A ambição é algo que pode te colocar pra frente, te fazer sair da zona de conforto, fazer você alçar vôos maiores. Na medida certa, é bom. Na medida errada, não. Pode te cegar e levar ao total desastre.
Dakar 18 é um projeto ambicioso que parte de uma brilhante ideia de recriar o rally mais difícil do mundo, onde poucos pilotos podem contar com (a vitória de) terminar as provas, almejando ser aquele que o fará em primeiro lugar. O Rally Dakar é bem conhecido entre a galera mais hardcore das provas de automobilismo, pois, exige uma destreza imensa, aliada a confiabilidade mecânica e os mais altos limites físicos. Trazer isso para os games é uma ideia muito tentadora, que exigiria muito esforço por parte da Bigmoon Entertainment em tornar isso virtualmente satisfatório.
Infelizmente a ambição acaba aí e tudo o que vem é um mar de erros grotescos e falhas significantes, que estragam o humor dos mais pacientes jogadores. A começar do tutorial: lerdo, extenso e complicado. Pior: em vídeo. O tutorial te deixa com mais dúvidas que certezas… e mesmo assim o jogo te coloca na primeira prova e “seja o que Deus quiser”. Você se sente frustrado por não ter entendido aquele longo vídeo. Eu tive que repetir o tutorial ao menos umas 04 ou 05 vezes, até ter a mínima certeza de que havia entendido algo. E, modéstia a parte, eu tenho facilidade com jogos de rally. Frustração pouca é bobagem, ainda não dá pra repetir o tutorial. Se você entendeu ou não, você precisa finalizar a primeira prova, mesmo que esta leve dias para completar. Eu tive de sair e fechar o jogo todas as vezes que quis repetir o tutorial.
Feito isso, Dakar 18 se abre a você e então você tem acesso aos campeonatos, modos e categorias. Você tem a sua disposição carros, motos, quadriciclos e caminhões. Confesso que, depois do tutorial, o que eu menos queria era saber do jogo. Ainda mais com Forza Horizon 4 me esperando na aba ao lado. Sofrido.
Graficamente, Dakar 18 nem parece ser desta geração. Aliás, não quero esculachar nem nada mas, mesmo pra geração passada ele seria fraco graficamente. O carro atravessa pedras, arbustos e algumas arvores menores. As dunas de areia não tem diferença de coloração e mesmo que você atole num banco de areia, você nunca saberá quando e como sair de um, uma vez que não tem diferença. Áreas enlamaçadas idem. Você só sabe que está na lama quando seu carro já atolou. A modelagem dos carros não é lá todo ruim mas pudera, são poucos os modelos e variações.
O áudio do jogo não recebeu atenção. Nem mesmo o carro da capa, um Peugeot 3008 DKR Maxi tem sons fiéis ao modelo original. O som ambiente é pouco trabalhado e junto com os gráficos, não fazem jus ao local visitado. Lembrando que se trata de um rally cross-country, que passa por vários países, no entanto, poucas mudanças são significativas. Nos carros, você tem o seu navegador ao lado, praticamente um co-piloto que vai lhe passando as coordenadas do caminho. Em jogos de rally é normal que ele fale muito, até porque ele precisa te dizer todas as curvas pra que você não se perca mas, em Dakar 18 é ainda pior. Fala sem parar, por vezes pede pra você ir devagar (mesmo você estando atrasado com o relógio) e ainda, fornece informações erradas. Isso me deixava muito irritado.
Em Dakar 18 o navegador fala em inglês e as legendas são em português brasileiro (com inúmeros erros também, só pra lembrar). Muito comum ele dizer pra você seguir em frente, dizer que falta 500 metros pro checkpoint, depois ele diz que faltam 300 metros e então ele lamenta pois “estamos perdidos”. “Volte ao ponto anterior”, ele diz. Dá vontade de entrar dentro da TV e pegá-lo pelo pescoço.
A jogabilidade de Dakar 18 é familiar a todo e qualquer jogador de jogos de corrida. Não há nada que vá te surpreender com um botão posicionado diferente, aqui e acolá, não. É muito simples. No entanto, o uso da vibração do controle é demasiada. Por vezes você está em uma estrada reta, a 50 km.h e parece que o controle vai cair da mão, tamanha intensidade da vibração. A jogabilidade com os caminhões é estranhamente leve e a das motos pesada, realmente eu fiz uma força pra entender o porquê, mas logo deixei pra lá, é erro mesmo.
Você pode ajudar companheiros de equipe a sair do atoleiro e pasmem, você pode sair do carro. Agora você quer ficar surpreso mesmo? Controlar o piloto FORA DO CARRO é melhor que controlar o próprio carro. A Bigmoon Entertainment deveria focar em fazer algo de mundo aberto em terceira pessoa, parece que eles levam jeito. Porém, deve se utilizar uma engine nova ou assets diferentes porque este jogo é muito feio.
Dakar 18 é um jogo com uma excelente proposta, algo que nunca alguém havia pensando antes. Talvez em gerações passadas, mas nessa não. O maior ponto positivo deste jogo é justamente a sua ideia, que foi exatamente o que me trouxe a ele. Eu vi trailers, eu vi anúncios, eu vi informações e muitas delas eu trouxe aqui para o site. Porém, a execução do plano foi infame, falhou em vários aspectos e deixou aquele sentimento ruim sobre a categoria. Que o Rally Dakar é difícil, quem é acostumado com a categoria sabe e reconhece, sim é mesmo difícil, mas, o principal propósito de um jogo de videogame creio eu continua o mesmo: divertir.
E se tem uma coisa que você não vai com Dakar 18, é se divertir.