A primeira vez que tive contato com Children of Morta foi num dos primeiros trailers de gameplay, onde eu fiquei curiosa com o estilo de jogabilidade, pois curto muito o estilo Dungeon Crawler, aquele onde temos que explorar masmorras em busca de itens, experiência e progressão na história. Um estilo muito popularizado com franquias como Diablo e, mais recentemente, Path of Exile. No entanto, em Children of Morta o estúdio Dead Mage traz uma estrutura diferente, com elementos Roguelite que mudam muito essa estrutura já definida.
A narrativa nos leva a acompanhar a carismática família Bergson, que nos conquista rapidamente com a sua jornada para impedir que um mal se espalhe por sua terra sagrada. Tudo gira em torno do amor da família uns pelos outros e como eles são unidos na busca de seus objetivos, e isso está ligado ao gameplay de forma muito inteligente e natural.
História
A história de Children of Morta nos apresenta uma trama que gira em torno da família Bergson, que possui a responsabilidade de proteger sua terra natal, que agora está sendo destruída por um mal sobrenatural conhecido por Corrupção, e que ameça destruir tudo no seu caminho. Como podem perceber, a ideia central é simples e já explorada diversas vezes em outros jogos, mas a maneira como isso é trabalhado na narrativa é algo brilhante.
Dentre os integrantes da família Bergson podemos encontrar artesãos, feiticeiros, arqueiros, guerreiros, estudiosos… Cada um deles possui um papel vital nessa jornada, e conforme entramos no ciclo de explorar, morrer e voltarmos para casa (que irei explicar mais adiante) podemos conhecer mais sobre suas vidas e sua relação com os outros familiares e o mundo de Children of Morta. Os personagens são muito carismáticos e nos sentimos incentivados em continuar explorando as masmorras não apenas para ficarmos mais fortes para os desafios, mas também para conhecermos mais sobre a família e o belo laço que os une.
Mais do que nos aventurar por portais que nos levam para mundos que precisam ser purificados, e assim consigamos despertar os poderosos espíritos que nos ajudarão na luta contra a Corrupção, Children of Morta é um conto sobre a importância dos laços familiares, e sabe desenvolver ambas as ideias muito bem.
Os personagens não possuem voz, seus diálogos são expostos na tela, e felizmente eles estão todos legendados em português do Brasil. A história é toda narrada por um locutor que dá o tom certo para a trama, trazendo ainda mais emoção e imersão para os personagens que estamos acompanhando, envolvendo completamente o jogador naquele universo.
Jogabilidade
Children of Morta apresenta uma estrutura de gameplay viciante, onde vivenciamos um ciclo de explorar, morrer e melhorar o personagem. O jogo apresenta 3 mundos, onde cada um deles possui mapas com subseções, e nós precisamos explorar cada canto em busca de itens e relíquias para melhorar nosso personagem naquela tentativa, além de adquirir experiência para desbloquear novas habilidades ativas e passivas, além da moeda Morv que é utilizada para melhorar atributos como vida, dano, velocidade e etc.
Funciona assim: Você seleciona um personagem e entra no mapa, alguns desses mapas possuem de dois a quatro subseções. A ideia não é fechar a masmorra na primeira tentativa, mas adquirir experiência e Morv para melhorar seus personagens e assim conseguir derrotar o Boss final dessa masmorra. Morreu? Volta para a casa dos Bergson, melhora sua família e reinicia a masmorra. Aos poucos, a progressão vai ficando mais fácil naquele mapa, até você conseguir finalizar.
Exploração é essencial em Children of Morta, assim como a sorte, pois ao eliminar inimigos, abrir baús e completar missões secundárias, você encontra itens, pilares e relíquias que adicionam efeitos passivos e ativos para facilitar sua jornada, então quando mais explorar, antes de chegar ao Boss, melhor. Além disso, existem áreas dentro desses mapas com missões secundárias que adicionam muita informação interessante para a história, já outras áreas possuem chefes extras, sequências de derrotar hordas, Tower defense e até um mini-game de Pong. E não adianta gravar esses locais nos mapas, pois eles são gerados processualmente, então toda vez que entrar na área ela terá mudado totalmente. Dessa forma, a exploração nunca se torna repetitiva, pois sempre haverá algo novo para se fazer.
Os personagens também fazem parte dessa mudança constante, pois o jogo incentiva que o jogador use um pouco de cada Bergson. Aqui não tem essa de escolher um personagem e ir com ele até o fim, pois eles sofrem com fadiga por Corrupção, diminuindo gradualmente seus pontos de vida, assim ele deve descansar para se recuperar e você deve utilizar outro personagem enquanto isso. Além disso, essa troca é essencial para fortalecer toda a família, pois ao alcançar determinados níveis são desbloqueados efeitos passivos para todos os Bergsons deixando a família mais preparada para os desafios.
Existem as habilidades que você desbloqueia para o personagem jogando com ele e ganhando experiência, mas também existem os atributos gerais que você desbloqueia com Morv e que são válidos para todos. Dessa forma, a ideia da história de focar na união da família, se expande para a jogabilidade de forma bem natural.
O combate é divertido e muda bastante de acordo com cada personagem, tem opções para combate corpo a corpo com martelos gigantes, espada e escudo, adagas e até mesmo socos, além de opções de longo alcance com arcos, e magias de fogo. O combate se expande com a barra de estamina, que limita nossa esquiva e algumas habilidades. Além disso, existe uma barra de Fúria que, quando preenchida, possibilita o uso de uma habilidade que aumenta o nosso dano durante um determinado tempo.
Children of Morta possui um bom nível de desafio, que vai requerer que o jogador entenda bem as suas mecânicas. Os inimigos são variados e com estilos diferentes de habilidades, o que nos faz analisar bem antes de partir para o enfrentamento. Os Bosses são bem criativos e adicionam boas batalhas, com mecânicas inteligentes.
O mais legal desse ciclo de exploração e morte é que quando falhamos e somos levados de volta para casa, quase sempre existem novos diálogos que adicionam informações importantes para narrativa.
Por fim, Children of Morta possui cooperativo local para até dois jogadores, que funciona de maneira bem simples e que facilita, um pouco, a progressão. Uma pena que esse modo só conta as Conquistas para o jogador principal, pois o convidado não pode logar com a sua própria conta para salvar o progresso. A adição de um cooperativo online também teria sido interessante para aumentar a vida útil do jogo. Espero que os desenvolvedores consigam adicionar essa função no futuro.
Gráficos e Som
O estúdio Dead Mage optou por um estilo Pixel Art que acabou funcionando muito bem com o mundo de Children of Morta, tanto para apresentar seu mundo com muitos detalhes, quanto para desenvolvê-lo. As masmorras são muito bem construídas, e cada uma possui suas próprias características e inimigos. Conforme avançamos na trama, e também melhoramos nosso personagem, os desafios são expandidos, então os mapas sempre apresentam novidades para testar as habilidades dos jogadores, como novos inimigos, armadilhas, e outras surpresas mais. O estúdio conseguir dar a cada parte do jogo suas próprias caraterísticas que são muito bem representadas em tela, e que apesar da simplicidade do Pixel Art, os desenvolvedores conseguiram fazer o mundo, seus personagens e suas mecânicas brilharem com intensidade.
A performance é excelente, com framerate constante e sem travamentos. As animações de magias, ataques e habilidades especiais funcionam com fluidez, mesmo quando existem muitos inimigos na tela.
A trilha sonora segue o sentimento cativante de Children of Morta, e consegue dar ainda mais intensidade para a narrativa e para os combates. A única voz do jogo é a do narrador e a sua apresentação é incrível, conseguindo dar peso e intensidade para a narrativa, fazendo dela um elemento essencial para a qualidade do título. Não se trata apenas de andar e matar inimigos, existe uma trama incrível movendo esse mundo, e o papel do locutor é essencial para isso.
Existem alguns problemas de áudio no final de algumas falas, que acabam sendo cortadas, mas nada que atrapalhe a experiência.
Opinião
Children of Morta foi uma grata surpresa, comecei a jogar sem muita expectativa e me surpreendi demais. O jogo apresenta uma história interessante e que funciona de forma natural com sua jogabilidade, que é divertida e cheia de possibilidades para o jogador, que entra num ciclo viciante de exploração e melhoria de personagem.
Instantaneamente, estamos imersos na história dos Bergson e dispostos a ajudá-los na luta contra a Corrupção.
O visual Pixel Art do jogo funciona muito bem com o universo proposto pelo estúdio Dead Mage e, apesar da simplicidade dos seus gráficos, oferece muita complexidade para o mundo de Children of Morta e sua experiência viciante. Um jogo que, certamente, precisa estar no radar dos amantes de um bom Dungeon Crawler.