A franquia Divinity surgiu de uma bem-sucedida e poderosa campanha no Kickstarter, onde o projeto conquistou os jogadores instantaneamente com sua proposta de ser um RPG de turnos, com uma gigantesca e complexa narrativa, que se estende para sua jogabilidade, voltada para os jogadores mais clássicos. Depois do estrondoso sucesso do primeiro jogo, que ganhou diversos prêmios ao redor do mundo, o estúdio independente Larian Studios se lançou em mais uma campanha de sucesso no Kickstarter em 2015 e arrecadou US$ 2 milhões dos apoiadores. Agora o jogo chega aos consoles com o nome de Divinity Original Sin 2: Definitive Edition, fruto de uma parceria com a Bandai Namco, que está distribuindo o jogo.
O título traz toda a sua complexidade para o Xbox One, além de uma interface de usuário feita sob medida para console, e otimizado para o Xbox One X onde se apresenta com 4K nativo e HDR.
Será que o jogo manteve a fórmula de sucesso do primeiro jogo e se mantêm com uma das melhores experiências de RPG tático do mercado? Vamos descobrir nessa análise.
Uma narrativa complexa e deliciosa de acompanhar
Complexidade é a palavra chave para tudo que existe em Divinity Original Sin 2: Definitive Edition, e isso não ficaria de fora da sua narrativa. A história se passa mais uma vez no mundo fictício de Rivellon, mas dessa vez milhares de anos antes dos acontecimentos do primeiro jogo. O que encontramos é um local abandonado pelos deuses e dominado por uma ordem de magos opressores, que prendem e torturam os usuários de magia, como o nosso personagem. Além disso, com a morte do Divino, um mal conhecido como Void se aproxima com suas criaturas monstruosas conhecidas Voidwoken.
Os sete deuses de Rivellon colocaram seu poder em uma fonte, mas que com a morte do Divino, que era a pessoa responsável pelo seu uso, ela ficou desprotegida e atraindo esses Voidwoken que querem seu poder. A Ordem dos Mestres segue protegendo a fonte, mas realiza métodos duvidosos, colocando coleiras em todos que eles considerem perigosos. Como usuário de magia, nosso personagem se sente compelido não apenas em ajudar os outros que estão sendo maltratados, mas também em impedir que essas forças nefastas consigam tal poder. Além disso, você está no caminho de se tornar um novo Divino, então se prepare para muitos desafios e pessoas tentando atrapalhar o seu caminho, mas também aqueles que tentarão te ajudar e mostrar simpatia pela sua jornada.
Para desenvolver essa história, Divinity Original Sin 2: Definitive Edition nos oferece diferentes tipos de raças com 6 personagens de origem única, que possuem suas próprias personalidades e missões pessoais. E isso tem grande impacto na maneira, não apenas que os diálogos se abrem para você lidar com os outros, mas também na atitude das outras pessoas com o seu personagem. Também é possível recrutar até três companheiros para seguirem com você e a interação com eles também é fundamental para que se criem laços de amizade, rivalidade e até mesmo um romance. Um companheiro insatisfeito com as suas ações pode até mesmo abandonar o seu grupo.
As escolhas também são importantes na progressão da narrativa de Divinity Original Sin 2: Definitive Edition, pois existem diversas maneiras de avançar nas missões e quanto mais se exploramos os lugares do mapa e conversamos com as pessoas ao redor, descobrimos pistas de como seguir, onde pedir ajuda e ainda encontra lugares e tesouros secretos. Não existe uma maneira certa ou errada de prosseguir, você deve juntar suas pistas, realizar as missões que surgem e escolher por conta própria como criar a sua aventura. Até mesmo as respostas dadas, possuem peso e elas podem fazer daquela pessoa uma aliada ou até mesmo iniciar uma batalha. Essa liberdade não só aumenta a imersão dentro da história, como também faz a progressão se tornar deliciosa, instigando nossa curiosidade de explorar diversas alternativas.
A dificuldade da jornada está literalmente nas suas mãos, pois dependendo das suas escolhas, seu caminho pode ser tranquilo ou bem difícil, tudo irá depender das suas escolhas e maneira de abordar as situações.
Outro fato curioso dessa estrutura de narrativa é a existência de um narrador durante grande parte dos diálogos, ele não se limita a falar o que está acontecendo na cena, como também passar para o jogador as emoções e o comportamentos dos personagens envolvidos nela. Algo que traz uma sensação de estarmos jogando o bom e clássico RPG de mesa, aquele com papel e caneta, onde a imaginação constrói histórias memoráveis entre amigos, e Divinity Original Sin 2: Definitive Edition traz esse sentimento com maestria.
Jogabilidade
O que assusta muitas pessoas a se aventurarem pela franquia Divinity, além da sua já conhecida dificuldade, é o seu sistema de batalhas de turnos que não é algo que agrada a todos. Eu mesmo tenho certa resistência em relação à esse tipo de combate, mas fiquei bem surpresa e satisfeita com o que vivenciei em Divinity Original Sin 2: Definitive Edition. Ele se trata de um RPG com visão isométrica, aquela onde vemos tudo de cima, e que casa perfeitamente com esse estilo mais tático. Para abraçar veteranos e novatos no gênero, o jogo oferece quatro dificuldades diferentes para o jogador escolher, seja mais focado na história ou nos combates, a escolha é sua.
Os combates são muito interessantes e cada um deles traz não apenas novos inimigos, mas também diferentes comportamentos deles e cenários diferenciados, dessa forma em cada combate você deve analisar com cautela o que fazer. Para se locomover pelo cenário durante as lutas e usar itens e habilidades gastamos AP (Action Points) e devemos analisar de acordo com os inimigos e a sequência dos ataques se iremos nos posicionar melhor, atacar, dar suporte a um companheiro ou até mesmo nos curarmos. Cada movimento deve ser analisado com cautela. E se prepare, pois, os combates são bem complexos e alguns deles costumam demorar um bom tempo. Mesmo jogando com foco na história, presenciei combates que duraram cerca de 30 minutos, o que já demonstra o nível de desafio de Divinity Original Sin 2: Definitive Edition.
Um ponto alto dos combates é a maneira como suas magias podem alterar drasticamente o campo de batalha, como por exemplo, soltar uma rajada de fogo pode causar grande dano nos inimigos, mas o rastro dele no chão pode queimar seus amigos também, outro exemplo é que você poderia conjurar uma chuva para apagar o fogo e ajudar os amigos em apuros nas chamas, mas isso iria tirar o dano infligido dos inimigos. Tudo tem peso nas escolhas de combate em Divinity Original Sin 2: Definitive Edition e isso é o que torna o jogo tão especial, pois cada passo e cada ação deve pensada com cautela, não apenas nas escolhas dos diálogos e na maneira como você interage com os outros, mas também em cada ação escolhida para ser dada nos combates. O jogo respira estratégia e tática a todo tempo, o que não apenas deve encantar os fãs do gênero, como também pode ser uma boa porta de entrada para aqueles que possuem curiosidade, mas ainda não se aventuraram por ele.
Divinity Original Sin 2: Definitive Edition também oferece um amplo sistema para melhorar e customizar o seu personagem, com Pontos de Atributo (Força, inteligência, Constituição…), Habilidades de combate, Passivas, Pontos para descobrir segredos no mapa, aumentar suas chances de sucesso nas interações sociais e até mesmo suas técnicas de roubo. Tanto essas configurações, quanto a distribuição de habilidades ativas e os equipamentos devem ser personalizados para o seu personagem e também para aqueles que estão no seu grupo. Então não adianta deixar apenas o seu personagem forte para ter sucesso, você deve melhorar todos os seus companheiros.
Assim como no primeiro jogo Divinity Original Sin 2: Definitive Edition também oferece a oportunidade de jogar com outros jogadores toda a campanha de forma cooperativa. Existe a opção de jogar local (até 2 jogadores) ou online (até 4 jogadores), e o jogador convidado irá entrar no seu jogo e tomar total controle sobre um dos seus companheiros. Essa interação com os outros é muito bacana, com total liberdade para explorar e descobrir segredos para o jogo do host. Essa liberdade também deve ser dada com cautela, pois ele estará sob controle de um personagem seu, então eu recomendo que deixe o seu jogo aberto apenas para amigos ou por convite, assim você evita problemas e garante sua diversão. O sistema é baseado no sistema de host, então o progresso fica salvo apenas para a conta de quem está no controle da sessão.
Já o Modo Arena traz o componente competitivo ao jogo, pois nele você pode enfrentar outros jogadores e assim testar suas habilidades. Se não desejar enfrentar outros jogadores, você também pode se testar contra a IA do jogo, que também chega com tudo para cima de você.
Gráficos e Som
Graficamente, Divinity Original Sin 2: Definitive Edition se apresenta muito bem, com cenários belíssimos, cheios de detalhes e ambientações bem diferenciadas, o que aumenta a vontade de explorar e descobrir mais desses lugares impressionantes. Os efeitos das magias estão incríveis, oferecendo um deleite aos olhos quando são lançadas. Os personagens também estão muito bem representados, assim como as roupas e armas, que estão bem desenvolvidos.
Mas nem tudo são flores, o jogo apresentou alguns travamentos durantes os combates, principalmente antes de derrotar um inimigo ou soltar uma magia com grande área. Nada que atrapalhasse a jogabilidade, mas ainda assim algo irritante quando acontecia.
A trilha sonora de Divinity Original Sin 2: Definitive Edition, assim como os efeitos de cenário funcionam bem e são inseridos na hora e momentos certos, o que enriquece ainda mais o gameplay. A dublagem dos personagens é impecável, com vozes que combinam perfeitamente e trazem as emoções corretas para cada situação, o que traz ainda mais imersão para a narrativa.
Infelizmente, o jogo não possui legendas em Português do Brasil, o que irá prejudicar imensamente quem não possui entendimento dos idiomas suportados (Inglês, Francês, Alemão, Russo, Polonês, Espanhol e Chinês), o que é uma pena, pois o jogo tem um foco imenso nos diálogos e muito pode ser perdido com essa falta de suporte para os brasileiros. Bola fora!
Opinião
Divinity Original Sin 2: Definitive Edition traz uma experiência profunda para aqueles que gostam de um desafiador sistema de combates por turnos. O jogo ainda surpreende com um sistema de escolhas e consequências que realmente possuem impacto na progressão do jogador, permitindo diversas maneiras de avançar.
Assim como o primeiro Divinity é um jogo para ser aproveitado por muito tempo, pois seu intricado e vasto conteúdo não é fácil de completar, e a sua complexidade demanda bastante tempo para que o jogador realmente avance na história, o segundo jogo aprimora ainda mais esse sistema. Mesmo que pareça algo afugentador, ele é um jogo que vai conquistar em cheio os fãs dos gênero, e que curtem experiências de longo prazo.