Indivisible é o segundo, e talvez mais ambicioso, trabalho da Lab Zero Games. O jogo é uma mistura de RPG com plataforma, inspirado em clássicos como Valkyria Profile e Metroid. Nele, acompanhamos a história de uma jovem guerreira em uma épica jornada para salvar o mundo. Confira nossas impressões.
A odisseia de uma pequena grande guerreira
Indivisible coloca os jogadores no controle da jovem guerreira Ajna. Criada no pequeno vilarejo de Ashwat, sua vida alternava entre o trabalho rural e os rígidos treinamentos de combate de seu pai, Indr. Os treinamentos em combate eram tão rigorosos que eram frequentemente motivo de discussão entre pai e filha, pois a jovem não entendia a necessidade de realizá-los. Mal sabia ela a importância que esses treinamentos teriam em sua vida.
Foi após fugir de mais uma discussão com seu pai, que a jovem testemunhou seu vilarejo ser atacado pelo exército do tirano Ravannavar. Sua vida então virou de cabeça para baixo, e Ajna foi tomada pela sede de vingança. Ravannavar precisava pagar pelos seus atos. O que a jovem não contava era que sua busca acabaria se tornando uma verdadeira odisseia para salvar todo o mundo.
Não é lá a história mais original que você vê por aí. Todavia, Indivisible não se trata de uma história apenas. Em sua jornada, Ajna encontrará vários personagens com as mais variadas histórias e personalidades, enriquecendo a trama do jogo. As resenhas são garantia de momentos cômicos e marcantes.
Um por todos e todos por um
Logo ao início do jogo, Ajna libera um poder oculto, a habilidade de absorver pessoas. As incarnações, como o jogo chama, vão parar dentro da cabeça de Ajna, que se torna um tipo de templo. Ajna consegue conversar mentalmente com as incarnações e invocá-las a qualquer momento. São, ao menos, 10 personagens (eu liberei 14) que você encontrará pelo caminho.
É uma quantidade considerável de personagens, mesmo para um RPG, e a Lab Zero teve todo o esmero para justificar a presença de cada um nesta aventura. Além de, obviamente, ajudar nas batalhas, as incarnações possuem um papel fundamental na formação da nossa heroína.
Ajna é bondosa, justa e destemida, mas também ingênua e inocente. Sempre disposta a ajudar o próximo, a jovem não consegue enxergar quando estão se aproveitando de sua boa vontade ou quando suas ações estão mais prejudicando que ajudando.
Aí, entram as incarnações. Dando conselhos, corrigindo seus atos, ou simplesmente sendo um ombro amigo nos momentos mais difíceis. A bela Thorani, por exemplo, vê Ajna como uma filha e está sempre disposta a ajudá-la. A excêntrica Razmi está sempre pegando no pé, como uma irmã mais velha. Ou Dhar, um guerreiro com coração de pedra, mas sempre presente para resgatar nossa heroína de qualquer perigo. Todos estão dispostos a ajudar de alguma forma.
Um dos pontos mais altos de Indivisible são os laços que se criam entre a protagonista e seus companheiros ao longo de sua jornada. Se tornam uma família, e você acaba se sentindo parte dela. Testemunhar o amadurecimento da jovem Ajna é gratificante. A jovem vai amadurecendo, seja pelos conselhos de suas incarnações, ou com as feridas da vida.
Algo que acaba destoando é que, devido a grande quantidade, um ou outro personagem acaba não tendo lá uma grande relevância. Tipo aquele primo(a) de terceiro grau que você tem? Pois é, você sabe que ele(a) existe, mas não rola aquela conexão.
Um RPG meio diferentão
Quando a Lab Zero anunciou Indivisibile, veio aquela pulga atrás da orelha. Afinal, seu primeiro trabalho foi um jogo de luta e, simplesmente, resolvem criar um jogo de RPG. O detalhe aqui que não se trata de um RPG tradicional. Na verdade, está mais para um metroidvania com elementos de RPG.
A cartilha de um metroidvania é seguida a risca. É um plataforma com um grande mapa interconectado. Inicialmente você pode até tentar explorar o máximo, mas vai acabar esbarrando em algum elemento que o impedirá de avançar. É preciso proceder na campanha, ganhar uma habilidade nova que o permitirá explorar aquele ponto lááá atrás, que até então era inalcançável. Se você conhece o gênero, não terá problemas por aqui.
Todavia, o que torna Indivisible um jogo único está no seu peculiar sistema de batalha. Ao aproximar-se de um inimigo, o jogo muda para o modo de batalha, que lembra um RPG de turnos. Para tomar uma ação, é preciso aguardar círculos que ficam abaixo de cada personagem serem preenchidos. Cada círculo representa um botão do controle. Dependendo da posição do personagem, você verá os botões: A,B,Y e X. As ações dos personagens podem ser de ataque ou cura. Apertar o botão segurando o direcional para baixo ou para cima realiza uma ação diferente.
A sacada nas batalhas é você criar combos longos para causar o maior dano possível nos seus inimigos. O jogo mostra dos dígitos do dano mudando de cor, indo do branco ao vermelho, que é quando os danos são maiores. Causar e receber dano enchem uma barra no topo da tela, que libera um especial ao apertar RB + o botão do personagem escolhido.
E se por um lado ter muitos personagens acabou sendo um problema no enredo, aqui é uma vantagem. Você pode montar sua equipe com até quatro integrantes para criar os combos mais variados. Alguns personagens realizam vários ataques de uma vez, mas tem dano baixo, enquanto outros com dano mais elevado realizam apenas um ataque por comando. Você vai perder um bom tempo para montar seu dream team.
Para evitar que as batalhas tornam-se algo repetitivas, a Lab Zero também tratou de diversificar os inimigos do jogo. Alguns precisam de condições específicas para levarem dano. Inimigos voadores exigem um membro de sua equipe possua ataques a distância. Uns só sofrem dano físico, outros somente dano mágico. Isso sem falar nas batalhas contra chefes, que são super bem boladas. Você precisará rodar bem o elenco de personagens para superar cada situação imposta pelo jogo.
Percebam que até então não há lá muita coisa de RPG. Tirando o fato de que cada personagem precisa esperar seu turno carregar, o outro elemento de um é ganho de experiência para que seus personagens subam de nível. Você não consegue realizar distribuição de pontos em atributos. É subir de nível para ganhar mais pontos de vida e aumento de dano. Só!
Direção de arte de primeira
Assim como Skullgirls, Indivisible possui gráficos em 2.5D. Apesar da Lab Zero ser um estúdio indie, ela não faz feio na parte visual. O jogo possui cenários coloridos e bem detalhados, mas o destaque mesmo são o modelo de seus personagens. Todos desenhados a mão, frame por frame. Quase tão impecável quanto Cuphead.
Para um toque AAA na obra, a Lab Zero fechou parceria com os consagrados estúdios de animação Titmouse e TRIGGER. Responsáveis pelas cenas não interativas, os estúdios mostram seu cacife com uma bela versão anime do jogo. Entretanto, algumas engasgadas ocorreram da transição do gameplay para as cenas não interativas, mas nada comprometedor.
A parte sonora não fica atrás. Apesar dos diálogos ocorrerem por caixas de texto, Todas falas com personagens principais estão dubladas. A dublagem (em inglês) por sinal é extremamente competente. Os dubladores conseguem transmitir o sentimento em cada linha, tornando extremamente prazeroso ouvir cada diálogo.
A Lab Zero não pisou na bola e trouxe Indivisible com legendas pt-br!
Opinião
Sem muito alarde, Indivisible se mostrou uma grata surpresa para um ano recheado de jogos excelentes. É uma experiência imperdível para fãs de uma boa história. A jogabilidade traz uma boa mistura de metroidvania e RPG, com um sistema de batalha bem dinâmico. A direção de arte é um show a parte.
Há alguns problemas técnicos, como engasgos na transição de algumas animações (mesmo no Xbox One X). Mas se tivesse de apontar um defeito, é que assim como toda grande aventura, uma hora ela acaba.