Vambrace: Cold Soul é o segundo trabalho da desenvolvedora Indie Devespresso Games para Xbox One. Sua primeira obra a chegar à família Xbox foi The Coma: Recut. O jogo mistura elementos de roguelite, exploração e sobrevivência com uma rica narrativa. Confira o que achamos desta gélida e árdua aventura.
O bracelete misterioso
Vambrace: Cold Soul coloca os jogadores no controle de Evelia Lyric. A história se inicia com nossa heroína recebendo a notícia da morte de seu pai, com o qual sempre teve uma relação superficial. As únicas lembranças que Evelia tem de seu pai é do árduo treinamento que ele a obrigara realizar, mas que foram de muita ajuda em várias situações de perigos. Mal sabe ela que precisará usar tudo o que aprendeu para sobreviver ao que está por vir.
Ao prestar condolências no tumulo de seu pai, Evelia descobre que uma carta, juntamente com um artefato, foram deixadas como herança para ela. Na carta havia o destino deixado por seu pai: a congelante cidade de Icenaire. O artefato deixado por ele era a Vambrace, uma braçadeira aparentemente comum, que deveria ser levada para esta jornada. Inesperadamente, uma vez que Evelia colocara a braçadeira em seu braço, a mesma não podia ser mais removida.
O que estará aguardando pela nossa heroína em Icenaire? O que seria a braçadeira deixada por seu pai? Ou mais importante ainda: Quem de fato era seu pai? Seriam todos esses questionamentos respondidos? Essa é apenas da ponta do iceberg da história de Vambrace: Cold Soul. Logo o jogador descobrirá que a trama vai muito além do destino de nossa heroína, envolvendo o futuro de várias vidas.
A cidade subterrânea
Icenaire parece ter saído direto de Games of Thrones…sério! A cidade fora amaldiçoada com uma praga que trouxe um inverno eterno ao lugar. Os mortos levantaram de seus túmulos como espectros e lembram bastante os vagantes brancos. E se isso não é o bastante para você, uma muralha mágica de gelo foi levantada bloqueando a cidade. Ninguém entra, ninguém sai. Aqueles que tocarem na muralha são congelados vivos. Os sobreviventes vivem agora isolados em Dalearch, região subterrânea logo abaixo de Icenaire.
O local é habitado por povos de várias raças diferentes. Anões, Elfos, humanos, Foxies (raposas humanoides), entre outras raças populares em jogos de fantasia. Cada raça tem um papel na cidade, e confesso que são um tanto clichês. Os elfos, por exemplo, são responsáveis pela ala médica do jogo. Fazem uso de seus poderes arcanos para curar os feridos e enfermos. Anões cuidam de todo maquinário de Dalearch. São suas criações que fazem a cidade funcionar. Os Foxies cuidam de todo o comércio. Cada figura tem um papel importante.
É em Dalearch onde o jogador passará boa parte do jogo. Lá, Evelia comprará provisões, criará equipamentos e recrutará aventureiros para as expedições na superfície. Muito além disso, o jogador logo perceberá que Dalearch possui um lado obscuro. As facções tentam tirar proveito da forasteira Evelia para seu próprio benefício. Como os anões, por exemplo, que são extremamente puristas, e veem todos que não são de sua raça com desprezo e preconceito. Muitas missões secundárias envolvem essa facções. Para deixar tudo mais interessante, o jogo é cheio de escolhas morais. Ajudar personagem X pode ser vantajoso agora, porém, pode significar a morte de personagem Y mais a frente.
Calma, aí! Tudo bem que Dalearch é importante, mas, como Evelia chegou lá se a cidade fica dentro da muralha de gelo que congela aqueles que a tocam?!?!?!
Não vamos estragar a surpresa, não é?
A loteria mortal
Após abastecer seus suprimentos e recrutar soldados, Evelia está pronta para ir a superfície e desbravar a perigosa Icenaire. Cada capítulo do jogo leva para uma determinada localidade da cidade congelada. O objetivo é bem simples: chegar de ponto A a B. Porém, o percurso até seu destino está repleto de monstros, armadilhas e, quem sabe, tesouros.
Para avançar pelas vielas o jogador deve sempre estar atento ao dois aspectos dos membros de sua party: Pontos de vida de pontos de vigor. Pontos de vida podem ser perdidos em batalhas diretas contra inimigos ou em armadilhas que encontramos pelo caminho. Pontos de vigor são gastos cada vez que avançamos pelo cenário ou, também, em armadilhas. Se os pontos de vida ou de vigor chegarem a zero, o personagem morre, se no caso for Evelia, é game over. Você volta para Dalaerch e precisa recomeçar sua expedição.
Aí você pensa: “Ah, é só refazer o caminho que percorri que já estarei preparado para o que está por vir, certo?”
ERRADO!
Vambrace é mais um jogo que faz uso da criação de mundos procedurais. O percurso pode até permanecer o mesmo, mas os eventos certamente serão outros. É interessante que a Devespresso deixou vários caminhos para o jogador escolher até seu destino. Aquela história de todas as estradas levam a Roma, e nem sempre o melhor caminho é o mais curto. Imagina que uma rota fará apenas 3 usos de vigor, enquanto outra 5 pontos. Porém, a rota mais curta está repleta de inimigos e armadilhas, já a mais longa possui vários tesouros, mercadores e, até, aliados. Acaba que tudo vira uma grande loteria e sua party deve estar bem preparada para qualquer possível percalço. E nada de tentar burlar o sistema. Mesmo que você escolha uma rota, viu que não era muito boa e pensar “vou desligar o console recomeçar pela outra“, lamento dizer que não irá funcionar. O jogo não salva o progresso assim que você começa uma expedição. Uma vez que iniciou, precisa terminar, seja concluindo o objetivo ou falhando no meio do caminho.
Uma avalanche de informações
A Devespresso fez um ótimo trabalho em criar um mundo rico em detalhes com Vambrace: Cold Soul. Você encontra informações de praticamente tudo em vários manuscritos deixados pelo jogo, sem falar dos tutoriais. É conteúdo sobre a história de Icenaire e os povos que lá vivem, rixas entre clãs, a origem da muralha de gelo… Você vai gastar boa parte do seu tempo treinando seu inglês com vários textos. É, isso mesmo, o jogo não está localizado em nosso idioma.
O problema é que tudo é jogado de uma vez no seu colo. Para piorar, a HUD não é lá muito intuitiva. Por exemplo: Para montar seu grupo, é preciso escolher recrutas com os melhores atributos possíveis, obviamente. Aquele com mais pontos de vida para aguentar porrada dos inimigos. Um que possua dano alto. Outro que seja um bom negociante para pechinchar de mercadores. O problema é que tais atributos são representados por símbolos, que, acredite, vão confundir muito sua cabeça. Sim, você vai ter que decorar esses símbolos por bem ou por mal, para poder ter sucesso no jogo.
Certamente é algo que frustará muitos jogadores, principalmente no início, pois a curva de aprendizado é bem alta. Durante a análise, resolvi recomeçar o jogo quase na metade para “reaprender” tudo. Acabou se tornando bem menos frustrante que na primeira jogatina. Mas nem todo mundo terá paciência para isso, principalmente quando a leitura (em inglês) é essencial para o entendimento do todo.
Opinião
Vambrace: Cold Soul possui muitos pontos positivos. Um mundo repleto de informações mostra o árduo trabalho da Devespresso em criar um universo único. Seus gráficos em 2D são muito bem detalhados, com traços que lembram um pouco mangás e animes. Certamente o ponto alto é sua história, que prende o jogador graças aos seus mistérios e reviravoltas.
Porém, o estúdio peca em jogar várias informações e mecânicas de uma só vez. Some isso a dificuldade alta (mesmo no nível “normal”) e uma HUD que mais confunde do que informa, e logo poucos jogadores acabarão por tentar avançar no jogo.