Após 12 anos de um amargo recesso na franquia Ace Combat, um novo jogo surge com a promessa de trazer a superioridade da série, no quesito combate aéreo. O último jogo da franquia, considerado um spin-off (quando não faz parte da história principal) dividiu opiniões sobre as decisões de jogabilidade tomada.
E agora, a franquia Ace Combat volta aos trilhos ou toma novos rumos?
Ace Combat 7: Skies Unknown traz de volta aos jogadores o mundo fantasioso de StrangeReal. Para os fãs, o nome diz muito. Para quem não conhece, eu explico: StrangeReal trata-se do fictício mundo da franquia Ace Combat, onde guerras foram travadas, nações foram criadas, monarquias se levantaram, e tudo em um mapa do mundo que só existe nesta série. Ou seja, sim, Ace Combat 7 retorna ao eixo principal da narrativa e faz menção a nações presentes em jogos passados da franquia, inclusive situações que mudaram o curso da história.
Para os fãs, é incrível poder ter toda aquela história de antes, sendo aqui retratada e ganhando progressão. Para os recém-chegados, tudo bem. O jogo se explica direito e não se faz necessário ter jogado o Ace Combat 5 ou Ace Combat 6 para entender o Ace Combat 7. Que isso fique muito claro, pois, é interessante ressaltar que a franquia tem uma história densa, pesada, conturbada e não raras vezes, de teor político.
War. War never changes.
Você joga com Trigger, que só recebe este nome após um certo avanço na história. É interessante entender o enredo desde o começo, pois o jogo faz umas reviravoltas que podem confundir. A narrativa do jogo se dá por várias visões, e em determinados momentos, o jogo é narrado durante as cutscenes pelo próprio “vilão”. Eu coloquei entre aspas porque, como eu disse, são muitas reviravoltas.
O jogo te prende na história, tornando tudo a sua volta um motivo para batalhar. Até um simples movimento do governo de outro país já significa colocar o caça em voo. Por vezes, você até entra numa questão filosófica se, tudo isso, era realmente necessário…. mas é aquela velha máxima: Guerra. A Guerra nunca muda. Mas esse é outro jogo, fica pra outro dia.
A história guarda ainda uma revelação nos instantes finais, que irá agradar aquele fã mais assíduo de Ace Combat. Se você, meu querido leitor, já jogou os antigos “Unsung War” e “Belkan War“, você se sentirá representado aqui. Um único nome que irá tirar o seu fôlego e, óbvio, que não direi quem é.
Jogabilidade Ace
A jogabilidade de Ace Combat torna tudo mais agradável e combativo. Você se sente realmente no comando da aeronave, a todo instante.. a não ser que você seja atingido por raios. E eu já entro nesse ponto.
A aeronave tem duas formas de ser controlada. Na forma “Padrão” você tem o eixo fixo da aeronave. Seria como pilotar um carro, é só escolher o lado que a aeronave faz a curva, sem muitas dificuldades. É recomendado exclusivamente para pessoas que não tem muita habilidade em controlar aeronaves em jogos. Já na forma “Especialista” a aeronave não tem eixo fixo então você pode livremente controlar, para qualquer direção, em qualquer ângulo. Esse é o modo que eu indico aos jogadores mais familiarizados da série jogarem.
Na forma “Especialista” você tem o total domínio da aeronave, seja para ataques ou defesa aérea. Para fazer as curvas, você precisa colocar a aeronave em 90 graus e só isso já dificulta muito a ação do inimigo. De forma resumida, o “Padrão” seria a forma de controle aéreo de Ghost Recon Wildlands e a “Especialista” seria mais voltado pro controle aéreo de GTA 5.
Durante as missões, além dos inimigos, você terá outra situação para se incomodar. Nuvens carregadas, que atrapalham totalmente sua visão, além das correntes de ar, que tiram completamente sua aeronave do controle de eixo. As nuvens podem ainda descarregar um raio direto na aeronave, tirando-a totalmente de controle e te deixando completamente sem aparelhos. Por alguns instantes, após ser atingido por um raio, você irá ficar sem instrumentos, impossibilitando você de mirar nos inimigos, perceber a direção dos misseis enviados pelos inimigos, bem como a altitude da aeronave. São segundos de tensão que podem resultar numa queda abrupta da aeronave, uma vez que dentro da nuvem você enxerga muito pouco e estará sem instrumentos? Boa sorte.
Os raios e as correntes de ar são completamente randômicas, não dá pra memorizar um ponto do mapa onde elas irão acontecer, por que são movimentos aleatórios durante as missões. Fica a dica: antes das missões, rola uma prévia do que será necessário para concluí-las. Preste atenção pois na lateral esquerda da tela você tem informações que detalham mais sobre a meteorologia daquele momento.
Olha que chão bonito… caí.
A frase acima é cômica, mas tem seu intuito: enquanto eu olhava a paisagem e notava o quão detalhado era o mapa, a minha aeronave caiu. Os mapas são gigantes e tem diferenças entre missões. Se você, neste momento, está se perguntando se há uma missão dentro dos cânions, sim, há. E eles são lindos, gigantescos e perigosos. Inclusive, há uma missão nas montanhas, que são lindas, só não dá pra ficar apreciando muito a paisagem, pois são íngremes e você vai, assim como eu, se dar mal.
Infelizmente, essa beleza não foi repassada ás aeronaves. Elas são graficamente fracas e com poucos detalhes. Quando estamos na tela de escolher a aeronave, e aproximarmos a câmera, podemos perceber que os gráficos estouram, o que impossibilita, até mesmo, você de ler o que está escrito na fuselagem. Poderia ter sido melhor detalhado, já que as são as aeronaves as verdadeiras protagonistas deste jogo.
O mesmo eu não posso falar das cutscenes que, apesar de parecerem um tanto quanto melancólicas as vezes, são muito bem escritas e narradas. Os personagens detalham bastante cada situação e um pouco de si mesmos, com coisas que você só vai descobrir mesmo quando já tiver avançado bastante no jogo.
E essa trilha sonora de Halo aí?
Essa pergunta eu me faço sempre quando me deparo com algo orquestrado e feito com muito esmero. As músicas que tocam durante as missões são incríveis e trazem tensão aos acontecimentos, deixando tudo ainda mais emocionante. Ainda mais se você tiver durante uma “boss fight“. Sim, eu disse que era a volta do bom e velho Ace Combat. São musicas memoráveis que você pode acessar depois no menu.
O jogo está apenas legendado e isso é um grande defeito. A maioria das conversas acontece entre pilotos, durante as missões, e como o jogo está apenas legendado, você precisa desviar sua atenção para ler o que está rolando e isso é chato. Por vezes, você se vê em situações de risco porque tenta acompanhar a história e o papo dos pilotos. Seria muito mais interessante que fosse dublado, pois assim daria para acompanhar as conversas mesmo durante as missões, e sem tirar o foco do principal.
Multiplayer insosso
O modo multiplayer, que é uma novidade dentro da franquia, me decepcionou. Há dois modos de jogo apenas. O “Mata-Mata em Equipe” e o “Batalha Real”. Não confunda com Battle Royale. Em ambos os modos a tática é zero. São aeronaves girando loucamente em círculos mandando misseis aos montes.
Eu até tentei, pra desviar de um míssil, ir pras nuvens e taticamente atacar o inimigo por trás mas, ninguém veio tentar me abater. Eles se mantiveram rodando entre eles, num círculo bobo, mandando misseis e misseis na esperança de alguém acertar alguém e assim obter pontos para ganhar a partida. Não raramente a partida acaba pelo tempo, do que por acumulo de pontos. Seria muito mais proveitoso, interessante e divertido, se a produtora tivesse optado por cooperativo ao invés de competitivo. Talvez no próximo Ace Combat.
A forma de obter aeronaves no jogo impacta diretamente no multiplayer. De acordo com o que você conclui nas missões (e partidas do multiplayer) você ganha pontos que são basicamente a moeda do jogo. Você pode obter novas aeronaves e também novos armamentos para estas aeronaves. Olhando assim é simples, porém, vem a parte ruim: as aeronaves estão dispostas por ramificações. Você precisa definir quais você quer, antes de sair comprando qualquer uma.
Eu gosto muito do F22 Raptor, do Black Widow, que são aeronaves americanas, e estas estavam em uma ramificação diferente da que escolhi para início. Eu optei por comprar os caças russos Mig 29 Fulcrum e por sua vez o Sukhoi e, desta forma, eu finalizei minha ramificação no Su-47 Berkut e Su-57, do programa PAK FA. Mas me faltou pontos para obter os caças americanos. E não foram poucos pontos não, foram muitos. Eu teria que basicamente jogar mais da metade do jogo novamente.
De certa forma, isso fortalece o replay, afinal, para obter todas as aeronaves do jogo, você terá de jogar e rejogar muitas vezes. Ou participar de muitas partidas online, naquele circulo odioso de zero táticas. Porém, comigo, isso não funciona. Eu não vou rejogar só pra ter o Raptor no meu hangar, e acredito que esta será a opção de uma grande maioria.
Opinião
Ace Combat 7: Skies Unknown surpreende por ter uma história bem focada no StrangeReal, que é a base da franquia e foi construída ao longo de dezenas de anos, e em outros tantos títulos, tornando este completamente canônico. É mediano em termos de gráficos e multiplayer, sendo este último completamente descartável.
Os fãs da franquia vão se sentir em casa com o andamento da história deste título e com as músicas das missões. Tudo o que o fã espera de um Ace Combat está ali, porém, ainda não é suficiente para trazer novos jogadores para o título.