Lançado anteriormente em outras plataformas, Salt and Sanctuary é mais um souls-like que debuta no console da Microsoft. O jogo do estúdio indie Ska Studios busca criar seu próprio Dark Souls em um intrigante mundo 2D.
A ilha misteriosa
A jornada de Salt and Sanctuary inicia dentro de um navio. Você deve assegurar que a princesa chegue em seu destino como símbolo de paz, e falhar nesta missão arruinaria o futuro de todo um reino. Como não poderia ser diferente, as coisas não acabam bem no navio e nosso personagem acaba acordando na costa de uma misteriosa ilha.
Você perdeu seu navio, não sabe onde se encontra e ainda precisa achar a tal princesa. O jogador precisa se virar para completar a missão que acaba de se tornar mais árdua. Conforme você vai explorando a ilha, conhece NPCs que irão ajudá-lo em sua jornada, seja dando dicas do que fazer ou para onde ir, seja negociando equipamentos e magias. Para deixar as coisas ainda mais interessantes, a ilha é recheada de criaturas grotescas e letais, que não terão pena do jogador.
O início da trama de Salt and Sanctuary é bem interessante. Quem ordenou o ataque ao navio? Em que lugar o jogador se encontra? A princesa estará viva? São questionamentos que podem despertar a curiosidade do jogador, que se tornam ainda mais interessantes com as novas informações que são fornecidas por NPCs. Será você forte o bastante para descobrir a verdade?
Muito mais que uma cópia
Dizer que Salt and Sanctuary é apenas um Dark Souls em 2D seria uma imensa injustiça com o jogo da Ska Studios. Claro, o jogo é fortemente inspirado na franquia da From Software, mas aqui não é um caso do famoso “copia, mas não deixa igual”. O jogo parece mais uma homenagem e consegue criar uma identidade própria.
Antes de iniciar sua jornada é preciso criar seu personagem. Existem diversas classes, com vantagens e desvantagens, além de atributos distintos. Mas assim como acontece em Dark Souls, você pode muito bem iniciar com um cavaleiro, e se tornar um mago, ou vice versa. Há uma árvore de habilidades na qual o jogador deverá gastar os pontos ganhos ao subir de nível. Existem ramificações mais voltadas para magos, guerreiros, arqueiros etc. Distribua pontos em uma ramificação ou em várias simultaneamente, você quem decide o futuro de seu personagem.
Você facilmente se perderá ao explorar a ilha de Salt and Sanctuary, uma vez que não há mapa ou indicadores de que caminho se deve seguir. Existem muitas passagens secretas, rotas alternativas e caminhos subterrâneos. Você deverá seguir seu instinto e ficar atento as metáforas que os NPCs contarem. Se você ver uma garrafa com um bilhete dentro, não deixe de ler. Pode ser a mensagem que um outro jogador deixou para ajudá-lo… ou não.
O santuário será seu porto seguro. São localizações onde o jogador retornará quando cair em combate, como um checkpoint. Nele, o jogador poderá subir de nível e conseguir itens com mercadores, ferreiros, magos e jurar lealdade a um credo. Uma sacada interessante é que, quem decide quais NPCs estarão em um santuário é o próprio jogador. Você encontra pedras com formato do NPC que o interessa e oferece no santuário, invocando então o tal NPC.
Mas é preciso parcimônia, pois essas pedras não são itens permanentes e para usar em um outro santuário, só encontrando uma outra pedra do mesmo NPC. Também é preciso estar atento pois os santuários tem limitação do número de NPCs, impedindo que mais de cinco sejam invocados em um único local.
Os credos são facções que garantem mercadores exclusivos. Milagres, magias, piromancias e outros tipos de itens poderão ser encontrados somente em um tipo de facção. Você pode mudar de facção a qualquer momento, mas tenha certeza que haverão consequências.
Percebam que listei uma série de elementos de Salt and Sanctuary que poderiam muito bem ser de Dark Souls. Os santuários seriam as fogueiras. As mensagens deixadas em garrafas, as marcas no chão. Os credos seriam as Covenants. Você percebe que mesmo pegando elementos de Dark Souls, a Ska Studios buscou pela originalidade e fugiu da tentativa de lançar mais um jogo genérico que surfa na onda dos souls-like.
Desapega, desapega…
Para que os jogadores consigam sobreviver às adversidades de Salt and Sanctuary, um elemento nunca poderá faltar: o sal. É ele que será a moeda de troca para adquirir itens, melhorar equipamentos e subir de nível. São equivalentes às almas de Dark Souls. E pode se preparar, você vai perder muuuuuito sal.
Não é nem uma questão de “se você irá morrer”. Você vai! A pergunta é quando? E é bom sempre ter cautela com a quantidade de sal que estiver carregando enquanto perambula pelos cenários. Mas inevitavelmente você cairá pelo motivo mais besta do mundo e com uma quantidade considerável de sal.
Você vai se frustrar pensando: “eu deveria ter subido de nível”, “deveria ter melhorado aquela arma”. NÃO! Esqueça isso. Diversas vezes me peguei nessa situação. A vontade era de jogar o controle bem no meio da TV. Mas se tem uma coisa que aprendi jogando jogos do gênero souls é ter paciência. Esquecer o que perdi e buscar procurar uma nova maneira de superar um obstáculo. Talvez essa seja a verdadeira essência de um bom souls-like!
Gameplay
Uma das principais características dos souls-like é a jogabilidade baseada na estamina. Qualquer ação como correr, esquivar, pular ou atacar gasta uma parcela de sua estamina. Se você não tiver paciência e gastar tudo de uma vez só, acabará levando um tempo maior que o normal para poder realizar uma nova ação. Assim o jogador fica coma defesa aberta e se torna um alvo fácil dos inimigos.
Salt and Sanctuary não é diferente. Você tem ataques fortes, fracos, bloqueios etc. Cada ação gastando sua parcela de estamina e é preciso calcular bem seus movimentos. Quanto mais pesado forem seus equipamentos, mais pontos de estamina serão necessários. Dependendo do nível do seu personagem e do peso da arma, basta um golpe para que sua energia se esvazie. Enquanto armas mais leves possibilitam combos de ataques quase intermináveis. Tudo vai do gosto do jogador e, claro, da melhor estratégia para derrotar um inimigo.
Quando falei que o jogo dava liberdade para o jogador moldar seu personagem, era exatamente sobre isso que estava falando. Inicialmente usava um espadão de duas mãos para dar cabo dos inimigos e me saia muito bem, obrigado. O dano massivo compensava a falta de mobilidade e eu limpava cenários sem problemas. Até que…encontrei um chefe bem ágil, onde meu espadão acabou por ser inutilizado por mal conseguir acertar golpes ou escapar de ataques devido a minha lentidão. Sofri bastante até mudar de estratégia, muito devido a teimosia é verdade. Mas uma das coisas mais bacanas é sair da sua zona de conforto para superar um obstáculo.
Troquei o espadão por uma katana extremamente ágil. Não deu outra. Bastou algumas chances para derrotar o chefe sem praticamente levar dano. O mesmo vale para outras classes como magos, arqueiros etc. Você deve se adaptar a situação em que se encontra para sair com vida.
Não julgando livro pela capa
A primeira vez que vi um trailer de Salt and Sanctuary eu pensei: que jogo feio! Não vou jogar. Por mais que soubesse que era do gênero souls-like e que muitos amigos elogiaram quando jogaram…a parte artística do jogo acabou se tornando uma grande barreira. Para minha surpresa, a Ska Studios pode não ter investido na parte artística, mas caprichou nas animações. Decepar inimigos, pisar em suas cabeças, impala-los…há uma boa diversidade de animações muito bem feitas que acabam dando uma grande satisfação.
Outra surpresa agradável é na ambientação do jogo. Cenários em tons de cinza que aumenta o ar misterioso da ilha do jogo. São detalhes difíceis de perceber se você não está realmente experimentando o jogo e apenas vendo imagens ou trailers.
Fechando o pacote está a trilha sonora. Em lutas contra chefes você perceberá heavy metal pesado que ajudam a aumentar a adrenalina durante as intensas batalhas. Quando chega em um santuário, melodias calmas proporcionam momentos de paz após passar por maus bocados.
Opinião
Se você se pegou imaginando se seria possível jogar Dark Souls em 2D, Salt and Sanctuary é sua resposta. Muito além de um mero souls-like, o jogo se destaca por conseguir trazer uma experiência bem original com o que há de melhor no gênero. O jogo ainda conta legendas em nosso idioma!
Mas sua grande pedra no sapato é a parte artística. O jogo não é de encher os olhos a primeira vista, mas que guarda uma beleza oculta.