão de história.
É surreal a quantidade de conteúdo voltado para os fãs. Só faltou o jogo chegar dublado em nosso idioma, aí seria sonhar demais. O jeito é se contentar com as legendas mesmo.
Opinião
Dragon Ball Z: Kakarot tinha tudo para ser o melhor jogo inspiradio na saga. Ele oferece cenas recriadas com extrema fidelidade, batalhas divertidas e uma enciclopédia para nenhum fã botar defeito. Era a CyberConnect2 focar nisso e seria perfeito.
No entanto, seu mundo vazio e enfadonho para explorar, somado ao fraco RPG, acabam tirando o brilho do jogo. Na verdade, parecem até desnecessários.